A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

13 de julho de 2012

Death is a beautiful car only

Death is a beautiful car parked only
to be stolen on a street lined with trees
whose branches are like the intestines
of an emerald.

You hotwire death, get in, and drive away
like a flag made from a thousand burning
funeral parlors.

You have stolen death because you’re bored.
There’s nothing good playing at the movies
in San Francisco.

You joyride around for a while listening
to the radio, and then abandon death, walk
away, and leave death for the police
to find.


A MORTE É UM BELO CARRO PARADO SÓ

A morte é um belo carro parado só
para ser roubado numa rua com árvores
cujos galhos são como os intestinos
de uma esmeralda.

Você arromba a morte, dá a partida e segue
como uma bandeira feita de milhares de
funerais flamejantes.

Você roubou a morte por puro tédio.
Não tem nenhum filme que preste passando
em São Francisco.

Você dá uma volta enquanto escuta
o rádio, aí abandona a morte, vai
embora, deixe que a polícia a
encontre.

Richard Brautigan

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