A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
31 de março de 2011
Free love
"Free love? As if love is anything but free! Man has bought brains, but all the millions in the world have failed to buy love. Man has subdued bodies, but all the power on earth has been unable to subdue love. Man has conquered whole nations, but all his armies could not conquer love. Man has chained and fettered the spirit, but he has been utterly helpless before love. High on a throne, with all the splendor and pomp his gold can command, man is yet poor and desolate, if love passes him by. And if it stays, the poorest hovel is radiant with warmth, with life and color. Thus love has the magic power to make of a beggar a king. Yes, love is free; it can dwell in no other atmosphere. In freedom it gives itself unreservedly, abundantly, completely. All the laws on the statutes, all the courts in the universe, cannot tear it from the soil, once love has taken root. (...)"
Retirado de Marriage and Love (Anarchism and Other Essays)
Emma Goldman, 1911
Inutensílio
A ditadura da utilidade
A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem que ter um para quê, desde que os mercadores, com a Revolução Mercantil, Francesa e Industrial, substituíram no poder aquela nobreza cultivadora de inúteis heráldicas, pompas não rentábeis e ostentosas cerimônias intransitivas. Parecia coisa de índio. Ou de negro. O pragmatismo de empresários, vendedores e compradores, mete preço em cima de tudo. Porque tudo tem que dar lucro. Há trezentos anos, pelo menos, a ditadura da utilidade é unha e carne com o lucrocentrismo de toda essa nossa civilização. E o princípio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer que a própria vida tem que dar lucro. Vida é o dom dos deuses, para ser saboreada intensamente até que a Bomba de Nêutrons ou o vazamento da usina nuclear nos separe deste pedaço de carne pulsante, único bem de que temos certeza.
Além da utilidade
O amor. A amizade. O convívio. O júbilo do gol. A festa. A embriaguez. A poesia. A rebeldia. Os estados de graça. A possessão diabólica. A plenitude da carne. O orgasmo. Estas coisas não precisam de justificação nem de justificativas.
Todos sabemos que elas são a própria finalidade da vida. As únicas coisas grandes e boas, que pode nos dar esta passagem pela crosta deste terceiro planeta depois do Sol (alguém conhece coisa além- Cartas à redação). Fazemos as coisas úteis para ter acesso a estes dons absolutos e finais. A luta do trabalhador por melhores condições de vida é, no fundo, luta pelo acesso a estes bens, brilhando além dos horizontes estreitos do útil, do prático e do lucro.
Coisas inúteis (ou "in-úteis") são a própria finalidade da vida.
Vivemos num mundo contra a vida. A verdadeira vida. Que é feita de júbilo, liberdade e fulgor animal.
Cem mil anos-luz além da utilidade, que a mística imigrante do trabalho cultiva em nós, flores perversas no jardim do diabo, nome que damos a todas as forças que nos afastam da nossa felicidade, enquanto eu ou enquanto tribo.
A poesia é o principio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste mundo não suportam o prazer. A sociedade industrial, centrada no trabalho servo-mecânico, dos USA à URSS, compra, por salário, o potencial erótico das pessoas em troca de performances produtivas, numericamente calculáveis.
A função da poesia é a função do prazer na vida humana.
Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama a poesia. Ama outra coisa. Afinal, a arte só tem alcance prático em suas manifestações inferiores, na diluição da informação original. Os que exigem conteúdos querem que a poesia produza um lucro ideológico.
O lucro da poesia, quando verdadeira, é o surgimento de novos objetos no mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma capacidade in-útil. Além da utilidade.
Existe uma política na poesia que não se confunde com a política que vai na cabeça dos políticos. Uma política mais complexa, mais rarefeita, uma luz política ultra-violeta ou infra-vermelha. Uma política profunda, que é crítica da própria política, enquanto modo limitado de ver a vida.
O indispensável in-útil
As pessoas sem imaginação estão sempre querendo que a arte sirva para alguma coisa. Servir. Prestar. O serviço militar. Dar lucro. Não enxergam que a arte (a poesia é arte) é a única chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além da necessidade. As utopias, afinal de contas, são, sobretudo, obras de arte. E obras de arte são rebeldias.
A rebeldia é um bem absoluto. Sua manifestação na linguagem chamamos poesia, inestimável inutensílio.
As várias prosas do cotidiano e do(s) sistema(s) tentam domar a megera.
Mas ela sempre volta a incomodar.
Com o radical incômodo de urna coisa in-útil num mundo onde tudo tem que dar um lucro e ter um por quê.
Pra que por quê?
Paulo Leminski
In ANSEIOS CRIPTICOS, Ed. Criar, Curitiba, PR, 1986, p. 58-60.
A burguesia criou um universo onde todo gesto tem que ser útil. Tudo tem que ter um para quê, desde que os mercadores, com a Revolução Mercantil, Francesa e Industrial, substituíram no poder aquela nobreza cultivadora de inúteis heráldicas, pompas não rentábeis e ostentosas cerimônias intransitivas. Parecia coisa de índio. Ou de negro. O pragmatismo de empresários, vendedores e compradores, mete preço em cima de tudo. Porque tudo tem que dar lucro. Há trezentos anos, pelo menos, a ditadura da utilidade é unha e carne com o lucrocentrismo de toda essa nossa civilização. E o princípio da utilidade corrompe todos os setores da vida, nos fazendo crer que a própria vida tem que dar lucro. Vida é o dom dos deuses, para ser saboreada intensamente até que a Bomba de Nêutrons ou o vazamento da usina nuclear nos separe deste pedaço de carne pulsante, único bem de que temos certeza.
Além da utilidade
O amor. A amizade. O convívio. O júbilo do gol. A festa. A embriaguez. A poesia. A rebeldia. Os estados de graça. A possessão diabólica. A plenitude da carne. O orgasmo. Estas coisas não precisam de justificação nem de justificativas.
Todos sabemos que elas são a própria finalidade da vida. As únicas coisas grandes e boas, que pode nos dar esta passagem pela crosta deste terceiro planeta depois do Sol (alguém conhece coisa além- Cartas à redação). Fazemos as coisas úteis para ter acesso a estes dons absolutos e finais. A luta do trabalhador por melhores condições de vida é, no fundo, luta pelo acesso a estes bens, brilhando além dos horizontes estreitos do útil, do prático e do lucro.
Coisas inúteis (ou "in-úteis") são a própria finalidade da vida.
Vivemos num mundo contra a vida. A verdadeira vida. Que é feita de júbilo, liberdade e fulgor animal.
Cem mil anos-luz além da utilidade, que a mística imigrante do trabalho cultiva em nós, flores perversas no jardim do diabo, nome que damos a todas as forças que nos afastam da nossa felicidade, enquanto eu ou enquanto tribo.
A poesia é o principio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste mundo não suportam o prazer. A sociedade industrial, centrada no trabalho servo-mecânico, dos USA à URSS, compra, por salário, o potencial erótico das pessoas em troca de performances produtivas, numericamente calculáveis.
A função da poesia é a função do prazer na vida humana.
Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama a poesia. Ama outra coisa. Afinal, a arte só tem alcance prático em suas manifestações inferiores, na diluição da informação original. Os que exigem conteúdos querem que a poesia produza um lucro ideológico.
O lucro da poesia, quando verdadeira, é o surgimento de novos objetos no mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir mundos novos. Uma capacidade in-útil. Além da utilidade.
Existe uma política na poesia que não se confunde com a política que vai na cabeça dos políticos. Uma política mais complexa, mais rarefeita, uma luz política ultra-violeta ou infra-vermelha. Uma política profunda, que é crítica da própria política, enquanto modo limitado de ver a vida.
O indispensável in-útil
As pessoas sem imaginação estão sempre querendo que a arte sirva para alguma coisa. Servir. Prestar. O serviço militar. Dar lucro. Não enxergam que a arte (a poesia é arte) é a única chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além da necessidade. As utopias, afinal de contas, são, sobretudo, obras de arte. E obras de arte são rebeldias.
A rebeldia é um bem absoluto. Sua manifestação na linguagem chamamos poesia, inestimável inutensílio.
As várias prosas do cotidiano e do(s) sistema(s) tentam domar a megera.
Mas ela sempre volta a incomodar.
Com o radical incômodo de urna coisa in-útil num mundo onde tudo tem que dar um lucro e ter um por quê.
Pra que por quê?
Paulo Leminski
In ANSEIOS CRIPTICOS, Ed. Criar, Curitiba, PR, 1986, p. 58-60.
Forma é poder
1
Em práticas de texto, a ênfase no "conteúdo" está ligada a uma certa noção de "naturalidade" na expressão.
A forma "natural" é a que revela o "conteúdo" de maneira mais imediata. Preocupações com a "forma" obscurecem o "conteúdo".
2
Essa "naturalidade", porém, só é possível através de um automatismo.
Só quern obedece a um automatismo pode ser natural.
Isso que se chama "naturalidade" é uma convenção. O natural é um artifício automatizado, uma forma no poder.
A despreocupação com a forma só é possível no academicismo.
3
Naturalismo, academicismo.
O apogeu do naturalismo (Europa, segunda metade do século XIX) coincide com a explosão do jornalismo.
O discurso jorno/naturalista representa o triunfo da razão branca e burguesa: o discurso naturalista é a projeção do jornalismo na literatura.
4
O discurso jornalístico é discurso automatizado.
Sua automatização decorreu de razões práticas, do caráter de NEGÓCIO que o jornalismo teve desde o início: a necessidade (contábil) de rapidez de redação, num veículo/mercadoria de edição diária, a necessidade de anonimato, sendo o jornal (a empresa) uma entidade impessoal a abstrata.
5
A "enxutez" do discurso naturalista do século X1X é obtida através de uma tremenda repressão exercida sobre a fantasia mítica: é um discurso castrado.
A disciplina do discurso naturalista, sua contenção, são calvinistas, puritanas, reprimidas a repressoras (Reich explica).
6
Projetado na literatura, esse discurso "impessoal", "objetivo" e "natural" é investido de "normalidade". Na raiz, a palavra "normalidade" indigita sua origem de classe. "Normal" vem de "norma". Norma é lei: poder. O discurso jorno/naturalista é o discurso do Poder.
7
Esse poder é branco, burguês, greco-latino-cristão, positivista, do século XIX.
Daí, as literaturas Latino-americanas, em seu momento de afirmação, privilegiarem as variantes ditas "fantásticas" do realismo.
8
No discurso jorno/naturalista, o poder afirma, sob as espécies da linguagem verbal, a estabilidade do mundo, DE UM CERTO MUNDO, suas relações e hierarquias. O discurso, esse, em sua aparente neutralidade, é ideológico, embora invisível (ou por isso mesmo): é ideologia pura.
