A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

4 de julho de 2013

quem sabe?

me chegam agora as metáforas
primas das palavras
rentes ao de repente da gente
me chegam agora outros sopros
suportes para outros nortes
quem sabe aquilo que a nós carrega?
quem sabe as frases que trás o vento
sopros lentos de azar e sorte
frases pescadas no momento
coisas quebradas no seu pranto
acalantos babilônicos

quem sabe aquilo que já não se lembra
quem sabe o que deve ser sabido
não saber é que é ventura
não saber é que é viver
quem sabe o que trás a voz do vento
quem sabe o que trás à lua alento
alento é aquilo que não pesa
e nos deixa leves
quem sabe?
quem sabe a voz que leva o vento?

quem sabe o que realmente devemos saber?
quem sabe o que saber?

queria me livrar de pesos mortos
revistas já não lidas
nomes já não ditos
ainda que sentidos
pelos já esbranquiçados

quem sabe desta guerra interna
eterna
rente ao abismo
quem sabe
quem sabe
quem sabe

EU NÃO SEI....

Raimundo Beato

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