A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

31 de agosto de 2012

gago ga-gá

vejo poetas gagos
gagueira dos versos ecos
ecoam os nossos sonhos
o verso do gago é porto
e tonto eu aconteço
o verso do gago é gago
en guard gagueira trava
o gago gá-gá-
ga-guei-ja
ecoa o ponto cego
no meio do metro torto

Salvador Passos

30 de agosto de 2012

caro ácaro (a vida é curta pra ser pequena)


I

bailar
como um dervixe
como um zulu

bailar
e abolir o fixo
o estável o previsto

bailar
e bulir com as células
a linfa o plasma

bailar
e fluir como um rio
e flanar pelo rio

bailar

II

dançar
e não estagnar, carne triste
em presídios, hospícios, escritórios

dançar
e deixar o corpo ditar o rítmo
e deixar a boca soltar a voz

( quem sou eu para contrariar meu corpo
aliás, quem sou eu senão meu corpo?
quem é esse que diz eu?

um anãozinho com distúrbios sexuais?
um infeliz que se faz de vítima?
um bípede implume? um impostor vulgar? )

dançar

Chacal

“Querem vencer Assange pelo cansaço”




Noam Chomsky: “Querem vencer Assange pelo cansaço”

Nesta entrevista ao site equatoriano GkillCity, o linguista e filósofo norte-americano defende que Assange não teria hipóteses de ter um julgamento justo nos Estados Unidos. Chomsky acrescenta que do ponto de vista de quem ama a democracia, o fundador do Wikileaks merecia "uma medalha de honra" em vez de um julgamento. "A sombra que paira sobre todo este assunto é a expectativa de que a Suécia envie rapidamente Assange para os EUA, onde as hipóteses de ele receber um julgamento justo são virtualmente zero".

José Maria León - Gkillcity

O governo norte-americano emitiu uma nota em que declara que este assunto Julian Assange é um problema de britânicos, equatorianos e suecos. Você acha esse argumento honesto? Os EUA estão interessados no destino do criador do Wikileaks?

A declaração não pode ser levada a sério. A sombra que paira sobre todo este assunto é a expectativa de que a Suécia envie rapidamente Assange para os EUA, onde as hipóteses de ele receber um julgamento justo são virtualmente zero. Tudo isso é evidente a partir do tratamento brutal e ilegal dado a Bradley Manning [o soldado norte-americano acusado de ter vazado as informações mais importantes que o Wikileaks publicou], e a histeria geral com que o governo e os media vêm tratando o caso.

Além disso, do ponto de vista de quem acredita no direito dos cidadãos a saber o que seus governos planeiam e fazem – ou seja, de quem tem afeto pela democracia – Assange não deveria receber um julgamento, mas uma medalha de honra.

Numa entrevista com Amy Goodman para o Democracy Now!, você afirmou que a principal razão para os segredos mantidos pelos Estados é protegerem-se da sua própria população. É a primeira vez na história em que o mundo vê as verdadeiras cores da diplomacia?

Qualquer um que estuda documentos cujo prazo de sigilo expirou, percebe que o segredo é, em grande parte, um esforço para proteger os políticos dos seus próprios cidadãos – e não o país dos seus inimigos. Sem dúvida o segredo é por vezes justificado, mas é raro – e no caso dos documentos expostos pelo Wikileaks, eu não vi um único exemplo disto.

Esta não é – de maneira nenhuma – a primeira vez que as verdadeiras “cores da diplomacia” foram expostas por documentos divulgados. Os Pentagon papers são um caso famoso. Mas a questão é que se trata de um tema recorrente. As informações contidas inclusive nos documentos desclassificados oficialmente são, em geral, muito impressionantes. Porém, muito raramente estas informações tornam-se conhecidas pelo público – e até pela maior parte dos académicos.

Sobre o asilo oferecido pelo Equador para Assange, aponta-se uma ambiguidade na atitude do governo de Rafael Correa. Por um lado, manteria confronto retórico constante com os media (estando em disputa judicial com o diário El Universo e o jornalista Juan Carlos Calderón e Christian Zurita, autores do livro Big Brother). Por outro, defende Julian Assange. Você também vê uma contradição nisso?

Pessoalmente, acho que só em circunstâncias extremas o poder do Estado deveria limitar a liberdade de imprensa – não importando, a esse respeito, quão vergonhoso e corrupto seja o comportamento dos media. Não há dúvida que houve vários graves abusos – por exemplo, quando as leis de difamação inglesa foram usadas por uma grande empresa mediática para destruir um pequeno jornal dissidente, que publicou uma crítica a uma de suas notícias sobre um escândalo internacional. Ocorreu há alguns anos, e não despertou praticamente nenhuma critica.

