A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

22 de abril de 2013

MANIFESTO GREVE DE FOME



Eu, Tiuré, do povo Potiguara, José Humberto Costa Nascimento, ativista dos direitos indigenas, atual resistente da Aldeia Maracanã, antigo Museu do indio, considerado o primeiro indígena a receber o status de Refugiado Politico de um Tribunal Internacional reconhecido pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados, conforme o acordo de Genebra, exilado durante 25 anos, comunico a todos que a partir do dia 19 de abril, dia considerado como o Dia do Indio, em local a ser definido no estado do Rio de Janeiro, Brasil , aos 64 anos do meu nascimento, interromperei minha alimentação, inciando um ritual indigena de greve de fome, contra:

a politica de extermínio das populações indigenas no Brasil seja por conveniência ou omissão do Governo Brasileiro

contra o não reconhecimento, até esta data, do veredicto internacional de Refugiado Político, pela Comissão da Anistia e o consequente agravamento das feridas causadas pelas rupturas, perseguições, sequestro, torturas e ameaças de morte, causadas por agentes do Estado durante a ditadura.

contra a politica terrorista do Estado do Rio de Janeiro usada contra os indios que lutam neste momento para recriar no antigo Museu do Indio um espaço de Universilidade Indigena conhecida como Aldeia Maracanã



ÚLTIMO RITUAL DE PASSAGEM

De plena e sã consciencia realizo este ritual indigena de passagem como única forma de ação politica, pacífica e de muita paz espiritual, diante do labirinto judicial, legislativo e executivo em que as questões indigenas se encontram hoje neste País.

É um grito extremo e silencioso contra o modus operandi resgatado da Ditadura, no uso da truculência e repressão policial-militar no trato com indios que resistem, no meio rural e urbano, contra a imposição de mega-projetos desenvolvementistas que matam nossas matas, rios e vem destruindo sistematicamente modos de vidas e cultura milenares

Este ato espiritual de luta politica é autonomo, independente de qualquer ONG, partido politico ou organizações religiosas ou não.

Meu compromisso é somente com o grande espirito Tupã.

Junto-me aos parentes indigenas que passaram por este ritual no Brasil ou na America como forma de protesto.

Conclamo à todos, indigenas ou não, do Brasil e do mundo , para se manifestarem, solidários ou não, para que este grito ressoe no Palacio do Planalto.

Levarei minha greve de fome até as últimas consequências caso o Estado Brasileiro não se pronuncie nas questões abaixo:

sobre meu processo na Comissao da Anistia

sobre as investigações do genocidio indigena praticado na Ditadura e condenação dos criminosos

apuração das responsabilidades pelas violencias causadas pela tropa de choque para desalojar recentemente as familias indigenas da Aldeia Maracanã no Rio de Janeiro e reintegração de posse do predio do antigo Museu do Indio, promovendo a sua necessária reforma e posterior utilização definitiva pelos e para os indios brasileiros

inclusão na pauta governamental de diálogo aberto e de respeito aos primeiros habitantes desta terra

Por último, responsabilizo o Estado Brasileiro pela minha possível morte ou pelas sequelas irreversíveis pelas consequências desta greve de fome.

Rio de Janeiro, 15 de abril de 2013

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