Sky Ayahuasca and the Mother of the Forest
Elvis Luna, retirado de Red Cloud Indian Arts
"A ayahuasca é uma infusão vegetal psicoativa da Amazônia. Tipicamente, provoca poderosas visões, assim como alucinações em todas as demais modalidades de percepção. Essas experiências geralmente se associam a insights pessoais, ideações intelectivas, reações afetivas e experiências espirituais e místicas profundas. Também se observam alterações dos parâmetros básicos da experiência – identidade pessoal, conexão com o mundo exterior, temporalidade e os sentimentos de significação e de noese. No passado, a ayahuasca era um dos pilares centrais de várias culturas tribais da Amazônia. Hoje, a infusão ainda é instrumento corriqueiro dos curandeiros em toda a região. Além disso, no decorrer do século XX, constituíram-se no Brasil vários grupos religiosos sincréticos nos quais as tradições indígenas relativas à ayahuasca se combinam com elementos culturais não-indígenas – cristãos ou outros.
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Neste artigo, abordo a faceta mais conhecida da experiência da ayahuasca – a visual. As visões da ayahuasca são valorizadas em todos os contextos – tradicionais bem como modernos – nos quais a infusão é utilizada.
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Da literatura antropológica sobre a ayahuasca emerge um padrão surpreendente, que é o da recorrência de certos elementos comuns às visões provocadas pela infusão. Assim, em uma revisão da literatura antropológica (menos recente), Harner (1973b) conclui que os itens mais comuns nas visões relatadas por indígenas são cobras, jaguares, demônios e deidades, cidades e paisagens. Também se encontram, segundo seu relato, visões relativas à solução de crimes, vôos da alma e experiências de clarividência. Observações similares são apresentadas em Der Marderosian et alii (1970), Naranjo (1973a), Furst (1990) e Grob (1999).
A pesquisa aqui relatada tem por propósito estabelecer empírica e sistematicamente a recorrência, nas visões de diferentes pessoas, de elementos de conteúdo. Isso se dá mediante a comparação de dados fornecidos por muitos grupos de informantes, com diversas histórias pessoais e ambientes socioculturais variados; os informantes também diferem quanto ao nível de experiência com a infusão.
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As observações e reflexões acima marcam as limitações de várias linhas de teorização em psicologia. As recorrências transpessoais aqui discutidas continuam, em grau considerável, a desafiar o entendimento. Quanto a este caso, as teorias psicológicas não oferecem soluções bem definidas. Mais particularmente, eis alguns problemas que sinto que permanecem: serão as recorrências reflexo de repositórios de informações inconscientes distintos daqueles postulados pela literatura psicológica padrão? Ou eles sugerem, talvez, a existência de outras dimensões da realidade, de tipo platônico, e que não dependem da psicologia pessoal do indivíduo? Esta última possibilidade é, evidentemente, especulativa ao extremo. Se verdadeira, terá ramificações ontológicas e metafísicas radicais, e levará a uma Weltanschauung drasticamente distinta do padrão europeu ocidental. De fato, a experiência da ayahuasca levanta sérias questões filosóficas. Entre elas há questões relacionadas às inquietações humanas e à natureza da cultura, à estética, ética, teologia e ao misticismo; muitas trazem enigmas e mesmo mistérios. Todos estes, no entanto, se estendem para além do escopo deste artigo".
Benny Shanon
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