Sua estabilidade é catártica: nos consola e engana com a imagem de uma estabilidade do mundo. De UMA CERTA ESTABILIDADE. Uma estabilidade relativa à visâo do mundo de uma dada classe social muito bem localizada no tempo e no espaço.
9
Contra a "neutralidade" do discurso naturalista branco, levantam-se os discursos reprimidos das culturas oprimidas, o frenético dinamismo mitológico dos fodidos, sugados e pisados deste mundo.
Dinamismo, também, de formas novas.
10
A "neutralidade" (objetividade) do discurso jorno/naturalista é uma convenção. Assim como a clareza, apenas uma propriedade (retórica) do discurso.
Não há texto literário sem perspectiva, quer dizer, sem intervenção da subjetividade.
No texto naturalista (ou jornalístico), essa perspectiva é camuflada, sob as aparências de uma objetividade, uma Universalidade que - supostamente - retrata as coisas "tal como elas são".
11
Invoca-se em vão o nome do realismo, que se procura confundir com o naturalismo.
Realismo, quer dizer, discurso carregado de referencialidade, não é sinônimo de naturalismo.
Ao contrário.
O discurso realists nâo camufla a perspectiva.
Realistas (e não naturalistas) são textos como o "Ulysses" de James Joyce.
Ou as "Memórias Sentimentais de João Miramar", de Oswald de Andrade.
12
O naturalismo é incompatível com o experimento. Com a linguagem inovadora.
O realismo favorece-os.
13
A atitude naturalista convencional não enxerga a realidade, no experimento em prosa.
Assim como não percebe sentimento no experimento poético. Pois identifica a expressividade com os signos convencionais do expressivo.
14
Uma prática do texto criativo, coletivamente engajada, tem a função de desautomatizar. De produzir estranhamento. Distanciamento.
É desmistificação da "objetividade" inscrita no discurso naturalista.
Essa objetividade é falsa.
Ela apenas reflete a visão do mundo de dada classe social, de determinada civilização.
Sua pretensão a "discurso absoluto" é totalitária.
15
Violação. Ruptura. Contravenção. INFRATURA.
A poesia diz "eu acuso". E denuncia a estrutura.
A estrutura do Poder, emblematizada na "normalidade" da linguagem.
16
Só a obra aberta (= desautomatizada, inovadora), engajando, ativamente, a consciência do leitor, no processo de descoberta/criação de sentidos e significados, abrindo-se para sua inteligência, recebendo-a como parceira e co-laboradora, é verdadeiramente democrática.
Paulo Leminski
in Folha de S.Paulo: Folhetim, 04/07/1982. Reproduzido em ANSEIOS CRÍPTICOS, Criar Edições, Curitiba, 1986, p. 69 a 72.
Em práticas de texto, a ênfase no "conteúdo" está ligada a uma certa noção de "naturalidade" na expressão.
A forma "natural" é a que revela o "conteúdo" de maneira mais imediata. Preocupações com a "forma" obscurecem o "conteúdo".
2
Essa "naturalidade", porém, só é possível através de um automatismo.
Só quern obedece a um automatismo pode ser natural.
Isso que se chama "naturalidade" é uma convenção. O natural é um artifício automatizado, uma forma no poder.
A despreocupação com a forma só é possível no academicismo.
3
Naturalismo, academicismo.
O apogeu do naturalismo (Europa, segunda metade do século XIX) coincide com a explosão do jornalismo.
O discurso jorno/naturalista representa o triunfo da razão branca e burguesa: o discurso naturalista é a projeção do jornalismo na literatura.
4
O discurso jornalístico é discurso automatizado.
Sua automatização decorreu de razões práticas, do caráter de NEGÓCIO que o jornalismo teve desde o início: a necessidade (contábil) de rapidez de redação, num veículo/mercadoria de edição diária, a necessidade de anonimato, sendo o jornal (a empresa) uma entidade impessoal a abstrata.
5
A "enxutez" do discurso naturalista do século X1X é obtida através de uma tremenda repressão exercida sobre a fantasia mítica: é um discurso castrado.
A disciplina do discurso naturalista, sua contenção, são calvinistas, puritanas, reprimidas a repressoras (Reich explica).
6
Projetado na literatura, esse discurso "impessoal", "objetivo" e "natural" é investido de "normalidade". Na raiz, a palavra "normalidade" indigita sua origem de classe. "Normal" vem de "norma". Norma é lei: poder. O discurso jorno/naturalista é o discurso do Poder.
7
Esse poder é branco, burguês, greco-latino-cristão, positivista, do século XIX.
Daí, as literaturas Latino-americanas, em seu momento de afirmação, privilegiarem as variantes ditas "fantásticas" do realismo.
8
No discurso jorno/naturalista, o poder afirma, sob as espécies da linguagem verbal, a estabilidade do mundo, DE UM CERTO MUNDO, suas relações e hierarquias. O discurso, esse, em sua aparente neutralidade, é ideológico, embora invisível (ou por isso mesmo): é ideologia pura.
Sua estabilidade é catártica: nos consola e engana com a imagem de uma estabilidade do mundo. De UMA CERTA ESTABILIDADE. Uma estabilidade relativa à visâo do mundo de uma dada classe social muito bem localizada no tempo e no espaço.
9
Contra a "neutralidade" do discurso naturalista branco, levantam-se os discursos reprimidos das culturas oprimidas, o frenético dinamismo mitológico dos fodidos, sugados e pisados deste mundo.
Dinamismo, também, de formas novas.
10
A "neutralidade" (objetividade) do discurso jorno/naturalista é uma convenção. Assim como a clareza, apenas uma propriedade (retórica) do discurso.
Não há texto literário sem perspectiva, quer dizer, sem intervenção da subjetividade.
No texto naturalista (ou jornalístico), essa perspectiva é camuflada, sob as aparências de uma objetividade, uma Universalidade que - supostamente - retrata as coisas "tal como elas são".
11
Invoca-se em vão o nome do realismo, que se procura confundir com o naturalismo.
Realismo, quer dizer, discurso carregado de referencialidade, não é sinônimo de naturalismo.
Ao contrário.
O discurso realists nâo camufla a perspectiva.
Realistas (e não naturalistas) são textos como o "Ulysses" de James Joyce.
Ou as "Memórias Sentimentais de João Miramar", de Oswald de Andrade.
12
O naturalismo é incompatível com o experimento. Com a linguagem inovadora.
O realismo favorece-os.
13
A atitude naturalista convencional não enxerga a realidade, no experimento em prosa.
Assim como não percebe sentimento no experimento poético. Pois identifica a expressividade com os signos convencionais do expressivo.
14
Uma prática do texto criativo, coletivamente engajada, tem a função de desautomatizar. De produzir estranhamento. Distanciamento.
É desmistificação da "objetividade" inscrita no discurso naturalista.
Essa objetividade é falsa.
Ela apenas reflete a visão do mundo de dada classe social, de determinada civilização.
Sua pretensão a "discurso absoluto" é totalitária.
15
Violação. Ruptura. Contravenção. INFRATURA.
A poesia diz "eu acuso". E denuncia a estrutura.
A estrutura do Poder, emblematizada na "normalidade" da linguagem.
16
Só a obra aberta (= desautomatizada, inovadora), engajando, ativamente, a consciência do leitor, no processo de descoberta/criação de sentidos e significados, abrindo-se para sua inteligência, recebendo-a como parceira e co-laboradora, é verdadeiramente democrática.
Paulo Leminski
in Folha de S.Paulo: Folhetim, 04/07/1982. Reproduzido em ANSEIOS CRÍPTICOS, Criar Edições, Curitiba, 1986, p. 69 a 72.
Limites ao léu
POESIA: "words set to music" (Dante
via Pound), "uma viagem ao
desconhecido" (Maiakovski), "cernes e
medulas" (Ezra Pound), "a fala do
infalável" (Gothe), "linguagem
voltada para a sua propria
materialidade" (Jakobson),
"permanente hesitação entre som
e sentido" (Paul Valery), "fundação do
ser mediante a palavra" (Heidegger),
"a religião original da humanidade"
(Novalis), "as melhores palavras na
melhor ordem" (Coleridge), "emoção
relembrada na tranquilidade"
(Wordsworth), "ciência e paixão"
(Alfred de Vigny), "se faz com
palavras, não com ideias"
(Ricardo Reis/Fernando Pessoa), "um
fingimento deveras" (Fernando
Pessoa), "criticism of life" (Mattew
Arnold), "palavra-coisa" (Sartre),
"linguagem em estado de pureza
selvagem" (Octávio Paz), "poetry is to
inspire" (Bob Dylan), "design de
linguagem" (Decio Pignatari), "lo
imposible hecho posible" (Garcia
Lorca), "aquilo que se perde na
tradução" (Robert Frost), "a liberdade
da minha linguagem" (Paulo
Leminski)...
Paulo Leminski
via Pound), "uma viagem ao
desconhecido" (Maiakovski), "cernes e
medulas" (Ezra Pound), "a fala do
infalável" (Gothe), "linguagem
voltada para a sua propria
materialidade" (Jakobson),
"permanente hesitação entre som
e sentido" (Paul Valery), "fundação do
ser mediante a palavra" (Heidegger),
"a religião original da humanidade"
(Novalis), "as melhores palavras na
melhor ordem" (Coleridge), "emoção
relembrada na tranquilidade"
(Wordsworth), "ciência e paixão"
(Alfred de Vigny), "se faz com
palavras, não com ideias"
(Ricardo Reis/Fernando Pessoa), "um
fingimento deveras" (Fernando
Pessoa), "criticism of life" (Mattew
Arnold), "palavra-coisa" (Sartre),
"linguagem em estado de pureza
selvagem" (Octávio Paz), "poetry is to
inspire" (Bob Dylan), "design de
linguagem" (Decio Pignatari), "lo
imposible hecho posible" (Garcia
Lorca), "aquilo que se perde na
tradução" (Robert Frost), "a liberdade
da minha linguagem" (Paulo
Leminski)...
Paulo Leminski
30 de março de 2011
29 de março de 2011
28 de março de 2011
(im)possível
No jogo ideológico querem nos fazer acreditar que não há utopia, é como se repetissem alguma variante dos ditos orwellianos:
Todas utopias são (im)possíveis, só que algumas são mais (im)possíveis do que outras.
Cada um coloca (ou tira) o parêntesis onde quiser...
Todas utopias são (im)possíveis, só que algumas são mais (im)possíveis do que outras.
