A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

27 de dezembro de 2012

Livre-arbítrio

Todo mundo é toureiro.
Cada um escolhe o
touro que quiser na vida.
O toureiro escolheu o
próprio
touro.

Cacaso

26 de dezembro de 2012

os nomes

I

o nome não diz de onde veio
nem fala porque nomeia
o nome apenas nomeia as coisas que as coisas não falam
o nome apenas nomeia
aquilo que o nome ignora


II

o nome só chama o meu nome
não chama a chama que queima
o nome que chama a mim mesmo
é chama que queima em meu peito
(inflama sem nome no meio)

III

este nome que me chama
não me chama
pois a chama que inflama o meu nome
não me chama neste nome que me deram
clamo por dizeres outros
e palavras outras
sou o outro nome
não o nome mesmo
este outro esmo do dizer mais solto
este nome chama e inflama

Salvador Passos

Querido Papai Noel...


23 de dezembro de 2012

Anti-amor

O amor fica chato e fiscalizador, burocratico e reumatizador
O amor enferruja
O amor oprime
O amor constrange
O amor reprime
O amor é um saco
O amor é um mito

O bardos que exaltam o amor
Faturam empregadas, cunhadas e tias da amada.

Amor é mito híbrido e samba do coração doido: é a tara de um sátiro, fantasiada por uma ninfa reciclada em noiva utopista, sustentado por maridos cármicos em aquiescencias tácitas e exaltado por poetas que a tudo exaltam.

O amor causa labaredas provisórias e lares abafados. O amor causa equívocos variados.

O amor é massiva propaganda melosa e fascista, e mocinhas hitlerizando dechavadas a mensagem, sorrateiras e decotadas. Danadas... propagandistas danadas... publicitárias de exageros emotivos, seres sôfregos de compromissos...

O amor é babaca, elitista, afasta muito indio da tribo, favorecendo a globalização

Quantos amores não resultaram em apáticas tribos de dois? Paralelos solitários? O casamento é um hifén com superbonder.

O amor é um evangelismo poético, o amor é uma fantasia; diante da vida, uma heresia.

O amor é uma mentira. Gigante e dominante. Mas mentira. O amor é matrix. Estamos todos numa bolha de ilusões gosmentas.

O amor é precipício vendido como grande destino turístico.

O amor é uma convenção, o amor é uma entrega do oscar, o amor é um oscar, o amor é uma novela, o amor é um big brother, o amor é um big bi, o amor se multiplica pra fingir que existe! O amor é uma novela da record.

O amor é xoxotocêntrico monoxoxoteiro monopiroqueiro paumonoentrante e antiquado

O amor é ui ui ui ai ai ai e geme geme urra relaxa

O amor é um figurino de época sobre um ator artaudiano

O amor é um vício;

O amor segue um plano

Afastar o ser em prol do rito, afastar o saber do mito, prosperar a ilusão.

O amor é a estratégia simbólica dos aflitos.

O amor é um golpe do romantismo

O amor é reacionário e beato

O amor é um sistema carcerário

O amor faz penitenciários

....

Aperta um amor, vai... que eu sou usuário....

Marcus Galiñas

18 de dezembro de 2012

In Back of the Real

Ginsberg from Nice Shoes on Vimeo.


railroad yard in San Jose
I wandered desolate
in front of a tank factory
and sat on a bench
near the switchman's shack.

A flower lay on the hay on
the asphalt highway
--the dread hay flower
I thought--It had a
brittle black stem and
corolla of yellowish dirty
spikes like Jesus' inchlong
crown, and a soiled
dry center cotton tuft
like a used shaving brush
that's been lying under
the garage for a year.

Yellow, yellow flower, and
flower of industry,
tough spiky ugly flower,
flower nonetheless,
with the form of the great yellow
Rose in your brain!
This is the flower of the World.

Allen Ginsberg

13 de dezembro de 2012

Apoia a luta por nosso futuro: a hora da soberanía alimentar é agora!



Vía Campesina

Movimento internacional de camponeses e camponesas, pequenos e médios produtores, mulheres rurais, indígenas, gente sem terra, jovens rurais e trabalhadores agrícolas

Adital

Tradução: ADITAL

Chamado a apoiar a Vía Campesina: A Vía Campesina necessita de fundos para levar a cabo sua grande tarefa de organizar as/os agricultores de todo o mundo para defender os direitos do povo a comer e a produzir alimentos sem destruir o planeta. Sua contribuição a nosso fundo pelo 20º Aniversário fará a diferença.

