A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

25 de março de 2011

Manifesto pelo Reencantamento do Mundo



Jovens e adultos, crianças e velhos de coração vivo, recusamos acreditar que a vida tenha que ser tão besta como nos tem sido apresentada. Um mundo em que todos têm que rosnar uns para os outros, e cumprir metas cinzentas, que ninguém sabe quem estabeleceu – nem a que levam.

Acontece que o suco da realidade está além do que pode ser reduzido a peso, medida, preço. Isso é só o esqueleto. Viramos um mundo de roedores de ossos. Queremos mais que isso. Podemos mais! Salvar Galileu e queimar Giordano Bruno deu numa civilização manca. Mas nós não embarcamos na viagem dos céus vazios e silenciosos (Nietzsche). Assumimos nossa porção índia e suas lições, e estamos vendo que o Universo é inteligente, e que todos os seres se comunicam em existência e em sentido. Tudo tem alma, sentido, consciência, intenção. Tudo dialoga com o
ser humano, se este quiser escutar.

Encantamento! Não, não falamos de simulacros, de sonhos enlatados disneyanos pintados em paredões sem vida, nem de telinhas fosforescentes numa vidaprisão. Falamos de consciência aguda do Momento e do Lugar. Você frente a frente com as coisas, cara a cara com a Vida. Vendo mundos em grãos de areia, e um céu numa flor do mato (William Blake).

Sábio é quem com tudo se espanta (André Gide). Gente como Goethe e Aristóteles via aí o princípio de toda Ciência; você acha bobagem? Olhos de criança ávida de conhecer o mundo! Todo Ser Humano é capaz de se encantar... e de em seguida reencantar o mundo. Com mãos de Amor.

É sério: só com profissionais encantados teremos mundo onde valha a pena viver. Não só os artistas e cientistas. Para o professor, é óbvio, essa é a primeira condição. Mas não basta: o DELÍRIO RESPONSÁVEL precisa chegar ao hardcore dos que fazem este mundo: engenheiros, advogados, administradores... Até que o sonho realize cidades menos irracionais, até que os funcionários dos três setores suicidem essa violência estéril chamada burocracia, até o último juiz enxergar que condicionar Justiça a "excelências" e "meritíssimos" é opressão indigna de subsistir num mundo digno de subsistir. Até que todas as relações humanas tenham rosto humano de novo.

Felicidade, sim!, como objetivo da sociedade! Economia, Desenvolvimento, Técnica, Poder como meios, jamais como razão das nossas escolhas. Servos da felicidade de todos os seres.

O que é preciso... é cultivar nosso jardim (Voltaire). Ser Humano e Natureza parceiros, mundo e vidas construídos como Arte. Dançar ao produzir... e dançar por dançar! Uma Ética nascida não de regras, mas da percepção do brilho nos olhos do outro. Humor, sempre – mas nunca sem Amor.

Mirantes em toda parte como investimento: afinal, sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho da minha altura (Fernando Pessoa). A cidade está produzindo multidões sem visão – e a solução não está em “líderes sábios”, pois podemos ser um povo inteiro de sábios. Visão e maravilhamento para todos!!!

Não, não adianta disfarçar: jamais haverá encanto verdadeiro enquanto for privilégio de poucos!Basta da falsidade do tal "princípio do proveito próprio" (Adam Smith), com sua mãozinha tão invisível quanto vendida, que construiu o inferno atual. Somente a ação altruísta é verdadeiramente humana! E dferente do engano oitocentista que ainda nos sufoca, a colaboração foi sempre mais decisiva para a evolução que a competição.

ENCANTAMENTO PARA TODOS pode salvar você do tiroteio: muros e grades jamais.

Sabemos como. Balas não voam sozinhas: seres humanos apertam gatilhos – porque seu olhar só aprendeu a ver monstros e carros reluzentes. Mas no meio do tiroteio colhemos flores – e plantamos. Contra a Cultura do Medo usamos a Magia da Verdade, e fazemos ver que nenhum ser humano é apenas monstro – nem dentro nem fora dos carros. Ainda no meio do caos recuperamos o poder de encantarse com estrelas, botões de flores, botões de gente.

Devolver às mentes as imagens seqüestradas do Bom, do Belo, do Justo, do Verdadeiro. Não, não é babaquice: ao cinismo tratamos com sua própria receita: mandamos embora, pois nunca nos deu nada que valesse a pena. Que acima de tudo se devolva a cada Ser Humano o seu direito máximo: a chance verdadeira de desenvolver livremente seus potenciais. Sobretudo, é claro, no nível do SER, porém sem negar a justíssima, enquanto modesta, importância do Ter.

ENCANTAMENTO PARA TODOS!

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