Cada um coloca (ou tira) o parêntesis onde quiser...
Impossibles
Today, however, we are witnessing a radical change in the working of this ideological mechanism. Agamben defines our contemporary ‘post-political’ or biopolitical society as one in which the multiple dispositifs desubjectivize individuals, without producing a new subjectivity:
"Hence the eclipse of politics, which supposed real subjects or identities (workers’ movement, bourgeoisie, etc.), and the triumph of economy, that is to say, of the pure activity of governing, which pursues only its own reproduction. The right and left which today follow each other in managing power have thus very little to do with the political context from which the terms that designate them originate. Today these terms simply name the two poles—the one that aims at desubjectivation, without any scruples, and the one that wants to cover it with the hypocritical mask of the good citizen of democracy—of the same machine of government.*"
‘Bio-politics’ designates the constellation in which dispositifs no longer generate subjects (‘interpellate individuals into subjects’), but merely administer and regulate individuals’ bare life.
In such a constellation, the very idea of a radical social transformation may appear as an impossible dream—yet the term ‘impossible’ should make us stop and think. Today, possible and impossible are distributed in a strange way, both simultaneously exploding into excess. On the one hand, in the domains of personal freedoms and scientific technology, we are told that ‘nothing is impossible’: we can enjoy sex in all its perverse versions, entire archives of music, films and tv series are available to download, space travel is available to everyone (at a price). There is the prospect of enhancing our physical and psychic abilities, of manipulating our basic properties through interventions into the genome; even the tech-gnostic dream of achieving immortality by transforming our identity into software that can be downloaded into one or another set of hardware.
On the other hand, in the domain of socio-economic relations, our era perceives itself as the age of maturity in which humanity has abandoned the old millenarian utopian dreams and accepted the constraints of reality—read: capitalist socio-economic reality—with all its impossibilities. The commandment you cannot is its mot d’ordre: you cannot engage in large collective acts, which necessarily end in totalitarian terror; you cannot cling to the old welfare state, it makes you non-competitive and leads to economic crisis; you cannot isolate yourself from the global market, without falling prey to the spectre of North Korean juche. In its ideological version, ecology also adds its own list of impossibilities, so-called threshold values—no more than two degrees of global warming—based on ‘expert opinions’.
It is crucial to distinguish here between two impossibilities: the impossible-real of a social antagonism, and the ‘impossibility’ on which the predominant ideological field focuses. Impossibility is here redoubled, it serves as a mask of itself: that is, the ideological function of the second impossibility is to obfuscate the real of the first. Today, the ruling ideology endeavours to make us accept the ‘impossibility’ of radical change, of abolishing capitalism, of a democracy not reduced to a corrupt parliamentary game, in order to render invisible the impossible-real of the antagonism that cuts across capitalist societies. This real is ‘impossible’ in the sense that it is the impossible of the existing social order, its constitutive antagonism; which is not to imply that this impossible-real cannot be directly dealt with, or radically transformed.
This is why Lacan’s formula for overcoming an ideological impossibility is not ‘everything is possible’, but ‘the impossible happens’. The Lacanian impossible-real is not an a priori limitation, which needs to be realistically taken into account, but the domain of action. An act is more than an intervention into the domain of the possible—an act changes the very coordinates of what is possible and thus retroactively creates its own conditions of possibility. This is why communism also concerns the real: to act as a communist means to intervene into the real of the basic antagonism which underlies today’s global capitalism.
SLAVOJ ŽIŽEK (trecho do artigo: A permanente economic emergency publicado na New Left Review)
*Giorgio Agamben, Qu’est-ce qu’un dispositif?, Paris 2007, pp. 46–7.
"Hence the eclipse of politics, which supposed real subjects or identities (workers’ movement, bourgeoisie, etc.), and the triumph of economy, that is to say, of the pure activity of governing, which pursues only its own reproduction. The right and left which today follow each other in managing power have thus very little to do with the political context from which the terms that designate them originate. Today these terms simply name the two poles—the one that aims at desubjectivation, without any scruples, and the one that wants to cover it with the hypocritical mask of the good citizen of democracy—of the same machine of government.*"
‘Bio-politics’ designates the constellation in which dispositifs no longer generate subjects (‘interpellate individuals into subjects’), but merely administer and regulate individuals’ bare life.
In such a constellation, the very idea of a radical social transformation may appear as an impossible dream—yet the term ‘impossible’ should make us stop and think. Today, possible and impossible are distributed in a strange way, both simultaneously exploding into excess. On the one hand, in the domains of personal freedoms and scientific technology, we are told that ‘nothing is impossible’: we can enjoy sex in all its perverse versions, entire archives of music, films and tv series are available to download, space travel is available to everyone (at a price). There is the prospect of enhancing our physical and psychic abilities, of manipulating our basic properties through interventions into the genome; even the tech-gnostic dream of achieving immortality by transforming our identity into software that can be downloaded into one or another set of hardware.
On the other hand, in the domain of socio-economic relations, our era perceives itself as the age of maturity in which humanity has abandoned the old millenarian utopian dreams and accepted the constraints of reality—read: capitalist socio-economic reality—with all its impossibilities. The commandment you cannot is its mot d’ordre: you cannot engage in large collective acts, which necessarily end in totalitarian terror; you cannot cling to the old welfare state, it makes you non-competitive and leads to economic crisis; you cannot isolate yourself from the global market, without falling prey to the spectre of North Korean juche. In its ideological version, ecology also adds its own list of impossibilities, so-called threshold values—no more than two degrees of global warming—based on ‘expert opinions’.
It is crucial to distinguish here between two impossibilities: the impossible-real of a social antagonism, and the ‘impossibility’ on which the predominant ideological field focuses. Impossibility is here redoubled, it serves as a mask of itself: that is, the ideological function of the second impossibility is to obfuscate the real of the first. Today, the ruling ideology endeavours to make us accept the ‘impossibility’ of radical change, of abolishing capitalism, of a democracy not reduced to a corrupt parliamentary game, in order to render invisible the impossible-real of the antagonism that cuts across capitalist societies. This real is ‘impossible’ in the sense that it is the impossible of the existing social order, its constitutive antagonism; which is not to imply that this impossible-real cannot be directly dealt with, or radically transformed.
This is why Lacan’s formula for overcoming an ideological impossibility is not ‘everything is possible’, but ‘the impossible happens’. The Lacanian impossible-real is not an a priori limitation, which needs to be realistically taken into account, but the domain of action. An act is more than an intervention into the domain of the possible—an act changes the very coordinates of what is possible and thus retroactively creates its own conditions of possibility. This is why communism also concerns the real: to act as a communist means to intervene into the real of the basic antagonism which underlies today’s global capitalism.
SLAVOJ ŽIŽEK (trecho do artigo: A permanente economic emergency publicado na New Left Review)
*Giorgio Agamben, Qu’est-ce qu’un dispositif?, Paris 2007, pp. 46–7.
27 de março de 2011
Guerrilla Art - The Punking of Paris Hilton
Hundreds of Paris Hilton albums have been tampered with in the latest stunt by "guerrilla artist" Banksy. Banksy has replaced Hilton's CD with his own remixes and given them titles such as Why am I Famous?, What Have I Done? and What Am I For? He has also changed pictures of her on the CD sleeve to show the US socialite topless and with a dog's head. A spokeswoman for Banksy said he had doctored 500 copies of her debut album Paris in 48 record shops across the UK. She told the BBC News website: "He switched the CDs in store, so he took the old ones out and put his version in."
Maio 68 - frases e graffiti - 2
In the decor of the spectacle, the eye meets only things and their prices.
Meanwhile everyone wants to breathe and nobody can and many say, “We will breathe later.” And most of them don’t die because they are already dead.
We want to live.
Don’t beg for the right to live — take it.
The liberation of humanity is all or nothing.
No replastering, the structure is rotten.
Masochism today takes the form of reformism.
Reform my ass.
The revolution is incredible because it’s really happening.
I came, I saw, I was won over.
If we only have enough time . . .
In any case, no regrets!
Already ten days of happiness.
Live in the moment.
Comrades, if everyone did like us . . .
Referendum: whether we vote yes or no, it turns us into suckers.
It’s painful to submit to our bosses; it’s even more stupid to choose them.
Let’s not change bosses, let’s change life.
Don’t liberate me — I’ll take care of that.
I’m not a servant of the people (much less of their self-appointed leaders). Let the people serve themselves.
Abolish class society.
Nature created neither servants nor masters. I want neither to rule nor to be ruled.
We will have good masters as soon as everyone is their own.
“In revolution there are two types of people: those who make it and those who profit from it.” (Napoleon)
Don’t be taken in by the politicos and their filthy demagogy. We must rely on ourselves. Socialism without freedom is a barracks.
The revolution doesn’t belong to the committees, it’s yours.
Politics is in the streets.
Our hope can come only from the hopeless.
A proletarian is someone who has no power over his life and knows it.
Never work.
People who work get bored when they don’t work. People who don’t work never get bored.
Workers of all countries, enjoy!
By stopping our machines together we will demonstrate their weakness.
Occupy the factories.
Labor unions are whorehouses.
Please leave the Communist Party as clean on leaving it as you would like to find it on entering.
If we have to resort to force, don’t sit on the fence.
Be cruel.
Humanity won’t be happy till the last capitalist is hung with the guts of the last bureaucrat.
When the last sociologist has been hung with the guts of the last bureaucrat, will we still have “problems”?
The passion of destruction is a creative joy. (Bakunin)
The tears of philistines are the nectar of the gods.
We are all German Jews.
We refuse to be highrised, diplomaed, licensed, inventoried, registered, indoctrinated, suburbanized, sermonized, beaten, telemanipulated, gassed, booked.
We are all “undesirables.”
We must remain “unadapted.”
The forest precedes man, the desert follows him.
Under the paving stones, the beach.
Concrete breeds apathy.
Coming soon to this location: charming ruins.
Beautiful, maybe not, but O how charming: life versus survival.
“My aim is to agitate and disturb people. I’m not selling bread, I’m selling yeast.” (Unamuno)
Conservatism is a synonym for rottenness and ugliness.
You are hollow.
You will end up dying of comfort.
Hide yourself, object!
No to coat-and-tie revolution.
A revolution that requires us to sacrifice ourselves for it is Papa’s revolution.
Revolution ceases to be the moment it calls for self-sacrifice.
The prospect of finding pleasure tomorrow will never compensate for today’s boredom.
When people notice they are bored, they stop being bored.
Happiness is a new idea.
Live without dead time.