O caso do Equador tem de ser analisado pelos seus méritos, mas qualquer que seja a conclusão, não há qualquer influência em dar asilo ao Assange; assim como a supressão vergonhosa da liberdade de imprensa, no caso que mencionei, não deveria pesar, se a Grã-Bretanha concedesse o direito de asilo a alguém que teme perseguição estatal. Nem ninguém afirmaria o contrário, no caso de um poderoso Estado ocidental.

Já que estamos falando de ambiguidade, haveria um duplo padrão na aplicação das leis pelos britânicos, já que no caso de Pinochet o pedido de extradição solicitado por Baltazar Garzón foi negado?

O padrão reinante é subordinado aos interesses de poder. Raramente há uma exceção.

Qual é, na sua opinião, o futuro imediato no caso Assange? A polícia britânica invadirá a embaixada equatoriana? Assange será capaz de deixar a Inglaterra? Mais tarde, estará em perigo, mesmo recebido pelo Equador?

Não há praticamente nenhuma possibilidade de Assange sair do Reino Unido, ou da embaixada. Duvido bastante que a Inglaterra invada o território, uma violação radical do direito internacional – mas esta hipótese não pode ser descartada. Vale a pena lembrar o ataque contra a embaixada do Vaticano, por forças norte-americanas, depois da invasão no Panamá, em 1989. As grandes potências normalmente consideram-se imunes à lei internacional; e as classes próximas ao poder costumam proteger essa postura. Ao meu ver, a Inglaterra tentará vencer Assange pelo cansaço, esperando que ele não consiga suportar o confinamento num pequeno quarto na embaixada.

Num aspecto mais amplo, Slavoj Zizek disse que não estamos a destruir o capitalismo, mas apenas a testemunhar como o sistema se destrói a si mesmo. Seriam os movimentos do Occupy, a crise financeira na Europa e nos EUA, a ascensão da América Latina e outros países marginais ou o caso Wikileaks sinais deste desmoronamento?

Longe disso. A crise financeira na Europa poderia ser resolvida, mas está a ser usada como uma alavanca para minar o contrato social europeu. É basicamente um caso de guerra de classes. A atuação do banco central dos EUA (o Federal Reserve) é melhor do que a do europeu, mas é muito limitada. Outras medidas poderiam aliviar a grave crise no EUA, principalmente o desemprego. Para a maior parte da população, o desemprego é a principal preocupação, mas para as instituições financeiras, que dominam a economia e o sistema político, o interesse está em limitar o déficit, para permitir que prossiga o pagamento de juros.

Em geral, há um enorme abismo entre a vontade pública e política. Este é apenas um caso. A ascensão da América Latina é um fenómeno de grande significado histórico, mas está longe de estremecer o sistema capitalista. Embora o Wikileaks e os movimentos Occupy sejam irritantes para os que estão no poder – e um grande apoio para o bem público –, não são uma ameaça para os poderes dominantes.

(*) Entrevista por José Maria León, publicada no site Gkillcity | Tradução: Cauê Ameni, para o site Outras Palavras.

Como parar de fumar


26 de agosto de 2012



Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar

Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar

Tom Zé

descontrários

é este vazio que nos enche
esta dúvida que nos dá certeza
este verso perdido nas páginas rasgadas
esta fé na descrença
uma verdade tão intensa que nos atravessa a vida inteira
como a metade que nos falta
esta falta que completa
esta dúvida que responde
este nunca é meu sempre

Salvador Passos

24 de agosto de 2012

pássaros

dizer é como um braço que se estica em direção ao horizonte
o não tocar destes dedos são palavras

busco com as palavras tocar coisas
mas nada cabe neste não tocar 

as palavras como pássaros podem tocar o céu por entre as asas do dizer
como um vento que sopra para além de algo
o horizonte está além desta mão esticada para o nunca

(sempre é tão nunca)
assim é tudo o que somos
tão tudo

tão pouco
Como entender isto que se passa tão além de tudo?
as palavras são como pássaros soltos no céu de nossos pensamentos
são os pássaros deste não entender
nos levam em vôos cada vez mais altos
voam para longe de tudo que somos

como tocar o mais além senão por intermédio das palavras?

as palavras encontram tão somente aquilo que mandamos que elas busquem
E desiludidas voltam ao seu ninho nos galhos de nós mesmos

Quem está na sombra disto tudo?

A poesia é a voz desta saudade

Salvador Passos

11 de agosto de 2012

L’An 01 (O ano 01)



Em O ano 01, a força de 1968

Produzido no início dos anos 70, com múltiplas referências à estética HQ, filme de Jacques Doillon imagina uma greve geral contra o capitalismo. Contra-sistema, contracultura, contra-cinema. Deliciosa, absurda e irreverente anarquia, indispensável quando o sistema se pretende avassalador
Bruno Carmelo - (19/05/2008)

E se o mundo combinasse, de um dia para o outro, parar de trabalhar? Se os operários largassem as fábricas, os bancários abandonassem os bancos, os estudantes parassem de ir às escolas e todos cruzassem os braços contra o sistema? Esse seria o utópico “ano 01” do título, referente ao começo de uma vida nova.