1993-2013: 20 anos de luta!

Em 2013, a Vía Campesina celebrará seu 20º aniversário. Há quase 20 anos, em 1993, um grupo de camponeses –homens e mulheres- dos quatro continentes fundaram o movimento em uma reunião em Mons, Bélgica. Nesse momento, as políticas agrícolas e a agroindústria estavam globalizando-se e os camponeses/as tiveram que desenvolver uma visão comum e organizar a luta para defender a agricultura camponesa. As organizações de pequenos/as agricultoras também queriam que suas vozes fossem escutadas e garantir a participação direta nas decisões que afetavam suas vidas. Através dos últimos 20 anos, as lutas locais das organizações nacionais fortaleceram-se por sua participação nesse movimento camponês internacional tão vibrante, inspiradas na luta comum e na solidariedade e no apoio de outras organizações.

Hoje, a Vía Campesina é reconhecida como um ator principal nos debates sobre a alimentação mundial e a agricultura. É reconhecida por muitas instituições mundiais, como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), a Convenção Marco das Nações Unidas para a Mudança Climática (Cmnucc), o Comitê de Segurança Alimentar (CSA) das Nações Unidas, o Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU e a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB); e é amplamente reconhecida entre tantos outros movimentos sociais do âmbito local ao global.

A Vía Campesina converteu-se em um movimento global chave. Atualmente, conta com cerca de 150 organizações de agricultores/as locais e nacionais em 70 países da África, Ásia, Europa e Américas. Em conjunto, representam ao redor de 200 milhões de camponeses/as unidas em uma luta comum para tornar possível a soberania alimentar. Isso inclui:

- a defesa de um sistema alimentar que coloca à disposição das populações locais alimentos saudáveis, facilitando-lhes meios de vida;

- a promoção do modelo camponês de produção agroecológica de alimentos destinados primordialmente aos mercados locais que sustentarão os subministros de alimentos, de forma equitativa e sustentável, agora e para as gerações futuras;

- o reconhecimento do direito de camponeses/as de todo o mundo –que, atualmente, alimentam 70% dos povos do mundo- para ter uma vida digna sem a ameaça da criminalização;

- garantir o acesso à riqueza natural –terra, água, sementes, raças de gado- necessária para a produção agroecológica de alimentos;

- o rechaço à agroindústria corporativa, ao modelo neoliberal de agricultura e aos instrumentos e às pressões comerciais que o sustentam.

A Vía Campesina tem dado passos significativos na promoção da soberania alimentar baseada na produção sustentável de alimentos pelo campesinato e pelos pequenos/as proprietários como solução à atual crise global multidimensional. A soberania alimentar é a base fundamental das mudanças necessárias para construir o futuro que queremos, e é o único caminho real que poderá alimentar a toda a humanidade e respeitar os direitos da Mãe Terra. No entanto, para que a soberania alimentar funcione ainda necessitamos uma verdadeira reforma agrária que mude os sistemas e as relações estruturais que regem recursos como a terra, as sementes e a água. À medida em que a crise climática vai se aprofundando, deixamos claro em inúmeros fóruns mundiais que nossas formas de produção agroecológica e sustentável em pequena escala esfriam o planeta, cuidam dos ecossistemas, geram emprego e garantem o subministro de alimentos para os mais pobres. A Vía Campesina está convencida de que para gerar uma mudança social profunda devemos construir e fortalecer nossas alianças com outros setores da sociedade.

Ajuda-nos a intensificar os esforços nos próximos anos:

•Para aumentar a incidência e a defesa da soberania alimentar tanto em instituições internacionais, como ante governos nacionais.

•Para fazer ouvir as vozes dos camponeses/as em todo o mundo, com uma comunicação mais eficaz.

•Para esfriar o planeta mediante a multiplicação da agricultura camponesa sustentável através da agroecologia.

•Para preservar a biodiversidade e defender a soberania com relação às sementes, mediante o apoio aos agricultores/as, facilitando intercâmbios de sementes camponesas.

•Fortalecer a liderança das mulheres e dos/as jovens na luta pela soberania alimentar.

•Incrementar a luta para recuperar os recursos naturais dos povos: a terra, a água e as sementes.