Those who talk about revolution and class struggle without referring to everyday reality have a corpse in their mouth.
Culture is an inversion of life.
Poetry is in the streets.
The most beautiful sculpture is a paving stone thrown at a cop’s head.
Art is dead, don’t consume its corpse.
Art is dead, let’s liberate our everyday life.
Art is dead, Godard can’t change that.
Godard: the supreme Swiss Maoist jerk.
Permanent cultural vibration.
We want a wild and ephemeral music.
We propose a fundamental regeneration:
concert strikes,
sound gatherings with collective investigation.
Abolish copyrights: sound structures belong to everyone.
Anarchy is me.
Revolution, I love you.
Down with the abstract, long live the ephemeral. (Marxist-Pessimist Youth)
Don’t consume Marx, live him.
I’m a Groucho Marxist.
I take my desires for reality because I believe in the reality of my desires.
Desiring reality is great! Realizing your desires is even better!
Practice wishful thinking.
I declare a permanent state of happiness.
Be realistic, demand the impossible.
Power to the imagination.
Those who lack imagination cannot imagine what is lacking.
Imagination is not a gift, it must be conquered. (Breton)
Action must not be a reaction, but a creation.
Action enables us to overcome divisions and find solutions.
Exaggeration is the beginning of invention.
The enemy of movement is skepticism. Everything that has been realized comes from dynamism, which comes from spontaneity.
Here, we spontane.
“You must bear a chaos inside you to give birth to a dancing star.” (Nietzsche)
Chance must be systematically explored.
Alcohol kills. Take LSD.
Unbutton your mind as often as your fly.
“Every view of things that is not strange is false.” (Valéry)
Life is elsewhere.
Forget everything you’ve been taught. Start by dreaming.
Form dream committees.
Dare! This word contains all the politics of the present moment. (Saint-Just)
Arise, ye wretched of the university.
Students are jerks.
The student’s susceptibility to recruitment as a militant for any cause is a sufficient demonstration of his real impotence. (enragé women)
Professors, you make us grow old.
Terminate the university.
Rape your Alma Mater.
What if we burned the Sorbonne?
Professors, you are as senile as your culture, your modernism is nothing but the modernization of the police.
We refuse the role assigned to us: we will not be trained as police dogs.
We don’t want to be the watchdogs or servants of capitalism.
Exams = servility, social promotion, hierarchical society.
When examined, answer with questions.
Insolence is the new revolutionary weapon.
Every teacher is taught, everyone taught teaches.
The Old Mole of history seems to be splendidly undermining the Sorbonne. (telegram from Marx, 13 May 1968)
Thought that stagnates rots.
To call in question the society you “live” in, you must first be capable of calling yourself in question.
Take revolution seriously, but don’t take yourself seriously.
The walls have ears. Your ears have walls.
Making revolution also means breaking our internal chains.
A cop sleeps inside each one of us. We must kill him.
Drive the cop out of your head.
Religion is the ultimate con.
Neither God nor master.
If God existed it would be necessary to abolish him.
Can you believe that some people are still Christians?
Down with the toad of Nazareth.
How can you think freely in the shadow of a chapel?
We want a place to piss, not a place to pray.
I suspect God of being a leftist intellectual.
The bourgeoisie has no other pleasure than to degrade all pleasures.
Going through the motions kills the emotions.
Struggle against the emotional fixations that paralyze our potentials. (Committee of Women on the Path of Liberation)
Constraints imposed on pleasure incite the pleasure of living without constraints.
The more I make love, the more I want to make revolution.
The more I make revolution, the more I want to make love.
SEX: It’s okay, says Mao, as long as you don’t do it too often.
Comrades, 5 hours of sleep a day is indispensable: we need you for the revolution.
Embrace your love without dropping your guard.
I love you!!! Oh, say it with paving stones!!!
I’m coming in the paving stones.
Total orgasm.
Comrades, people are making love in the Poli Sci classrooms, not only in the fields.
Revolutionary women are more beautiful.
Zelda, I love you! Down with work!
The young make love, the old make obscene gestures.
Make love, not war.
Whoever speaks of love destroys love.
Down with consumer society.
The more you consume, the less you live.
Commodities are the opium of the people.
Burn commodities.
You can’t buy happiness. Steal it.
Are you a consumer or a participant?
To be free in 1968 means to participate.
I participate.
You participate.
He participates.
We participate.
They profit.
The golden age was the age when gold didn’t reign.
Happiness is hanging your landlord.
Millionaires of the world unite. The wind is turning.
The economy is wounded — I hope it dies!
How sad to love money.
You too can steal.
“Amnesty: An act in which the rulers pardon the injustices they have committed.” (Ambrose Bierce)
[The definition in Bierce’s The Devil’s Dictionary is actually: “Amnesty: The state’s
magnanimity to those offenders whom it would be too expensive to punish.”]
Abolish alienation.
Obedience begins with consciousness; consciousness begins with disobedience.
First, disobey; then write on the walls. (Law of 10 May 1968)
I don’t like to write on walls.
Write everywhere.
Before writing, learn to think.
I don’t know how to write but I would like to say beautiful things and I don’t know how.
I don’t have time to write!!!
I have something to say but I don’t know what.
Freedom is the right to silence.
Long live communication, down with telecommunication.
You, my comrade, you whom I was unaware of amid the tumult,
Meanwhile everyone wants to breathe and nobody can and many say, “We will breathe later.” And most of them don’t die because they are already dead.
We want to live.
Don’t beg for the right to live — take it.
The liberation of humanity is all or nothing.
No replastering, the structure is rotten.
Masochism today takes the form of reformism.
Reform my ass.
The revolution is incredible because it’s really happening.
I came, I saw, I was won over.
If we only have enough time . . .
In any case, no regrets!
Already ten days of happiness.
Live in the moment.
Comrades, if everyone did like us . . .
Referendum: whether we vote yes or no, it turns us into suckers.
It’s painful to submit to our bosses; it’s even more stupid to choose them.
Let’s not change bosses, let’s change life.
Don’t liberate me — I’ll take care of that.
I’m not a servant of the people (much less of their self-appointed leaders). Let the people serve themselves.
Abolish class society.
Nature created neither servants nor masters. I want neither to rule nor to be ruled.
We will have good masters as soon as everyone is their own.
“In revolution there are two types of people: those who make it and those who profit from it.” (Napoleon)
Don’t be taken in by the politicos and their filthy demagogy. We must rely on ourselves. Socialism without freedom is a barracks.
The revolution doesn’t belong to the committees, it’s yours.
Politics is in the streets.
Our hope can come only from the hopeless.
A proletarian is someone who has no power over his life and knows it.
Never work.
People who work get bored when they don’t work. People who don’t work never get bored.
Workers of all countries, enjoy!
By stopping our machines together we will demonstrate their weakness.
Occupy the factories.
Labor unions are whorehouses.
Please leave the Communist Party as clean on leaving it as you would like to find it on entering.
If we have to resort to force, don’t sit on the fence.
Be cruel.
Humanity won’t be happy till the last capitalist is hung with the guts of the last bureaucrat.
When the last sociologist has been hung with the guts of the last bureaucrat, will we still have “problems”?
The passion of destruction is a creative joy. (Bakunin)
The tears of philistines are the nectar of the gods.
We are all German Jews.
We refuse to be highrised, diplomaed, licensed, inventoried, registered, indoctrinated, suburbanized, sermonized, beaten, telemanipulated, gassed, booked.
We are all “undesirables.”
We must remain “unadapted.”
The forest precedes man, the desert follows him.
Under the paving stones, the beach.
Concrete breeds apathy.
Coming soon to this location: charming ruins.
Beautiful, maybe not, but O how charming: life versus survival.
“My aim is to agitate and disturb people. I’m not selling bread, I’m selling yeast.” (Unamuno)
Conservatism is a synonym for rottenness and ugliness.
You are hollow.
You will end up dying of comfort.
Hide yourself, object!
No to coat-and-tie revolution.
A revolution that requires us to sacrifice ourselves for it is Papa’s revolution.
Revolution ceases to be the moment it calls for self-sacrifice.
The prospect of finding pleasure tomorrow will never compensate for today’s boredom.
When people notice they are bored, they stop being bored.
Happiness is a new idea.
Live without dead time.
Those who talk about revolution and class struggle without referring to everyday reality have a corpse in their mouth.
Culture is an inversion of life.
Poetry is in the streets.
The most beautiful sculpture is a paving stone thrown at a cop’s head.
Art is dead, don’t consume its corpse.
Art is dead, let’s liberate our everyday life.
Art is dead, Godard can’t change that.
Godard: the supreme Swiss Maoist jerk.
Permanent cultural vibration.
We want a wild and ephemeral music.
We propose a fundamental regeneration:
concert strikes,
sound gatherings with collective investigation.
Abolish copyrights: sound structures belong to everyone.
Anarchy is me.
Revolution, I love you.
Down with the abstract, long live the ephemeral. (Marxist-Pessimist Youth)
Don’t consume Marx, live him.
I’m a Groucho Marxist.
I take my desires for reality because I believe in the reality of my desires.
Desiring reality is great! Realizing your desires is even better!
Practice wishful thinking.
I declare a permanent state of happiness.
Be realistic, demand the impossible.
Power to the imagination.
Those who lack imagination cannot imagine what is lacking.
Imagination is not a gift, it must be conquered. (Breton)
Action must not be a reaction, but a creation.
Action enables us to overcome divisions and find solutions.
Exaggeration is the beginning of invention.
The enemy of movement is skepticism. Everything that has been realized comes from dynamism, which comes from spontaneity.
Here, we spontane.
“You must bear a chaos inside you to give birth to a dancing star.” (Nietzsche)
Chance must be systematically explored.
Alcohol kills. Take LSD.
Unbutton your mind as often as your fly.
“Every view of things that is not strange is false.” (Valéry)
Life is elsewhere.
Forget everything you’ve been taught. Start by dreaming.
Form dream committees.
Dare! This word contains all the politics of the present moment. (Saint-Just)
Arise, ye wretched of the university.
Students are jerks.
The student’s susceptibility to recruitment as a militant for any cause is a sufficient demonstration of his real impotence. (enragé women)
Professors, you make us grow old.
Terminate the university.
Rape your Alma Mater.
What if we burned the Sorbonne?
Professors, you are as senile as your culture, your modernism is nothing but the modernization of the police.
We refuse the role assigned to us: we will not be trained as police dogs.
We don’t want to be the watchdogs or servants of capitalism.
Exams = servility, social promotion, hierarchical society.
When examined, answer with questions.
Insolence is the new revolutionary weapon.
