A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

8 de outubro de 2013

Passeata em defesa da educação (07/10/13)

Ao se fazer uma análise crítica da patética cobertura do Globo sobre a passeata de ontem dos professores, corre-se o risco de cair na mesmice e dizer que a cobertura deu mais atenção à violência do que à própria passeata. Por esse caminho seguiu o Blog do Edgard na Carta Capital.

O que eu acho interessante na narrativa da grande imprensa é essa insistência de que os "mascarados se infiltraram" na passeata (que, de outra forma, seria legítima).

Pois eu vi ondas e ondas de Black Blocs sendo ovacionados ao chegarem na concentração da passeata na Candelária.

Eu vi os Black Blocs marchando com a passeata de maneira totalmente integrada à manifestação até a Cinelândia.

Eu vi, no final da passeata, a praça da Cinelândia lotada de pessoas que permaneceram lá enquanto tentavam arrombar as portas da Câmara Municipal. Pichações anarquistas e rojões lançados contra as fachadas do prédio eram aplaudidas. Quando a porta lateral da Câmara lambeu com fogo, os gritos da galera pareceram com aqueles de gol da seleção!

Vândalo lança morteiro no prédio da Câmara dos Vereadores Foto: Marcelo Piu / O Globo

"Não vai ter Copa!"

"Ei, Cabral, vai tomar no cú!"

Fiquei histérico e arrepiado, porque vi dezenas de milhares de pessoas gritando "hu, hu, hu, hu" - o grito de guerra do Black Bloc.

Estavam provocando, é claro, a polícia. Todos estavam provocando a polícia. Não só os "mascarados infiltrados". A própria manifestação, como um sistema complexo com propriedades emergentes, estava provocando a polícia.

Quando o Choque entrou, e veio a nuvem de gás lacrimogênio, as pessoas começaram a se retirar calmamente. Os que passavam mal eram amparados pela galera. Outros brincavam: "É tempero!". Ou: "Já tamo acostumando!"

"Não adianta me reprimir, esse governo vai cair!"

"Ô, Cabral é ditador!"

Perguntei pra uma senhora, uma merendeira com camisa da Greve, o que ela achava daquilo. Se o Black Bloc ajudava ou atrapalhava. Ela disse: "Ajuda! Claro que ajuda! São anjos que vieram pra salvar o Mundo!"

Os meninos e meninas de preto, máscara, óculos e luvas eram dezenas em junho. Depois eram centenas. Ontem foram milhares.

Já perto da Lapa, a multidão dispersando cantava: "Amanhã vai ser maior! Amanhã vai ser maior!"

Na Glória os bares estavam repletos de jovens fedendo a vinagre, as caras ainda brancas de pimenta, bebendo, rindo e comemorando.

Amanhã vai ser maior!

Gonzo

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