Tua colaboração financeira contribui para um sistema alimentar solidário baseado na dignidade

A Vía Campesina necessita fundos para realizar sua grande tarefa de organizar as/os agricultores/as de todo o mundo para defender os direitos do povo a comer e a produzir alimentos sem destruir o planeta. Sua contribuição ao nosso fundo pelo 20º aniversário fará a diferença.

Por Internet:

DOAR (coluna direita)

Através de conta bancária

Titular da conta: ASOCIACIÓN LURBIDE – EL CAMINO DE LA TIERRA

Endereço: Murueta, 6 – 48.220 Abadiño (Bizkaia) – País Vasco

País: ESPANHA

Nome do banco: IPAR KUTXA

Nº de conta: 3084 0023 5964 0006 0447

IBAN: ES74 3084 0023 5964 0006 0447

SWIFT/BIC: CVRVES2B

Quem é a Vía Campesina? A voz das camponesas e dos camponeses do mundo (espanhol).

Mais informação em www.viacampesina.org

12 de dezembro de 2012

Demanding the impossible

Demanding the impossible: A history of anarchism - Peter Marshall

Navigating the broad 'river of anarchy', from Taoism to Situationism, from Ranters to Punk rockers, from individualists to communists, from anarcho-syndicalists to anarcha-feminists, Demanding the Impossible is an authoritative and lively study. It explores the key anarchist concepts of society and the state, freedom and equality, authority and power and investigates the successes and failure of the anarchist movements throughout the world.




Manifestação contra o Genocídio da Juventude Negra Pobre Periférica
















Saiba mais:

Marcha denuncia mortes e racismo na periferia de São Paulo

7 de dezembro de 2012

Palhaceata

Texto a partir do seminário "A alegria é a prova dos nove: o lugar social e crítico do riso na cultura brasileira.

 http://www.anjosdopicadeiro.com.br/2012/12/texto-partir-do-seminario-alegria-e.html

Pensar a cultura brasileira através do riso faz parte da dificuldade de pensar o riso enquanto potência. Difícil por que o riso se inscreve em lugares mais ou menos marginais à dita cultura oficial.
Pensar no riso é pensar na potência política dele, no poder festivo e libertador. Rir a “bandeiras desfraldadas”, como disse Erminia Silva citando Machado de Assis, é um lugar de descontrole, porém um descontrole que renova o social, que fala aos sentidos e afetos, que traz um momento de liberdade utópica. Podemos sim falar de um “descontrole da turba”, porém os descontroles tão requisitados durante séculos não podem ser ignorados: o indivíduo precisa do riso e da alegria. Ainda sob às palavras de Erminia, o riso vaza pois não tem modelos e, por não ter modelos, há sempre a tentativa de controlá-lo.
Hoje temos uma nova onda de seriedade, um choque de ordem (um nome bem risível) vem se espalhando pelas diversas comunidades da cidade do Rio de Janeiro, cidade que cedia o Anjos do Picadeiro desde 1996, evento este que está em sua 11ª edição. As favelas vêm sendo ordenadas e as ruas do centro e da Zona Sul também (bem, tenta-se). Além disso, o número 11 é o primeiro número que não pode ser contado nos dedos das mãos, logo ele foge ao controle delas. Ele também é um atrás do outro, fugindo também do controle dos mais conservadores. Bem, os conservadores tentam reter com suas mãos (e muros) tudo aquilo que foge de seu controle, tudo aquilo que não pertence à sua ordem, às suas regras.
É função do riso e da festa, da fantasia e da brincadeira, do cômico tão ameaçador criarem novas redes sociais que tragam à tona a dimensão subjetiva de pertencimento da turba através do descontrole, acessando o prazer e a utopia genéricos, intrínsecos a todo indivíduo. O riso não pode dividir, o riso identifica todos que pertencem a um mesmo grupo. “O riso não é forma exterior, mas uma forma interior essencial a qual não pode ser substituído pelo sério, sob pena de destruir e desnaturalizar o próprio conteúdo da verdade revelada por meio do riso. Esse liberta não apenas da censura exterior, mas antes de mais nada do grande censor interior, do medo do sagrado, da interdição autoritária, do passado, do poder, medo an corado no espírito humano há milhares de anos” (Bakhtin). Julio Castro - Integrante do Observatório do Anjos do Picadeiro 11. 



6 de dezembro de 2012

perplexidades

1)

o oco ocupa
o lado de dentro
do vazio

ou

o vazio ocupa o oco?