Every teacher is taught, everyone taught teaches.
The Old Mole of history seems to be splendidly undermining the Sorbonne. (telegram from Marx, 13 May 1968)
Thought that stagnates rots.
To call in question the society you “live” in, you must first be capable of calling yourself in question.
Take revolution seriously, but don’t take yourself seriously.
The walls have ears. Your ears have walls.
Making revolution also means breaking our internal chains.
A cop sleeps inside each one of us. We must kill him.
Drive the cop out of your head.
Religion is the ultimate con.
Neither God nor master.
If God existed it would be necessary to abolish him.
Can you believe that some people are still Christians?
Down with the toad of Nazareth.
How can you think freely in the shadow of a chapel?
We want a place to piss, not a place to pray.
I suspect God of being a leftist intellectual.
The bourgeoisie has no other pleasure than to degrade all pleasures.
Going through the motions kills the emotions.
Struggle against the emotional fixations that paralyze our potentials. (Committee of Women on the Path of Liberation)
Constraints imposed on pleasure incite the pleasure of living without constraints.
The more I make love, the more I want to make revolution.
The more I make revolution, the more I want to make love.
SEX: It’s okay, says Mao, as long as you don’t do it too often.
Comrades, 5 hours of sleep a day is indispensable: we need you for the revolution.
Embrace your love without dropping your guard.
I love you!!! Oh, say it with paving stones!!!
I’m coming in the paving stones.
Total orgasm.
Comrades, people are making love in the Poli Sci classrooms, not only in the fields.
Revolutionary women are more beautiful.
Zelda, I love you! Down with work!
The young make love, the old make obscene gestures.
Make love, not war.
Whoever speaks of love destroys love.
Down with consumer society.
The more you consume, the less you live.
Commodities are the opium of the people.
Burn commodities.
You can’t buy happiness. Steal it.
Are you a consumer or a participant?
To be free in 1968 means to participate.
I participate.
You participate.
He participates.
We participate.
They profit.
The golden age was the age when gold didn’t reign.
Happiness is hanging your landlord.
Millionaires of the world unite. The wind is turning.
The economy is wounded — I hope it dies!
How sad to love money.
You too can steal.
“Amnesty: An act in which the rulers pardon the injustices they have committed.” (Ambrose Bierce)
[The definition in Bierce’s The Devil’s Dictionary is actually: “Amnesty: The state’s
magnanimity to those offenders whom it would be too expensive to punish.”]
Abolish alienation.
Obedience begins with consciousness; consciousness begins with disobedience.
First, disobey; then write on the walls. (Law of 10 May 1968)
I don’t like to write on walls.
Write everywhere.
Before writing, learn to think.
I don’t know how to write but I would like to say beautiful things and I don’t know how.
I don’t have time to write!!!
I have something to say but I don’t know what.
Freedom is the right to silence.
Long live communication, down with telecommunication.
You, my comrade, you whom I was unaware of amid the tumult,
you who are throttled, afraid, suffocated — come, talk to us.
Talk to your neighbors.
Yell.
Create.
Look in front of you!!!
Help with cleanup, there are no maids here.
Revolution is an INITIATIVE.
Speechmaking is counterrevolutionary.
Comrades, stop applauding, the spectacle is everywhere.
Don’t get caught up in the spectacle of opposition. Oppose the spectacle.
Down with spectacle-commodity society.
Down with journalists and those who cater to them.
Only the truth is revolutionary.
No forbidding allowed.
Freedom is the crime that contains all crimes. It is our ultimate weapon.
The freedom of others extends mine infinitely.
No freedom for the enemies of freedom.
Free our comrades.
Open the gates of the asylums, prisons and other faculties.
Open the windows of your heart.
To hell with boundaries.
You can no longer sleep quietly once you’ve suddenly opened your eyes.
The future will only contain what we put into it now.
Talk to your neighbors.
Yell.
Create.
Look in front of you!!!
Help with cleanup, there are no maids here.
Revolution is an INITIATIVE.
Speechmaking is counterrevolutionary.
Comrades, stop applauding, the spectacle is everywhere.
Don’t get caught up in the spectacle of opposition. Oppose the spectacle.
Down with spectacle-commodity society.
Down with journalists and those who cater to them.
Only the truth is revolutionary.
No forbidding allowed.
Freedom is the crime that contains all crimes. It is our ultimate weapon.
The freedom of others extends mine infinitely.
No freedom for the enemies of freedom.
Free our comrades.
Open the gates of the asylums, prisons and other faculties.
Open the windows of your heart.
To hell with boundaries.
You can no longer sleep quietly once you’ve suddenly opened your eyes.
The future will only contain what we put into it now.
Maio 68 - frases e graffiti - 1
All power corrupts. Absolute power corrupts absolutely.
We want structures that serve people, not people serving structures.
The revolution doesn’t belong to the committees, it’s yours.
Man is neither Rousseau’s noble savage nor the Church’s or La Rochefoucauld’s depraved sinner. He is violent when oppressed, gentle when free.
A single non-revolutionary weekend is infinitely more bloody than a month of total revolution.
Those who lack imagination cannot imagine what is lacking.
A cop sleeps inside each one of us. We must kill him. Drive the cop out of your head.
We don’t want to be the watchdogs or servants of capitalism.
“The cause of all wars, riots and injustices is the existence of property.”(St. Augustine)
Commute, work, commute, sleep . . .
Since 1936 I have fought for wage increases. My father before me fought for wage increases. Now I have a TV, a fridge, a Volkswagen. Yet my whole life has been a drag. Don’t negotiate with the bosses. Abolish them.
The future will only contain what we put into it now.
The more you consume, the less you live. Commodities are the opium of the people.
Abolish copyrights: sound structures belong to everyone.
L'ennui est contre-révolutionnaire. (Boredom is counter-revolutionary.)
L'imagination prend le pouvoir! (Imagination takes power!)
Soyez réalistes, demandez l'impossible. (Be realistic, ask the impossible.)
Prenez vos désirs pour la réalité. (Take your desires for reality.)
On achète ton bonheur. Vole-le. (They are buying your happiness. Steal it.)
Presse: ne pas avaler. (On a poster with a bottle of poison labelled: "Press: Do not swallow.")
Même si Dieu existait, il faudrait le supprimer. (Even if God existed it would be necessary to abolish him.)
Le patron a besoin de toi, tu n'as pas besoin de lui. (The boss needs you, you don't need him.)
L'été sera chaud! (Summer will be hot!)
On ne revendiquera rien, on ne demandera rien. On prendra, on occupera. (We will beg for nothing. We will ask for nothing. We will take, we will occupy.)
Travailleur : tu as 25 ans mais ton syndicat est de l'autre siècle. (Worker: You are 25, but your union is from another century.)
Nous ne voulons pas d'un monde où la certitude de ne pas mourir de faim s'échange contre le risque de mourir d'ennui. (We don't want a world where the guarantee of not dying of starvation brings the risk of dying of boredom.)
In a society that has abolished every kind of adventure the only adventure that remains is to abolish the society.
Ceux qui font les révolutions à moitié ne font que se creuser un tombeau. (Those who make revolutions half way only dig their own graves.)
Run, comrade, the old world is behind you!
Sous les pavés, la plage. (Under the paving stones, the beach.)
Vivre sans temps mort et jouir sans entrave. (Live without wasted time and enjoy without hindrance.)
La barricade ferme la rue mais ouvre la voie. (Barricades close the street but open the way.)
When the National Assembly becomes a bourgeois theater, all the bourgeois theaters should be turned into national assemblies. (Written above the entrance of the occupied Odéon Theater)
Warning: ambitious careerists may now be disguised as “progressives.”
Stalinists, your children are with us!
Be cruel.
I love you!!! Oh, say it with paving stones!!!
Under 21? [Picture of a brick] Here is your ballot!
We want structures that serve people, not people serving structures.
The revolution doesn’t belong to the committees, it’s yours.
Man is neither Rousseau’s noble savage nor the Church’s or La Rochefoucauld’s depraved sinner. He is violent when oppressed, gentle when free.
A single non-revolutionary weekend is infinitely more bloody than a month of total revolution.
Those who lack imagination cannot imagine what is lacking.
A cop sleeps inside each one of us. We must kill him. Drive the cop out of your head.
We don’t want to be the watchdogs or servants of capitalism.
“The cause of all wars, riots and injustices is the existence of property.”(St. Augustine)
Commute, work, commute, sleep . . .
Since 1936 I have fought for wage increases. My father before me fought for wage increases. Now I have a TV, a fridge, a Volkswagen. Yet my whole life has been a drag. Don’t negotiate with the bosses. Abolish them.
The future will only contain what we put into it now.
The more you consume, the less you live. Commodities are the opium of the people.
Abolish copyrights: sound structures belong to everyone.
L'ennui est contre-révolutionnaire. (Boredom is counter-revolutionary.)
L'imagination prend le pouvoir! (Imagination takes power!)
Soyez réalistes, demandez l'impossible. (Be realistic, ask the impossible.)
Prenez vos désirs pour la réalité. (Take your desires for reality.)
On achète ton bonheur. Vole-le. (They are buying your happiness. Steal it.)
Presse: ne pas avaler. (On a poster with a bottle of poison labelled: "Press: Do not swallow.")
Même si Dieu existait, il faudrait le supprimer. (Even if God existed it would be necessary to abolish him.)
Le patron a besoin de toi, tu n'as pas besoin de lui. (The boss needs you, you don't need him.)
L'été sera chaud! (Summer will be hot!)
On ne revendiquera rien, on ne demandera rien. On prendra, on occupera. (We will beg for nothing. We will ask for nothing. We will take, we will occupy.)
Travailleur : tu as 25 ans mais ton syndicat est de l'autre siècle. (Worker: You are 25, but your union is from another century.)
Nous ne voulons pas d'un monde où la certitude de ne pas mourir de faim s'échange contre le risque de mourir d'ennui. (We don't want a world where the guarantee of not dying of starvation brings the risk of dying of boredom.)
In a society that has abolished every kind of adventure the only adventure that remains is to abolish the society.
Ceux qui font les révolutions à moitié ne font que se creuser un tombeau. (Those who make revolutions half way only dig their own graves.)
Run, comrade, the old world is behind you!
Sous les pavés, la plage. (Under the paving stones, the beach.)
Vivre sans temps mort et jouir sans entrave. (Live without wasted time and enjoy without hindrance.)
La barricade ferme la rue mais ouvre la voie. (Barricades close the street but open the way.)