O diretor Jacques Doillon assina a direção do roteiro, escrito pelo cartunista Gébé. Embora não se trate de um desenho animado, é essa linguagem que inspira o caminhar da narrativa. As passagens são fragmentárias, desconectadas entre si, e cada uma contém um humor e uma piada em especial. Aos poucos, essas várias “charges cinematográficas”, ou “desenhos animados filmados”, unem-se e passam a constituir uma narrativa.

Afinal, para conteúdo subversivo, estética subversiva. Doillon vai ao fundo de sua proposta e faz um filme sem personagens principais. Os atores são centenas de conhecidos (Gérard Depardieu, Thierry Lhermitte, Miou-Miou, Coluche), que aparecem em pequenas pontas, mas nunca reaparecem. O grande personagem, aqui, é o povo, ou então a revolução.
Neste mundo utópico, essas vozes são caladas pelo povo, que adere em massa à greve e se recusa a retornar ao sistema capitalista


"E se o mundo combinasse, de um dia para o outro, parar de trabalhar? "
A produção data de 1972, portanto, ainda no calor do maio de 68, dos ideais jovens e do movimento hippie. Engraçado notar que essa colagem enlouquecida passa a constituir um verdadeiro documento histórico (sobre a ascenção da prática de liberdade e igualdade) e ideológico (sobre o desenvolvimento das idéias que permitiram esses eventos de se produzirem).

A anarquia de Doillon e da época não se baseia no contra-governo a na tomada de poder, mas na idéia anterior (e um tanto romântica) de ausência de poder. Nesse pensamento, a terra (agricultura) oferece tudo que o homem precisa. Logo, não haveria desejo de enriquecimento. O dinheiro perderia sentido e o trabalho se reduziria ao mínimo necessário para o consumo.

Logicamente, sempre há aqueles — patrões, presidentes — que pedem um retorno à norma e pensam na possibilidade de se aproveitar da situação para voltar a estocar produtos e constituir monopólio em seus ramos de produção. Entretanto, neste mundo utópico, essas vozes são caladas pelo povo, que adere em massa à greve e se recusa a retornar ao sistema capitalista.

Doillon leva sua proposta às últimas conseqüências e visualiza todos os efeitos dessa paralisação na sociedade: quebra das bolsas de valores norte-americanas (em cena dirigida pelo convidado Alain Resnais), melhora de vida nas colônias africanas (cena filmada por Jean Rouch), o fim da idéia de propriedade e posterior abolição das prisões, produção artística renovadora e mesmo um pequeno Museu de “objetos inúteis” ligados à vida consumista, como lustres e máquinas de lavar.

O filme termina nesse ritmo intenso de amor livre, cultura revolucionária e ideologia anarquista global. Pelo menos aqui, os eventos históricos não vêm dissolver o movimento, e nenhuma pressão põe em cheque o futuro do grupo. É difícil não se contaminar, quase 40 anos depois, pelo tom febril dessa nova sociedade que nos parece, na época de um capitalismo cada vez mais avassalador, de um absurdo deliciosamente cômico.

L’An 01 (1973)
Filme francês dirigido por Jacques Doillon (com Alain Resnais e Jean Rouch).
Com Cabu, François Cavanna, Gérard Depardiu, Gerard Junot etc.
Duração: 1h27.

7 de agosto de 2012

plenitude


o hiato entre você e eu
é como um espelho
que mede a distância entre o falso e a farsa
como um Narciso do avesso
eis que fomos plenos no silêncio
é só assim que se é pleno
na noite
no silêncio
ou lendo um livro de Neruda

Raimundo Beato 

4 de agosto de 2012

Banksy-Palestine








Senhor Palestino: Ei, você que pinta o muro, você faz esse muro ficar bonito.

Banksy: Obrigado.

Senhor Palestinho: Nós não queremos que o muro seja bonito, nós destestamos este muro, vá embora


1 de agosto de 2012

Free Pussy Riot!

Pussy Riot are a riminder that revolutions always begins in culture


Some people have their eyes on the prize. A prize beyond medals. That prize is freedom, freedom of expression, freedom to protest. I am talking about Pussy Riot, who are drawing the eyes of the world to what is happening in Russia. Pussy Riot – crazy punks, yeah? No, they are not crazy, daft or naive. They are being tried for blasphemy in what is still, nominally, a secular state. They are highlighting what happens to any opposition to president Vladimir Putin and, indeed, they do look fabulous. If you want to see protest as art or the art of protest, look at these women and their supporters. 


