A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

2 de abril de 2013

Pós Aula: O que é a poesia? Com Chacal


A segunda aula da Universidade das Quebradas na Rocinha foi animadíssima. Com a presença do poeta Chacal, os novos quebradeiros participaram de uma discussão que começou em torno da poesia e terminou num debate acirrado sobre a independência do artista para produzir sua própria arte.

Ao falar sobre sua concepção de poeta, Chacal falou sobre a relação da poesia com a música e sobre como o poeta é alguém que é capaz de aliar a palavra ao ritmo ao interpretar a palavra escrita. Para ele, poesia é também performance.

Busco a potência da palavra.
Comecei com o Oswald de Andrade, meu ponto de partida.
O que é ser poeta?
O que seria o poeta? Vou tentar entender junto com vocês.

Em seguida citou Torquato Neto:

Pessoal Intransferível

Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada no bolso e nas mãos. Sabendo : perigoso, divino, maravilhoso.

Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.

E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.

Publicado na coluna “Geléia Geral”, 3ª feira, 14/09/71

Historicamente, a poesia faz parte da tradição oral. Foi apenas quando Guttenberg inventou a imprensa, na Idade Média, que a palavra escrita se difundiu (ainda que, num primeiro momento, apenas para os nobres e religiosos soubessem ler). Além disso, o livro nesse período não era caro como símbolo de status, mas estava no mesmo lugar simbólico que as obras de arte. Nesse período também, o poeta era figura ativa da literatura de cordel.

‘Acho que a poesia perdeu um pouco da sua expressividade com a invenção da imprensa. O poema ganha potência quando é incorporado, quando passa a fazer sentido sozinho. A palavra, quando vem com essa carga poética, traz encanto.’, disse Chacal.

A partir daí, a discussão girou em torno da figura do contador de histórias, não tão comum nos dias de hoje, mas que tem o seu lugar na história, como é o caso dos griots, que ajudam a perpetuar as tradições de seus grupos por meio da tradição oral.

Já no final, Chacal representou um trecho do monólogo ‘Uma história à margem’, que conta a sua história e que está em cartaz terças e quartas, às 21h, na Casa de Cultura Laura Alvim.



Por Bárbara Reis Bolsistas PIBEX/UFRJ e Rute Casoy Assistente Pedagógica UQ.

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