este fosso entre a fossa e o que fosse
esta tralha que se espalha no horizonte
esta espinha que entala na garganta
este R que arranha quando rosna
este S escorrega quando soa
esta boca que profere tantas letras
iletradas soletrando sonolentas
este mundo alfabeta alfabetos
são palavras estas coisas que falamos?
são palavras que só querem ter sentido?
só quereres que se querem com mais força?
ou se calam quando falta algo dentro?
dos dizeres destas coisas que carregam
os sentidos sem sentidos dos dizeres
as palavras que carregam os sentidos
ou dizeres que penetram nas palavras
os sentidos sem sentidos dos sentidos
os sentidos sem sentido do que falta
esta falta que me sobra quando calo
este tudo que é pouco quando muito
este tempo que não para quando passa
e passando todo tempo deste mundo
este tempo, passa tempo de si mesmo,
este entulho que entala nas entranhas
não se estranha todo tempo que se passa
só pensando neste tempo que se passa
fosse fosso,fosse a fossa, fosse forca
é mais forte que a força que se faça
este pranto é batalha que se trava
solitário, só a gente, com a gente
contra a gente
Salvador Passos
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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