Primeiro, como salientamos nos últimos artigos,
partimos da hipótese de que neodesenvolvimetismo não é neoliberalismo.
Na verdade, neodesenvolvimentismo diz respeito a outro padrão de
desenvolvimento capitalista no interior da temporalidade histórica do
capitalismo global ou bloco histórico do mercado mundial sob o regime de
acumulação flexível predominantemente financeirizado. Na verdade, o
neodesenvolvimentismo no Brasil nasce da crise do modo de desenvolvimento
neoliberal no Brasil nos primórdios da década de 2000, embora ele próprio – o
neodesenvolvimentismo – não consiga romper o bloco histórico do capitalismo
neoliberal que deu origem a nova forma de Estado politico do capital (Estado
neoliberal), desenvolvida nos últimos trinta anos, tanto no centro quanto na
periferia capitalista desenvolvida. Nesse caso, o neodesenvolvimentismo no
Brasil é uma variante do desenvolvimento capitalista possível na periferia
capitalista inserida na macroestrutura do sistema do capital no plano mundial.
No Brasil, na década de 1990, a frente politica
do neoliberalismo vitoriosa nas eleições de 1989 (com Fernando Collor de Mello)
e depois, em 1993 (com Fernando Henrique Cardoso), adequou o capitalismo
brasileiro à nova ordem burguesa global, constituindo os pilares do Estado
neoliberal no Brasil, o Estado politico do capital adequado à nova
temporalidade histórica do capitalismo global ou bloco histórico da acumulação
flexível de cariz predominantemente financerizado (a frente política do
neodesenvolvimentismo ao assumir o governo em 2003, incapaz de alterar a forma
do Estado neoliberal, organizou seu plano de governo no interior da nova forma
estatal construída na década anterior).
Na década neoliberal no Brasil, ocorreu um
terremoto social que alterou não apenas a morfologia social do trabalho no
Brasil, mas também o perfil da grande burguesia brasileira. Nesse período, no
bojo da adequação à ordem burguesa global, consolidou-se um novo bloco de
poder no capitalismo brasileiro, a partir do qual se articulou inicialmente
a frente politica do neoliberalismo, com os partidos PSDB-PFL, que durante
quase dez anos, governaram o Brasil (1994-2002).
É importante esclarecer que bloco de poder
não se confunde com frente politica tendo em vista que frente politica é
a articulação de classes, camadas, frações e categorias sociais de classe, que
apoiam, por exemplo, um governo e sua estratégia politica.
Por
exemplo, o bloco de poder neoliberal é o bloco das classes dominantes
(com suas camadas, frações e categorias sociais) que mantém o poder do capital
nas condições do capitalismo global. A espinha dorsal do novo bloco de poder no
Brasil constituído na década neoliberal é constituída pelo capital financeiro
que possui vínculos orgânicos, por exemplo, com o agronegócio, empreiteiras,
grandes corporações industriais, grandes empresas de distribuição e serviços de
telecomunicações, inclusive fundos de pensões sob gestão estatal. Deste modo, o
bloco de poder neoliberal constitui uma “oligarquia financeira” que encontra no
aparato do Estado neoliberal, um veículo privilegiado de articulação sistêmica
(a frente política do neodesenvolvimentismo, que é governo, não conseguiu
romper com o poder dos grandes grupos financeiros).
Para mais:http://blogdaboitempo.com.br/2013/10/22/os-limites-do-neodesenvolvimentismo/
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