A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

14 de agosto de 2014

sede

ser a sede que não cede

Salvador Passos

o ônibus


De Paul Kirchner  O ilustrador norte-americano fez a série “The Bus” entre 1978 e 1985 para a revista de quadrinhos Heavy Metal, na qual publicava mensalmente. Nestas tiras, Paul inventa pequenas histórias envolvendo ônibus — sempre surrealistas e bastante existencialistas.

11 de agosto de 2014

achava

achava que poema
era por poesia na palavra
poema vem de antes
vem de dentro do não sei
se pega o dizer pela palavra
e se arranca novidades
amarrar silêncios não alcança
cansa mesmo
como aquele olhar que não atina as coisas

Raimundo Beato

7 de agosto de 2014

Febre do Rato - o poema Zizo



O satélite é a volta do mundo,
abismo de coisas medonhas,
pessoas que ladram seus sonhos,
enfeites de cores errantes...

Cálida vizinha e princesa
magra e sua sã loucura,
grita de alegria, subúrbio!

Chora de medo o planeta.
Medidas em saias bem curtas,
bonecas, ladrões, pernetas...

Mundo abismo, grande mundo.
Logo ali, por trás do mangue,
descansa a insônia,
a faca, o serrote, o sexo, o sangue


Abismo, mundo escuro
profundo buraco,
lateja o fardo de tuas ruas,
lateja o grito ruminante.

Gritos de "não", mundo e abismo.
Gritos de "não"!Para o meu abismo mundo.

Zizo

MONTE CASTELO



Ontem antes de dormir
Eu vi o “ônibus mágico”
Senti saudades do Alasca
Engraçado, eu nunca estive no Alasca,
A não ser através de mapas, livros, fotos, música, filmes,
E poesia.
 

1 de agosto de 2014

manchas

ler no solavanco das sílabas
o sinônimo ausente
o vento
o tempo
o esquecimento

poema é manchar a página com silêncios

Salvador Passos