2) sinto muito tudo isso que não sinto


Raimundo Beato

antíteses

Sei que fazer o inconexo aclara as loucuras.
Sou formado em desencontros.
A sensatez me absura.
Os delírios verbais me terapeutam.
Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso
porque não encontrava um título para os seus poemas.
Um título que hamonizasse os seus conflitos. Até que
apareceu Flores do Mal. A beleza e a dor. Essa antítese o
acalmou.)

As antíteses congraçam.

Manoel de Barros

(r)evolution


as coisas e as palavras 3

as palavras são coisas que servem pra dizer o nome das coisas 
mas as coisas mesmo 
são outras coisas



Salvador Passos

30 de novembro de 2012

Fórum Social Mundial Palestina Livre


Convocatória para o Fórum Social Mundial Palestina Livre, de 29 de novembro a 1º de dezembro de 2012, Porto Alegre (Brasil)

A Palestina ocupada pulsa em cada coração livre neste mundo e sua causa continua a inspirar solidariedade universal. O Fórum Social Mundial Palestina Livre é uma expressão do instinto humano de se unir por justiça e liberdade, e é um eco da oposição do Fórum Social Mundial à hegemonia do neoliberalismo, do colonialismo e do racismo através das lutas por alternativas econômicas, políticas e sociais para promover a justiça, a igualdade e a soberania dos povos. O FSM Palestina Livre será um encontro global de ampla base popular e de mobilizações da sociedade civil de todo o mundo. Ele visa:

1- Mostrar a força da solidariedade aos chamados do povo palestino e à diversidade de iniciativas e ações visando promover a justiça e a paz na região.
2- Criar ações efetivas para assegurar a autodeterminação palestina, a criação de um Estado Palestino com Jerusalém como sua capital, e o atendimento aos direitos humanos e ao direito internacional por:

  1. Acabar com a ocupação israelense e a colonização de todas as terras árabes e derrubar o muro;
  2. Assegurar os direitos fundamentais dos cidadãos árabe-palestinos de Israel à plena igualdade, e
  3. Implementar, proteger e promover os direitos dos refugiados palestinos de retornar a seus lares e propriedades, como estipula a resolução da ONU 194.

3- Ser um espaço para discussão, troca de idéias, estratégias e planos que desenvolvam a estrutura da solidariedade.

Exatamente após 65 anos de o Brasil ter presidido a seção da Assembléia Geral da ONU que definiu a partilha da Palestina, o Brasil vai abrigar um tipo diferente de fórum global: uma oportunidade histórica de os povos de todo o mundo se levantarem onde seus governos falharam. Os povos do mundo se reunirão para discutir novas visões e ações efetivas para contribuir com a justiça e a paz na região. A participação nesse Fórum deve reforçar estruturalmente a solidariedade com a Palestina; promover ações para implementar os direitos legítimos dos palestinos e tornar Israel e seus aliados imputáveis pela lei internacional. Conclamamos todas as organizações, movimentos, redes e sindicatos em todo o mundo a se unirem ao FSM Palestina Livre, de 289 de novembro a 1º de dezembro, em Porto Alegre, Brasil. Juntos podemos levar a solidariedade à Palestina a um novo patamar. Comitê Organizador do Fórum Social Mundial Palestina Livre.

Saiba mais...

28 de novembro de 2012

Poesia


jardins inabitados pensamentos
pretensas palavras em
pedaços
jardins ausenta-se
a lua figura de
uma falta contemplada
jardins extremos dessa ausência de
jardins anteriores que
recuam
ausência freqüentada sem mistério
céu que recua
sem pergunta

Ana Cristina César

Estou Atrás


do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra 

Ana Cristina César

27 de novembro de 2012

As civilizações

As civilizações desabam
por implosão...
Depois,
como um filme passado às avessas
elas se erguem em câmera lenta do chão
Não há de ser nada...
os arqueólogos esperam,pacientemente,
A sua ocasião!

Mário Quintana

Café Filosófico


25 de novembro de 2012

Carimbador Maluco


Plunct Plact ZumNão vai a lugar nenhum!!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!!
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar....
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim,
Sim, sim, sim.
O seu Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Tem que ser selado, registrado, carimbado

Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar....
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim,
Sim, sim, sim.
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!

