A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

15 de outubro de 2013

Poemas do Livro: "A solidão é um deus bêbado dando ré num trator"



Schopenhauer fumando oxi embaixo do viaduto da Avenida
[Djalma Batista
Brisa escrevendo belíssimos romances que jamais serão lidos
O sol sempre baixa dentro do abismo.

 x

Deus manda tsunamis como minha mãe joga farelos de pão no
[Rio Amazonas
Faz pequenos redemoinhos azuis no meio da confusão
Se eu fosse cineasta, pediria para ela lagrimar e falar bobagens
[de mansinho.
A gente pensa que não, mas os peixes entendem.

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Manuela de maiô amarelo dando braçadas no Rio Negro
Barco ancorado no cais onde turistas bebem amores na noite da
[memória
Fiz um pacto com o diabo para nunca morrer no domingo.

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É foda quando a música acaba e você não tem ninguém para dizer o quanto a vida é louca e ingrata.

x

Lirismo é quando a puta chora e ninguém acode.

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As coisas amarelam quando deixo de escrever poesia
Ausência de música
Fogos mudos desenhando caminhos de ternura perto da lua
Minha avó catatônica no sofá esperando deus dar jeito no mundo.


Mas, Deus não dá jeito no mundo, nem Deus, nem a garrafa de Passaport, nem a vodka Natasha, nem a cocaína e se o próprio poeta diz, em outro poema:

 A literatura não cura. A literatura adoece.

 Então o que dá jeito na vida?

Não sei.

Deus não se importa ou quem sabe seja um pouco sádico, ou esteja sempre bêbado, mas, escrever um bom poema, ter uma mulher ao alcance do braço, beber e comer não chega a ser ruim, e se tudo isso existe por obra de Deus, então Aleluia e me perdoe à blasfêmia.



Diego Moraes

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