R.A.U.L.
Red Anarco Utopista Libre
A Caverna
Jean Louis Battre, 2010
4 de janeiro de 2024
astronauta
30 de março de 2023
palavras sublinhadas
entre as pedras da cidade
4 de março de 2023
sabedoria ausente
morrer-se um pouco
esquecer um pouco do que somos
para nos tornamos mais dispersos
pois o vento traz palavras novas
e as frases capturadas desta forma
farejam uma sabedoria ausente na ciência
17 de fevereiro de 2023
na última sexta feira
na última sexta feira
perdi as pedras que tinha no meu bolso
aquelas que trouxemos da viagem
na última sexta feira
morri um pouco em mim mesmo
escrevi bilhetes dentro do ônibus
arrastei o tempo que trazia dentro
na última sexta feira
a morte se faz presente com seus silêncios
com sua tecnologia
com seus pedidos de desculpa
(sua culpa mal resolvida)
seus tribunais
inerte
no meio da sala
na sexta feira
na praça de alimentação
com um bilhete no bolso
com todas as conivências e aderências
com todos os seus votos
seus drones
suas valas políticas
e seus saltos soltos
seu olhar absorto
na última sexta feira...
perdi um poema no meu bolso
é um pouco de vida
que luta contra a morte
te entreguei uma cidade decadente
te entreguei uma cidade decadente
uma cidade submersa em nuvens de gás lacrimogêneo
uma cidade sitiada por uma beleza claustrofóbica
uma cidade assombrada
carne ácida
entranha subterrânea
sopro agonizante
meu presente:
poema mórbido que devora carne humana
poema que naufraga nas palavras
atravessamos a cidade que nos atravessa
arrancamos seu asfalto com as mãos
sangramos em silêncio
sagrando o solo
avançamos sobre a noite
resistimos à maré do sono
o poema, deus absurdo
que devora as palavras sem lugar no mundo
nos incita a abandonar a arquitetura automática dos dias
mergulhamos um no outro
perante mil olhos carnívoros e cortinas mortas
garganta que arranha a alma
mortalha de retalhos que se pensam vivos
paralisados nas esquinas mórbidas
a cidade é um poema submerso
escondido no fundo das gavetas
um deserto que habita nossos corpos
a cidade aproxima nossas mãos
numa caligrafia trêmula de palavras mudas
e viagens esquecidas
a intimidade da tua mão atravessa o meu silêncio
Salvador Passos
13 de janeiro de 2023
Será
Será que temos a magia na ponta de nossos sonhos/será que evocaremos a imortalidade e escolheremos um nome pra ela/será que seremos outros pela via de nossos quereres/será que seremos outros seres/deuses sem saberes/tão crianças quando o ser que não tem nome/será que seremos labirintos de incertezas/caminho para realização de outra vida/qual o nome sintetiza todas estas dúvidas/oh, futuro que se posta e se une ao passo do que um dia fomos/"a escola, o primeiro dia de aula/será que seremos bons/as lições que não aprendemos saberemos como transmiti-las"
Salvador Passos