When the National Assembly becomes a bourgeois theater, all the bourgeois theaters should be turned into national assemblies. (Written above the entrance of the occupied Odéon Theater)
Warning: ambitious careerists may now be disguised as “progressives.”
Stalinists, your children are with us!
Be cruel.
I love you!!! Oh, say it with paving stones!!!
Under 21? [Picture of a brick] Here is your ballot!
26 de março de 2011
25 de março de 2011
Manifesto pelo Reencantamento do Mundo
Jovens e adultos, crianças e velhos de coração vivo, recusamos acreditar que a vida tenha que ser tão besta como nos tem sido apresentada. Um mundo em que todos têm que rosnar uns para os outros, e cumprir metas cinzentas, que ninguém sabe quem estabeleceu – nem a que levam.
Acontece que o suco da realidade está além do que pode ser reduzido a peso, medida, preço. Isso é só o esqueleto. Viramos um mundo de roedores de ossos. Queremos mais que isso. Podemos mais! Salvar Galileu e queimar Giordano Bruno deu numa civilização manca. Mas nós não embarcamos na viagem dos céus vazios e silenciosos (Nietzsche). Assumimos nossa porção índia e suas lições, e estamos vendo que o Universo é inteligente, e que todos os seres se comunicam em existência e em sentido. Tudo tem alma, sentido, consciência, intenção. Tudo dialoga com o
ser humano, se este quiser escutar.
Encantamento! Não, não falamos de simulacros, de sonhos enlatados disneyanos pintados em paredões sem vida, nem de telinhas fosforescentes numa vidaprisão. Falamos de consciência aguda do Momento e do Lugar. Você frente a frente com as coisas, cara a cara com a Vida. Vendo mundos em grãos de areia, e um céu numa flor do mato (William Blake).
Sábio é quem com tudo se espanta (André Gide). Gente como Goethe e Aristóteles via aí o princípio de toda Ciência; você acha bobagem? Olhos de criança ávida de conhecer o mundo! Todo Ser Humano é capaz de se encantar... e de em seguida reencantar o mundo. Com mãos de Amor.
É sério: só com profissionais encantados teremos mundo onde valha a pena viver. Não só os artistas e cientistas. Para o professor, é óbvio, essa é a primeira condição. Mas não basta: o DELÍRIO RESPONSÁVEL precisa chegar ao hardcore dos que fazem este mundo: engenheiros, advogados, administradores... Até que o sonho realize cidades menos irracionais, até que os funcionários dos três setores suicidem essa violência estéril chamada burocracia, até o último juiz enxergar que condicionar Justiça a "excelências" e "meritíssimos" é opressão indigna de subsistir num mundo digno de subsistir. Até que todas as relações humanas tenham rosto humano de novo.
Felicidade, sim!, como objetivo da sociedade! Economia, Desenvolvimento, Técnica, Poder como meios, jamais como razão das nossas escolhas. Servos da felicidade de todos os seres.
O que é preciso... é cultivar nosso jardim (Voltaire). Ser Humano e Natureza parceiros, mundo e vidas construídos como Arte. Dançar ao produzir... e dançar por dançar! Uma Ética nascida não de regras, mas da percepção do brilho nos olhos do outro. Humor, sempre – mas nunca sem Amor.
Mirantes em toda parte como investimento: afinal, sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho da minha altura (Fernando Pessoa). A cidade está produzindo multidões sem visão – e a solução não está em “líderes sábios”, pois podemos ser um povo inteiro de sábios. Visão e maravilhamento para todos!!!
Não, não adianta disfarçar: jamais haverá encanto verdadeiro enquanto for privilégio de poucos!Basta da falsidade do tal "princípio do proveito próprio" (Adam Smith), com sua mãozinha tão invisível quanto vendida, que construiu o inferno atual. Somente a ação altruísta é verdadeiramente humana! E dferente do engano oitocentista que ainda nos sufoca, a colaboração foi sempre mais decisiva para a evolução que a competição.
ENCANTAMENTO PARA TODOS pode salvar você do tiroteio: muros e grades jamais.
Sabemos como. Balas não voam sozinhas: seres humanos apertam gatilhos – porque seu olhar só aprendeu a ver monstros e carros reluzentes. Mas no meio do tiroteio colhemos flores – e plantamos. Contra a Cultura do Medo usamos a Magia da Verdade, e fazemos ver que nenhum ser humano é apenas monstro – nem dentro nem fora dos carros. Ainda no meio do caos recuperamos o poder de encantarse com estrelas, botões de flores, botões de gente.
Devolver às mentes as imagens seqüestradas do Bom, do Belo, do Justo, do Verdadeiro. Não, não é babaquice: ao cinismo tratamos com sua própria receita: mandamos embora, pois nunca nos deu nada que valesse a pena. Que acima de tudo se devolva a cada Ser Humano o seu direito máximo: a chance verdadeira de desenvolver livremente seus potenciais. Sobretudo, é claro, no nível do SER, porém sem negar a justíssima, enquanto modesta, importância do Ter.
ENCANTAMENTO PARA TODOS!
24 de março de 2011
doublethink
Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da Democracia e que o Partido era o guardião da Democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra "duplipensar" era necessário usar o duplipensar.
George Orwell 1984
O que teria dito Orwell do conceito guerra humanitária?
Masters of War
Come you masters of war
You that build the big guns
You that build the death planes
You that build all the bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks.
You that never done nothin'
But build to destroy
You play with my world
Like it's your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly.
Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain.
You fasten all the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion'
As young people's blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud.
You've thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain't worth the blood
That runs in your veins.
How much do I know
To talk out of turn
You might say that I'm young
You might say I'm unlearned
But there's one thing I know
Though I'm younger than you
That even Jesus would never
Forgive what you do.
Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul.
And I hope that you die
And your death'll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I'll watch while you're lowered
Down to your deathbed
And I'll stand over your grave
'Til I'm sure that you're dead
Bob Dylan
18 de março de 2011
A Praieira
No caminho é que se vê
A praia melhor pra ficar
Tenho a hora certa pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
E eu piso onde quiser
Você está girando melhor, garota
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!!
Segura bem forte a mão
E é praieira !!!
Vou lembrando a Revolução
Vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
E na praia é que se vê,
A areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
Você pode pisar onde quer
Que você se sente melhor
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!!
Segura bem forte a mão
E é praieira !!!
Vou lembrando a Revolução
Vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
Vai pisando, ê!
Segurando, ê!
Arrastanto, ê!
É praieira!
É praieira!
É praieira!
E na praia é que se vê,
A areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
Você pode pisar onde quer
Que você se sente melhor
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!!
Segura bem forte a mão
E é praieira !!!
Vou lembrando a Revolução
Vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
Vai pisando, ê!
Vai girando, ê!
Segurando, ê!
Arrastando, ê!
Arrastando
Arrastando
Arrastando
É praieira!
É praieira!
É praieira!
É praieira!
No caminho é que se vê
A praia melhor pra ficar
Tenho a hora certa pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
Nação Zumbi
A praia melhor pra ficar
Tenho a hora certa pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
E eu piso onde quiser
Você está girando melhor, garota
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!!
Segura bem forte a mão
E é praieira !!!
Vou lembrando a Revolução
Vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
E na praia é que se vê,
A areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
Você pode pisar onde quer
Que você se sente melhor
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!!
Segura bem forte a mão
E é praieira !!!
Vou lembrando a Revolução
Vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
Vai pisando, ê!
Segurando, ê!
Arrastanto, ê!
É praieira!
É praieira!
É praieira!
E na praia é que se vê,
A areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
Você pode pisar onde quer
Que você se sente melhor
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!!
Segura bem forte a mão
E é praieira !!!
Vou lembrando a Revolução
Vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão
Vai pisando, ê!
Vai girando, ê!
Segurando, ê!
Arrastando, ê!
Arrastando
Arrastando
Arrastando
É praieira!
É praieira!
É praieira!
É praieira!
No caminho é que se vê
A praia melhor pra ficar
Tenho a hora certa pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
Nação Zumbi
Quem espera a esperança?
É tanto enquanto que já não sei mais quando
Agora mesmo é mais sempre do que nunca
Salvador Passos
Agora mesmo é mais sempre do que nunca
Salvador Passos
16 de março de 2011
Futuro primitivo - fragmentos
“’Definir’ um mundo desalienado seria impossível, inclusive indesejável, mas podemos e devemos tentar desmascarar o não-mundo de hoje em dia e como chegamos a ele. Temos tomado um caminho monstruosamente errado com a cultura simbólica e a divisão do trabalho, de um lugar de entendimento, encanto, compreensão e totalidade para a ausência que nos encontramos, no coração da doutrina do progresso. Vazia e cada vez mais vazia, a lógica da domesticação, com suas exigências de total dominação, nos mostram a ruína de uma civilização que arruína todo o resto. Presumir a inferioridade da natureza favorece a dominação de sistemas culturais que logo tornarão a Terra um lugar inabitável.
O pós-modernismo nos diz que uma sociedade sem relações de poder não pode ser mais que uma abstração (Foucault, 1982). Isso é uma mentira, a menos que aceitemos a morte da natureza e de tudo aquilo que foi e poderia ser de novo.
Turnbull fala da intimidade dos Mbuti e a floresta, e da sua maneira de dançar como se fizessem amor com a floresta. Numa vida onde os seres são iguais, que não é uma abstração e que se esforça para existir, eles “DANÇAM COM A FLORESTA, DANÇAM COM A LUA”’.
Retirado de Futuro Primitivo, John Zerzan, 1994.
Panegírico - fragmentos
“Acredito que essa cidade [Paris] foi devastada um pouco antes de todas as outras porque suas revoluções, sempre recomeçadas, tinham inquietado e chocado demais o mundo; e porque infelizmente elas sempre malograram. No fim, acabamos punidos por uma destruição tão completa quanto aquela com que outrora nos haviam ameaçado o Manifesto de Brunswick ou o discurso do girondino Isnard: a fim de sepultar tantas lembranças temíveis e o grande nome de Paris (O infame Isnard, presidindo a Convençã, em meio de 1793, tinha tido já a ousadia de antecipadamente anunciar: ‘Se, em virtude dessas incessantes insurreições, chegar-se a ameaçar a representação nacional, eu vos declaro, em nome de toda a França que Paris será aniquilada; brevemente haverá que se esquadrinhar as margens do Sena para saber se essa cidade existiu’.)
