Mai bródas,
finalmente aconteceu! Sério, de verdade.
Veio de maneira repentina, inesperada - ainda que eu estivesse ansiando por isso há anos.
Na última terça-feira à noite, eu, totalmente devastado pelo tédio, tomei todas as cervejas da casa, fumei todos os cigarros que agüentei e, deitado na cama, folheei o Silmarillion pra tentar induzir algum tipo de fuga onírica da consciência. E adormeci.
O sonho veio. Mas não foi um sonho de batalhas medievais, elfas maravilhosas e mortes épicas. Sonhei com o Rio.
Eu estava em Santa Teresa. As ruas estavam tomadas por pessoas de todas as partes do mundo. Todos falavam alto e riam. Serviam, livre e abundantemente, bebidas exóticas uns para os outros. Experimentei uma cachaça italiana, provei licores africanos, e conheci mulheres de todas as cores e tamanhos. Enquanto a guarda municipal tentava liberar a rua, as pessoas gargalhavam e caçoavam, e saldavam os patetas ao estilo sieg heil.
Então veio a notícia. Chegou como um sussurro e se espalhou como fogo em palha. A prefeitura queria destinar um monumento público aos patrocinadores da Copa do Mundo e, naquele momento, um grupo de pessoas enfrentava a polícia para empatar a privatização.
Imediatamente a multidão se levantou. E eu parti correndo. Desci as ladeiras de Santa tão rápido que não conseguia fazer as curvas e batia com os ombros nos muros das casas. Nesses muros eu via grafites e estêncils, alguns familiares, que me emocionavam, me motivavam, e eu corria cada vez mais veloz. Cruzei tão rápido os arcos da Lapa! Fui pendurado por baixo, trocando as mãos e me jogando pra frente igual a um gibão.
Quando cheguei na cidade uma turba imensa e colorida, carnavalesca e palhaçal, havia tomado conta do centro do Rio. Eram dezenas de milhares de fadas, piratas, enfermeiras, havaianas e todo o resto, que pulavam, dançavam, riam e cantavam.
E avançavam. Avançavam e avançavam, lenta, mas firmemente, sobre uma parede de escudos da tropa de choque que, atônita, recuava e recuava...
Foi lindo, porra!
Gonzo
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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