Mas ora, vejam só, já estou gostando de vocês
Aventura como essa eu nunca experimentei!
O que eu queria mesmo era ir com vocês
Mas já que eu não posso:
Boa viagem, até outra vez.
Agora...
O Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
(Boa viagem, meninos.
Boa viagem).


Raul Seixas

Jards Macalé e Paulo José cantam e recitam Torquato Neto


Pessoal Intransferível

Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada no bolso e nas mãos. Sabendo : perigoso, divino, maravilhoso.

Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.

E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.

Publicado na coluna “Geléia Geral”, 3ª feira, 14/09/71

22 de novembro de 2012

Rua-Rio-Banco




Na Cinelândia
Na Carioca
Mais um artista de rua
... Pelé desde criança
Mata todas no peito
Chuta tudo pro alto
E equilibra
a vida
na testa

Rio Maravilha!
Senta o pau na UPP!

7 de Setembro
Ouvidor
Candelária
Descendo a Rio Branco em contramão
Rumo ao mar
Desaguar no porto
Despejado do povo
Expropriado do lar

Pereira Passos vive!

Rio Maravilha!
Senta o pau na UPP!

Porto Maravilha!

21 de novembro de 2012

Gaza Tank


Impressions of Gaza


Impressions of Gaza

Noam Chomsky

chomsky.info, November 4, 2012

Even a single night in jail is enough to give a taste of what it means to be under the total control of some external force. And it hardly takes more than a day in Gaza to begin to appreciate what it must be like to try to survive in the world’s largest open-air prison, where a million and a half people, in the most densely populated area of the world, are constantly subject to random and often savage terror and arbitrary punishment, with no purpose other than to humiliate and degrade, and with the further goal of ensuring that Palestinian hopes for a decent future will be crushed and that the overwhelming global support for a diplomatic settlement that will grant these rights will be nullified...

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Stop attack on Gaza


Who is doing the killing in Gaza? Noam Chomsky and others challenge world's media



retirado de Stop the War Coalition


WHILE COUNTRIES across Europe and North America commemorated military casualties of past and present wars on November 11, Israel was targeting civilians.

On November 12, waking up to a new week, readers at breakfast were flooded with heart rending accounts of past and current military casualties.

There was, however, no or little mention of the fact that the majority of casualties of modern day wars are civilians.

There was also hardly any mention on the morning of November 12 of military attacks on Gaza that continued throughout the weekend.

A cursory scan confirms this for Canada's CBC, Globe and Mail, Montreal's Gazette, and the Toronto Star. Equally, for the New York Times and for the BBC.

According to the Palestinian Centre for Human Rights (PCHR) report on Sunday November 11, five Palestinian civilians including three children had been killed in the Gaza strip in the previous 72 hours, in addition to two Palestinian security personnel.

Four of the deaths occurred as a result of Israeli military firing artillery shells on youngsters playing soccer. Moreover, 52 civilians had been wounded, of which six were women and 12 were children. (Since we began composing this text, the Palestinian death toll has risen, and continues to rise.)

Articles that do report on the killings overwhelmingly focus on the killing of Palestinian security personnel. For example, anAssociated Press article published in the CBC world news on November 13, entitled 'Israel mulls resuming targeted killings of Gaza militants,' mentions absolutely nothing of civilian deaths and injuries. It portrays the killings as 'targeted assassinations.' The fact that casualties have overwhelmingly been civilians indicates that Israel is not so much engaged in "targeted" killings, as in "collective" killings, thus once again committing the crime of collective punishment.

Another AP item on CBC news from November 12 reads 'Gaza rocket fire raises pressure on Israel government.' It features a photo of an Israeli woman gazing on a hole in her living room ceiling. Again, no images, nor mention of the numerous bleeding casualties or corpses in Gaza. Along the same lines, a BBC headline on November 12 reads 'Israel hit by fresh volley of rockets from Gaza.' Similar trends can be illustrated for European mainstream papers.

News items overwhelmingly focus on the rockets that have been fired from Gaza, none of which have caused human casualties. What is not in focus are the shellings and bombardments on Gaza, which have resulted in numerous severe and fatal casualties. It doesn't take an expert in media science to understand that what we are facing is at best shoddy and skewed reporting, and at worst willfully dishonest manipulation of the readership.

