A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

4 de janeiro de 2012

Omissão, não adição / Omission, not addition

«O modo habitual nos filmes é o de mostrar – e dizer – algo. Mas o meu objectivo é criar um cinema em que vejamos quanto podemos fazer sem o mostrar realmente, ou sem o dizer. Quanto uso podemos fazer da imaginação do espectador. Tem de se ser capaz de imaginar o que está a acontecer para lá do que é mostrado fisicamente, porque na verdade se está a mostrar apenas um canto da realidade. É uma boa ideia as imagens e a acção guiarem-nos para algo que está fora da estória sem o mostrarem realmente. Acredito no método de Bresson de criar através da omissão, não através da adição.»

« The usual way in film is to show — and to say — something. But my aim is to create a cinema in which we see how much we can do without actually showing, or saying, it. How much use we can make of the imagination of the spectator. You must be able to imagine what is going on beyond what is physically shown, because you are actually only showing a corner of reality. It is a good idea when pictures and action guide you to something which is outside the story without actually showing it. I believe in Bresson’s method of creation through omission, not through addition.»

Abbas Kiarostami, in bright lights


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