Nunca ocorreu na historia um contraste tão deslumbrante entre o que poderia ser e o que realmente é.
Basta examinar hoje todos os problemas do mundo — a maioria dos quais são bem conhecidos, e meditar sobre eles normalmente não produz outro efeito senão tornar-nos menos sensíveis à sua realidade. Mas mesmo que sejamos “suficientemente estóicos para suportar as desgraças dos outros”, a grande deterioração social presente nos afeta a todos. Quem não padece a repressão física direta tem que suportar as repressões mentais impostas por um mundo cada vez mais medíocre, estressante, ignorante e feio. Quem escapa da pobreza econômica não pode escapar do empobrecimento geral da vida.
Mas nem mesmo nesse nível mesquinho a vida pode ser levada. A destruição do planeta pelo desenvolvimento mundial do capitalismo chegou a um ponto em que a humanidade pode extinguir-se em poucas décadas.
Mas, sem dúvida, este mesmo desenvolvimento baseado previamente na escassez material, tornou possível abolir ao sistema da hierarquia e da exploração, e inaugurar uma nova e genuina forma de sociedade livre.
Saltando de um desastre para outro em meio à demência coletiva e ao apocalipse ecológico, este sistema desenvolveu um impulso incontrolável até mesmo por seus supostos donos. Quanto mais nos aproximamos de um mundo em que não somos capazes de abandonar nossos guetos fortificados sem vigilantes armados, nem sair à rua sem aplicar proteção solar para não pegar um câncer de pele, mais se torna difícil levar a sério quem nos aconselha mendigar algumas reformas.
O que faz falta, creio, é uma revolução democrática-participativa mundial que aboliria tanto o capitalismo como o estado. Admito que é pedir muito, mas temo que não bastará nenhuma solução de menor alcance para atingir a raiz de nossos problemas. Pode parecer absurdo falar de revolução, mas todas as alternativas assumem a continuação do atual sistema, o que é ainda mais absurdo.
retirado de A alegria da revolução, Ken Knabb
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