Quem vê as margens do Sena vê nossas penas: não existe nada além de apressadas colunas de um formigueiro de escravos motorizados. O historiador Guichardin, que vivenciou o fim da libertação de Florença, registrou em seu Memento: ‘Todas as cidades, todos os Estados, todos os reinos são mortais; todas as coisas, seja naturalmente seja por acidente, cedo ou tarde chegam ao seu limite e têm de acabar; de maneira que um cidadão que veja a derrocada de sua terra não tem de se lamentar tanto pela infelicidade dessa terra e pela desventura que, dessa vez, ela encontrou; mas, em vez disso, deve chorar pela sua própria infelicidade; porque à cidade aconteceu o que forçosamente iria acontecer, e a verdadeira infelicidade foi nascer no momento em que tinha de se produzir tamanho desastre’.
(...)
Uma descrição da vida rural na Inglaterra, que Howitt publicou em 1840, podia se concluir tomada de um contentamento sem dúvida abusivamente generalizado: ‘Todo homem que sabe apreciar os prazeres da vida deve agradecer aos Céus por terem-no permitido viver nesta terra e nesta época’. A nossa época, ao contrário, não se arrisca a exprimir muito enfaticamente, em relação à vida que se vive nos dias de hoje, a repugnância geral e o terror que começam a se ressentir em tantos terrenos. Eles são ressentidos mas nunca expressos antes das revoltas sangrentas. As razões para isso são simples. Os prazeres da vida foram recentemente redefinidos de forma autoritária: primeiro nas suas prioridades e em seguida na totalidade de sua substância. E as autoridades que os redefiniam também podiam, a qualquer momento, sem obstáculos de qualquer natureza, decidir qual modificação poderia mais lucrativamente se fazer introduzir nas técnicas de sua fabricação, inteiramente liberadas da necessidade de agradar. Pela primeira vez, os donos de tudo o que se faz são também os mestres de tudo o que a respeito se diz. Assim, a demência ‘construiu sua casa nos altos da cidade’.
Aos homens que não desfrutaram de uma autoridade tão indiscutível e universal, foi proposto apenas, nessa questão de suas sensações dos prazeres da vida, que se submetessem sem fazer a mais leve observação, do mesmo modo como eles já tinham eleito, em todas as demais questões, representantes de sua submissão. E ao se deixarem privar dessas trivialidades, que eram apontadas como indignas de sua atenção, mostraram a mesma bonomia que já tinham revelado ao olhar, a distância, esvaírem-se as poucas grandezas da vida. Quando ‘ser totalmente moderno’ se tornou uma lei especial proclamada pelo tirano, o que o escravo honesto teme, acima de tudo, é que ele possa ser suspeito de saudosismo.
Mais sábios que eu já explicaram muitíssimo bem a origem do que sucedeu: ‘O valor de troca só pôde surgir como agente do valor de uso, mas ao vencer por suas próprias armas criou as condições para seu domínio autônomo. Mobilizando todo o costume humano e apropriando-se do monopólio de sua satisfação, ele acabou por dirigir o uso. O processo de troca se identificou a todo uso possível e o subjugou. O valor de troca é o condottiere do valor de uso, que acaba por empreender a guerra por conta própria’.
‘O mundo é só desilusão’, resumiu Villon num único octossílabo (‘Le monde n’est qu’abusion’ é um octossílabo, ainda que um diplomado dos dias de hoje provavelmente não consiga reconhecer mais de seis sílabas nesse verso). A decadência geral é um meio a serviço do império da servidão, e é somente por ser esse meio que lhe é permitido fazer-se denominar progresso.
É preciso saber que doravante a servidão quer ser verdadeiramente amada por si mesma e não mais porque proporcionaria alguma vantagem extrínseca. Ela, que anteriormente podia passar por uma proteção já não protege mais nada. Agora, a servidão não procura se justificar pretendendo ter conservado, seja onde for, outro encanto que não o simples prazer de conhecê-la.
Mais à frente direi como se desenrolaram certas fases de uma outra guerra pouco conhecida: entre a tendência geral da dominação social nesta época e o que, apesar de tudo, pôde vir a perturbá-la, como se sabe. (...)”
Retirado de Panegírico, Guy Debord, 1993
15 de março de 2011
radicalgraphics.org
The purpose of this website is to provide activists, radicals, revolutionaries, and otherwise left-leaning individuals, who are working to put together flyers, pamphlets, zines, propaganda etc., with high resolution graphics. Most of the images you will find are of an inherently anti-authoritarian, anti-status quo nature. Of course, everything depends on the context that the image is used. Some of the images are not radical in and of themselves, but they might serve a purpose for certain radical groups/projects (eg. images of animals for animal liberationists).
O que é intervenção urbana?
http://www.fotolog.com.br/gagostencil
Intervenção Urbana é o termo utilizado para designar os movimentos artísticos relacionados às intervenções visuais realizadas em espaços públicos. No início, um movimento underground que foi ganhando forma com o decorrer dos tempos e se estruturando. Mais do que marcos espaciais, a intervenção urbana estabelece marcas de corte. Particulariza lugares e, por decupagem, recria paisagens. Existem intervenções urbanas de vários portes, indo desde pequenas inserções através de adesivos (stickers) até grandes instalações artísticas.
Intervenção Urbana é o termo utilizado para designar os movimentos artísticos relacionados às intervenções visuais realizadas em espaços públicos. No início, um movimento underground que foi ganhando forma com o decorrer dos tempos e se estruturando. Mais do que marcos espaciais, a intervenção urbana estabelece marcas de corte. Particulariza lugares e, por decupagem, recria paisagens. Existem intervenções urbanas de vários portes, indo desde pequenas inserções através de adesivos (stickers) até grandes instalações artísticas.
retirado de http://www.intervencaourbana.org/
14 de março de 2011
Difícil ser funcionário
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...
Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.
João Cabral de Melo Neto
O poema acima, escrito em 29-09-1943, revela a decisiva influência de Carlos Drummond de Andrade nas primeiras produções do autor. Inédito, foi extraído dos "Cadernos de Literatura Brasileira", nº. 01, publicado pelo Instituto Moreira Salles em Março de 1996, pág.60.
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...
Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.
João Cabral de Melo Neto
O poema acima, escrito em 29-09-1943, revela a decisiva influência de Carlos Drummond de Andrade nas primeiras produções do autor. Inédito, foi extraído dos "Cadernos de Literatura Brasileira", nº. 01, publicado pelo Instituto Moreira Salles em Março de 1996, pág.60.
A Flor e A Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade
12 de março de 2011
Utopia prática
Ah, o sonhar
com a mão distante no horizonte
Invisível ainda que atuante
A ilha solitária no mar de Atlantes
desde antes
De nada vale o sonho assim sonhado
perdido na primeira hora da manhã
e o amanhã cego deste sonho d´outra noite
Sonho outro sonho
O sonho prático
Sei que é inútil ser útil
Mas de que me vale o sonho se não tem mundo?
Sonho serve para o real
A utopia serve para práxis
Utopia não serve para ela mesma,
mas para outras coisas
Salvador Passos
com a mão distante no horizonte
Invisível ainda que atuante
A ilha solitária no mar de Atlantes
desde antes
De nada vale o sonho assim sonhado
perdido na primeira hora da manhã
e o amanhã cego deste sonho d´outra noite
Sonho outro sonho
O sonho prático
Sei que é inútil ser útil
Mas de que me vale o sonho se não tem mundo?
Sonho serve para o real
A utopia serve para práxis
Utopia não serve para ela mesma,
mas para outras coisas
Salvador Passos
A porta
O espanto da noite
O despertar de repente
O antes?
O depois?
Só há enquanto, o agora
Mas de onde vem a nostalgia de tudo que éramos?
Essa vontade de retornar, de sermos de novo?
Só a noite nos liberta
Pois na noite há um beijo frio nas cobertas
Pois na noite há um sono breve que transporta
E nos deixa à beira
Perante a trágica porta
Aquela que de todas não é só passagem
Mas sim distante eternidade
Aquela que tem a idade do tempo
Aquela que tem o peso do chumbo
E a cor do desconhecido
Aquela que tem o passo do silêncio
E a cada noite que me vejo,
Mesmo que brevemente, perante tal porta
Percebo que sou menos
Me afasto de algo que não sei o que é
Vejo em meus atos apenas pó
Vejo em minhas tentativas apenas nada
Mas sigo em cada dia
Centro de meu próprio universo
Tão alheio e tolo
Como se o mundo fosse isso
E não a porta que me engolirá um dia
Que sentido há nesta espera?
Que faremos nestes dias que nos restam?
Se a cada hora tudo o que há é só a porta à espreita
Ainda que permaneça seguindo em cada dia
Em cada noite vejo a porta
E recordo do nada que me aguarda
E dos atos que nada carregam
A porta jaz ali fechada exposta
como se à espera do dia em que enfim será transposta
Eis que sigo contemplando
somente a fechadura
Raimundo Beato
O despertar de repente
O antes?
O depois?
Só há enquanto, o agora
Mas de onde vem a nostalgia de tudo que éramos?
Essa vontade de retornar, de sermos de novo?
Só a noite nos liberta
Pois na noite há um beijo frio nas cobertas
Pois na noite há um sono breve que transporta
E nos deixa à beira
Perante a trágica porta
Aquela que de todas não é só passagem
Mas sim distante eternidade
Aquela que tem a idade do tempo
Aquela que tem o peso do chumbo
E a cor do desconhecido
Aquela que tem o passo do silêncio
E a cada noite que me vejo,
Mesmo que brevemente, perante tal porta
Percebo que sou menos
Me afasto de algo que não sei o que é
Vejo em meus atos apenas pó
Vejo em minhas tentativas apenas nada
Mas sigo em cada dia
Centro de meu próprio universo
Tão alheio e tolo
Como se o mundo fosse isso
E não a porta que me engolirá um dia
Que sentido há nesta espera?
Que faremos nestes dias que nos restam?
Se a cada hora tudo o que há é só a porta à espreita
Ainda que permaneça seguindo em cada dia
Em cada noite vejo a porta
E recordo do nada que me aguarda
E dos atos que nada carregam
A porta jaz ali fechada exposta
como se à espera do dia em que enfim será transposta
Eis que sigo contemplando
somente a fechadura
Raimundo Beato
De língua pra lua
De língua pra Lua
Há tanto tempo não há tempo para tanto
Miro o muro e vejo o eixo central dessa galáxia inóspita
Miro o belo e meço meramente o mero
Homero vai a luta
O homem vai a luta com Homero
Meramente homem
A união faz a força
E a força faz o que?
A força faz a forca
A força vai a forca
A foca bate palma e sai de foco
O oco foca e fica
A oca fica e faca
Foucault finca a faca
O inca cai, quebra e vira totem
E tem pressa...
