A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

5 de março de 2011

Utopia ou precipício (or bust)



Nunca ocorreu na historia um contraste tão deslumbrante entre o que poderia ser e o que realmente é.

Basta examinar hoje todos os problemas do mundo — a maioria dos quais são bem conhecidos, e meditar sobre eles normalmente não produz outro efeito senão tornar-nos menos sensíveis à sua realidade. Mas mesmo que sejamos “suficientemente estóicos para suportar as desgraças dos outros”, a grande deterioração social presente nos afeta a todos. Quem não padece a repressão física direta tem que suportar as repressões mentais impostas por um mundo cada vez mais medíocre, estressante, ignorante e feio. Quem escapa da pobreza econômica não pode escapar do empobrecimento geral da vida.

Mas nem mesmo nesse nível mesquinho a vida pode ser levada. A destruição do planeta pelo desenvolvimento mundial do capitalismo chegou a um ponto em que a humanidade pode extinguir-se em poucas décadas.

Mas, sem dúvida, este mesmo desenvolvimento baseado previamente na escassez material, tornou possível abolir ao sistema da hierarquia e da exploração, e inaugurar uma nova e genuina forma de sociedade livre.

Saltando de um desastre para outro em meio à demência coletiva e ao apocalipse ecológico, este sistema desenvolveu um impulso incontrolável até mesmo por seus supostos donos. Quanto mais nos aproximamos de um mundo em que não somos capazes de abandonar nossos guetos fortificados sem vigilantes armados, nem sair à rua sem aplicar proteção solar para não pegar um câncer de pele, mais se torna difícil levar a sério quem nos aconselha mendigar algumas reformas.

O que faz falta, creio, é uma revolução democrática-participativa mundial que aboliria tanto o capitalismo como o estado. Admito que é pedir muito, mas temo que não bastará nenhuma solução de menor alcance para atingir a raiz de nossos problemas. Pode parecer absurdo falar de revolução, mas todas as alternativas assumem a continuação do atual sistema, o que é ainda mais absurdo.

retirado de A alegria da revolução, Ken Knabb

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