Described as punk inheritors of the Riot Grrrl mantle, they are so much more. They are now on trial in Moscow for a crime that took 51 seconds to commit. Please watch it on YouTube. They mimed an anti-Putin song in the main Orthodox cathedral wearing their trademark balaclavas and clashing colours. For this "hooliganism " and "religious hatred", the three women have already served five months in jail. They now face a possible seven-year sentence, in a country where fewer than 1% of cases that go to trial end in a not guilty verdict.

Pussy Riot function symbolically as the head of a protest movement in Russia that is being shut down. Bloggers have been arrested, and people are scared to express any anti-Putin sentiment. Only state-sanctioned demonstrations are allowed. The slide into dictatorship is apparent and, significantly, one of the biggest benefactors has been the church, which has performed a massive "land grab". Pussy Riot exist to draw attention to precisely what is so disturbing, a totalitarian nation where the church and state are become one. Some have warned that Russia is becoming a new entity, a Christian fundamentalist state. Members of the Orthodox church have said the separation of the secular and the spiritual is "a western idea". This what Pussy Riot are up against.

The women have been called Satanists by state prosecutors and various priests, though their supporters paint them as sweet young mothers. Doubtless they are, but they are also cleverly using long-established forms of anonymous anarchic protest. The balaclavas mean anyone can be Pussy Riot. The Guerilla Girls in the Art World did this. An anarchist "strike" once involved all of us writing with the byline Karen Eliot. Occupy does it. The dull and respectable left too often ignores the genius of these forms of dissent.

Indeed, as Tobi Vail of Bikini Kill, one of Pussy Riot's inspirations, says, these methods of protest cannot be jailed. Their name itself is to oppose the idea of the feminine as "receiving"; instead the female sex organ, they say, can "suddenly start a radical rebellion against the cultural order". These women have read everything from Simone de Beauvoir to Judith Butler and Rosi Braidotti. They know what they are about.

No wonder the patriarchs of Russia are worried. Pussy Riot have spread the word, and the word is that their "great leader" resembles a Gaddafi or Kim Jong-un. They have done so through a series of cunning stunts and are now recognised as prisoners of conscience by Amnesty. Sting has worn a Pussy Riot T-shirt, though I would prefer to see all the rock stars in balaclavas and for Madonna to get one as soon as possible.
What Putin cannot stop, though, is a concept. Pussy Riot are essentially conceptual artists. This is what makes them threatening – it is not possible to imprison a concept. The celebration of rock and punk as anthemic that we saw last week was lovely, but Pussy Riot are a reminder that revolution always begins first in culture, in the radical act. In the society of the spectacle, that act – Pussy Riot's sporadic performances – get YouTube hits and retweets. In these days of Twitter shallows, remember it is the virtual world that has pushed Pussy Riot into the spotlight and in the real world they are in prison.

If ever we needed an anarcho-feminist protest, it is now. But I would say that, wouldn't I? Sure, the unimaginative can reduce this to "Punks against Putin" and say these women have no manifesto. They are up to something else altogether: making complicated points look simple. They are the opposition and they are girls with guitars and knitted hats, not men with guns. This is wonderful.

For some, anarchism has always been an inherently feminist philosophy as it opposes relationships based on power. Pussy Riot come from the country where Bakunin argued against Proudhon for the equality of women and against the authoritarian family. It is also the country of another woman who walked the walk: Emma Goldman. She saw anarchic protest as a legitimate opposition against government control. Of such protests she said: "It seems to me that these are the new forms of life, and that they will take the place of the old, not by preaching or voting, but by living them."

Pussy Riot are these new forms of life, even as they sit in a cage – an actual cage – facing these ridiculous charges because Putin is threatened. He should be. It cannot be said enough. We are all Pussy Riot. 
Suzanne Moore

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2012/aug/01/pussy-riot-reminder-revolution-culture/print

Nossa realidade se desmorona

Li em Chestov que a partir de Dostoievsky os escritores começam a luta por destruir a realidade. Agora a nossa realidade se desmorona. Despencam-se deuses,valores,paredes...Estamos entre ruínas. A nós ,poetas destes tempos,cabe falar dos morcegos que voam por dentro dessas ruínas.Dos restos humanos fazendo discursos sozinhos nas ruas. A nós cabe falar do lixo sobrado e dos rios podres que correm por dentro de nós e das casas. Aos poetas do futuro caberá a reconstrução- se houver reconstrução. Porém a nós, a nós, sem dúvida-resta falar dos fragmentos,do homem fragmentado que, perdendo suas crenças, perdeu sua unidade interior. É dever dos poetas de hoje falar de tudo que sobrou das ruínas- e está cego. Cego e torto e nutrido de cinzas(...)
Manoel de Barros