E o trem passa
Eu hei de entender o que se passa
Se passar um pouco mais perto de mim
Há tanto tempo não há tempo pra tanto
Há tanto que tento
E troco trovas por momentâneos beijos de amor
Pois quem sabe se sobe ou se desce
Se manda ou obedece
Se emana ou esquece
Ou irmana prece
Quem sabe se levanta ou cai
Se entra ou sai
Se eu se ai
Se bem foi ou vai
Quem se segura ou solta
Quem sabe se vai ou ou volta
Quem sabe se sabe ou apenas quis saber
Porque deveria e há de saber
Quem sabe de quê?
Ou quem quer que saiba
Que saber é ver o não saber
Que beber é só se embriagar
Que comer é só se fortalecer
E que fortaleza também cai
Se eu soubesse que sabia
Não saberia o que fazer
Pois quem caminha
Vai ou vem
Dependendo de quem olha
Ou tenta olhar alguém
Pois se certo fosse o olhar
Olharia o incerto
O acerto se faria
Como deveria ser ou haveria de estar
Se fosse o querer acontecer e transformar
A verdade só quem sabe é a mentira
Que por sua vez sempre mente
Simplesmente
Com um corte no pulso que pulsava
Um pouco de vida que vivia nesse mero pulso
Onde estão os índios?
E os filantrópicos?
E os filatelistas?
E os caçadores de borboletas?
E as borboletas?
Os filósofos se escondem nos bares
O ar começa a ser vendido
Compre já!
Últimos estoques
Estou farto de farpas, furtos e fortes
Meus pés me levam até o para-peito de um prédio
Meu peito pára na calçada da rua mais próxima
Mas o show tem que continuar
A América metricamente se recente de tudo que fez, faz e fará
Planeta Terra
Planeta amputado
Sepultando-se sepultado
Se putas ou putanas
Sepultem esse veneno
E eu aqui tentando minar
Nanir
Ir não vir
Ser não ver
Sou, som, só
O hormônio do meu homônimo
Não é igual ao meu
Choro nas horas vagas
E vago um coração
Alguém quer?
Michel Mellamed
11 de março de 2011
Geração Coca-Cola
Quando nascemos fomos programados
A receber o que vocês nos empurraram
Com os enlatados dos USA, de 9 às 6.
Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola.
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola.
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Legião Urbana
A receber o que vocês nos empurraram
Com os enlatados dos USA, de 9 às 6.
Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola.
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola.
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Legião Urbana
Se a vida é levada muito a sério...
nugo é uma cápsula metálica de 4 cm de comprimento e 1,5 cm de diâmetro, garantida por um fecho de combinação giratória cujos sete números são conhecidos somente pelo seu portador:
Essa cápsula metálica contém uma pílula de uma substância que mata instantaneamente. Todo ibu recebe um nugo de seu bolo, como é o caso do taku. Ele pode carregar o nugo junto com as chaves de seu próprio baú numa corrente em volta do pescoço, de forma que fique sempre ao alcance da mão. Caso o ibu seja incapaz de abrir a cápsula e engolir a pílula mortal (devido a paralisia, ferimento, etc.), os outros ibus são obrigados a ajudar (ver sila).
Se o ibu enjoar de bolo’bolo, de si mesmo, de taku, sila, nima, yaka, fasi, etc., sempre pode sentir-se livre para sair do jogo definitivamente e escapar do seu (melhorado, reformado) pesadelo. A vida não devia ser um pretexto para justificar sua responsabilidade para com bolo’bolo, a sociedade, o futuro ou outras ilusões.
O nugo lembra ao ibu que bolo’bolo finalmente não faz sentido, que ninguém e nenhuma forma de organização social podem ajudar o ibu em sua solidão e desespero. Se a vida é levada muito a sério, vira um inferno. Todo ibu vem equipado com uma passagem de volta.
Essa cápsula metálica contém uma pílula de uma substância que mata instantaneamente. Todo ibu recebe um nugo de seu bolo, como é o caso do taku. Ele pode carregar o nugo junto com as chaves de seu próprio baú numa corrente em volta do pescoço, de forma que fique sempre ao alcance da mão. Caso o ibu seja incapaz de abrir a cápsula e engolir a pílula mortal (devido a paralisia, ferimento, etc.), os outros ibus são obrigados a ajudar (ver sila).
Se o ibu enjoar de bolo’bolo, de si mesmo, de taku, sila, nima, yaka, fasi, etc., sempre pode sentir-se livre para sair do jogo definitivamente e escapar do seu (melhorado, reformado) pesadelo. A vida não devia ser um pretexto para justificar sua responsabilidade para com bolo’bolo, a sociedade, o futuro ou outras ilusões.
O nugo lembra ao ibu que bolo’bolo finalmente não faz sentido, que ninguém e nenhuma forma de organização social podem ajudar o ibu em sua solidão e desespero. Se a vida é levada muito a sério, vira um inferno. Todo ibu vem equipado com uma passagem de volta.
Retirado de bolo'bolo
10 de março de 2011
O que nós vemos
O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir ?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Alberto Caiero
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir ?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Alberto Caiero
Os conteúdos das visões da ayahuasca
Sky Ayahuasca and the Mother of the Forest
Elvis Luna, retirado de Red Cloud Indian Arts
"A ayahuasca é uma infusão vegetal psicoativa da Amazônia. Tipicamente, provoca poderosas visões, assim como alucinações em todas as demais modalidades de percepção. Essas experiências geralmente se associam a insights pessoais, ideações intelectivas, reações afetivas e experiências espirituais e místicas profundas. Também se observam alterações dos parâmetros básicos da experiência – identidade pessoal, conexão com o mundo exterior, temporalidade e os sentimentos de significação e de noese. No passado, a ayahuasca era um dos pilares centrais de várias culturas tribais da Amazônia. Hoje, a infusão ainda é instrumento corriqueiro dos curandeiros em toda a região. Além disso, no decorrer do século XX, constituíram-se no Brasil vários grupos religiosos sincréticos nos quais as tradições indígenas relativas à ayahuasca se combinam com elementos culturais não-indígenas – cristãos ou outros.
(...)
Neste artigo, abordo a faceta mais conhecida da experiência da ayahuasca – a visual. As visões da ayahuasca são valorizadas em todos os contextos – tradicionais bem como modernos – nos quais a infusão é utilizada.
(...)
Da literatura antropológica sobre a ayahuasca emerge um padrão surpreendente, que é o da recorrência de certos elementos comuns às visões provocadas pela infusão. Assim, em uma revisão da literatura antropológica (menos recente), Harner (1973b) conclui que os itens mais comuns nas visões relatadas por indígenas são cobras, jaguares, demônios e deidades, cidades e paisagens. Também se encontram, segundo seu relato, visões relativas à solução de crimes, vôos da alma e experiências de clarividência. Observações similares são apresentadas em Der Marderosian et alii (1970), Naranjo (1973a), Furst (1990) e Grob (1999).
A pesquisa aqui relatada tem por propósito estabelecer empírica e sistematicamente a recorrência, nas visões de diferentes pessoas, de elementos de conteúdo. Isso se dá mediante a comparação de dados fornecidos por muitos grupos de informantes, com diversas histórias pessoais e ambientes socioculturais variados; os informantes também diferem quanto ao nível de experiência com a infusão.
(...)
As observações e reflexões acima marcam as limitações de várias linhas de teorização em psicologia. As recorrências transpessoais aqui discutidas continuam, em grau considerável, a desafiar o entendimento. Quanto a este caso, as teorias psicológicas não oferecem soluções bem definidas. Mais particularmente, eis alguns problemas que sinto que permanecem: serão as recorrências reflexo de repositórios de informações inconscientes distintos daqueles postulados pela literatura psicológica padrão? Ou eles sugerem, talvez, a existência de outras dimensões da realidade, de tipo platônico, e que não dependem da psicologia pessoal do indivíduo? Esta última possibilidade é, evidentemente, especulativa ao extremo. Se verdadeira, terá ramificações ontológicas e metafísicas radicais, e levará a uma Weltanschauung drasticamente distinta do padrão europeu ocidental. De fato, a experiência da ayahuasca levanta sérias questões filosóficas. Entre elas há questões relacionadas às inquietações humanas e à natureza da cultura, à estética, ética, teologia e ao misticismo; muitas trazem enigmas e mesmo mistérios. Todos estes, no entanto, se estendem para além do escopo deste artigo".
Benny Shanon
Avoid Consumerism!
"A indústria dos sonhos não fabrica os sonhos dos clientes, mas introduz entre eles os sonhos dos fornecedores."
T. Adorno, O esquema da cultura de massas
5 de março de 2011
Utopia ou precipício (or bust)
Nunca ocorreu na historia um contraste tão deslumbrante entre o que poderia ser e o que realmente é.
Basta examinar hoje todos os problemas do mundo — a maioria dos quais são bem conhecidos, e meditar sobre eles normalmente não produz outro efeito senão tornar-nos menos sensíveis à sua realidade. Mas mesmo que sejamos “suficientemente estóicos para suportar as desgraças dos outros”, a grande deterioração social presente nos afeta a todos. Quem não padece a repressão física direta tem que suportar as repressões mentais impostas por um mundo cada vez mais medíocre, estressante, ignorante e feio. Quem escapa da pobreza econômica não pode escapar do empobrecimento geral da vida.
Mas nem mesmo nesse nível mesquinho a vida pode ser levada. A destruição do planeta pelo desenvolvimento mundial do capitalismo chegou a um ponto em que a humanidade pode extinguir-se em poucas décadas.
Mas, sem dúvida, este mesmo desenvolvimento baseado previamente na escassez material, tornou possível abolir ao sistema da hierarquia e da exploração, e inaugurar uma nova e genuina forma de sociedade livre.
Saltando de um desastre para outro em meio à demência coletiva e ao apocalipse ecológico, este sistema desenvolveu um impulso incontrolável até mesmo por seus supostos donos. Quanto mais nos aproximamos de um mundo em que não somos capazes de abandonar nossos guetos fortificados sem vigilantes armados, nem sair à rua sem aplicar proteção solar para não pegar um câncer de pele, mais se torna difícil levar a sério quem nos aconselha mendigar algumas reformas.
O que faz falta, creio, é uma revolução democrática-participativa mundial que aboliria tanto o capitalismo como o estado. Admito que é pedir muito, mas temo que não bastará nenhuma solução de menor alcance para atingir a raiz de nossos problemas. Pode parecer absurdo falar de revolução, mas todas as alternativas assumem a continuação do atual sistema, o que é ainda mais absurdo.
retirado de A alegria da revolução, Ken Knabb
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