Furthermore, articles that do mention the Palestinian casualties in Gaza consistently report that Israeli operations are in response to rockets from Gaza and to the injuring of Israeli soldiers. However, the chronology of events of the recent flare-up began on November 5, when an innocent, apparently mentally unfit, 20-year old man, Ahmad al-Nabaheen, was shot when he wandered close to the border. Medics had to wait for six hours to be permitted to pick him up and they suspect that he may have died because of that delay.

Then, on November 8, a 13-year-old boy playing football in front of his house was killed by fire from the IOF that had moved into Gazan territory with tanks as well as helicopters. The wounding of four Israeli soldiers at the border on November 10 was therefore already part of a chain of events where Gazan civilians had been killed, and not the triggering event.

We, the signatories, have recently returned from a visit to the Gaza strip. Some among us are now connected to Palestinians living in Gaza through social media. For two nights in a row Palestinians in Gaza were prevented from sleeping through continued engagement of drones, F16s, and indiscriminate bombings of various targets inside the densely populated Gaza strip.

The intent of this is clearly to terrorise the population, successfully so, as we can ascertain from our friends' reports. If it was not for Facebook postings, we would not be aware of the degree of terror felt by ordinary Palestinian civilians in Gaza. This stands in stark contrast to the world's awareness of terrorised and shock-treated Israeli citizens.

An extract of a report sent by a Canadian medic who happened to be in Gaza and helped out in Shifa hospital ER over the weekend says: "the wounded were all civilians with multiple puncture wounds from shrapnel: brain injuries, neck injuries, hemo-pneumo thorax, pericardial tamponade, splenic rupture, intestinal perforations, slatted limbs, traumatic amputations. All of this with no monitors, few stethoscopes, one ultrasound machine. …. Many people with serious but non life threatening injuries were sent home to be re-assessed in the morning due to the sheer volume of casualties. The penetrating shrapnel injuries were spooky. Tiny wounds with massive internal injuries. … There was very little morphine for analgesia."

Apparently such scenes are not newsworthy for the New York Times, the CBC, or the BBC.

Bias and dishonesty with respect to the oppression of Palestinians is nothing new in Western media and has been widely documented. Nevertheless, Israel continues its crimes against humanity with full acquiescence and financial, military and moral support from our governments, the U.S., Canada and the EU.

Netanyahu is currently garnering Western diplomatic support for additional operations in Gaza, which makes us worry that another Cast Lead may be on the horizon. In fact, the very recent events are confirming such an escalation has already begun, as today's death-count climbs. The lack of widespread public outrage at these crimes is a direct consequence of the systematic way in which the facts are withheld and/or of the skewed way these crimes are portrayed.

We wish to express our outrage at the reprehensible media coverage of these acts in the mainstream (corporate) media.

We call on journalists around the world working for corporate media outlets to refuse to be instruments of this systematic policy of disguise. We call on citizens to inform themselves through independent media, and to voice their conscience by whichever means is accessible to them.

Hagit Borer, U.K.
Antoine Bustros, Canada
Noam Chomsky, U.S.
David Heap, Canada
Stephanie Kelly, Canada
Máire Noonan, Canada
Philippe Prévost, France
Verena Stresing, France
Laurie Tuller, France

19 de novembro de 2012

Ode a Fernando Pessoa

O rádio toca Stravinsky para homens surdos e eu recomponho na minha imaginação
a tua vida triste passada em Lisboa.
Ó Mestre da plenitude da Vida cavalgada em Emoções,
Eu e meus amigos te saudamos!
Onde estarás sentindo agora?
Eu te chamo do meio da multidão com minha voz arrebatada,
A ti, que és também Caeiro, Reis, Tu-mesmo, mas é como Campos que vou
saudar-te, e sei que não ficarás sentido por isso.
Quero oferecer-te o palpitar dos meus dias e noites,
A ti, que escutaste tudo quanto se passou no universo,
Grande Aventureiro do Desconhecido, o canto que me ensinaste foi de libertação.
Quando leio teus poemas, alastra-se pela minh'alma dentro um comichão de
saudade da Grande Vida,
Da Grande Vida batida de sol dos trópicos,
Da Grande Vida de aventuras marítimas salpicada de crimes,
Da grande vida dos piratas, Césares do Mar Antigo.
Teus poemas são gritos alegras de Posse,
Vibração nascida com o Mundo, diálogos contínuos com a Morte,
Amor feito a força com toda Terra.

Sempre levo teus poemas na alma e todos os meus amigos fazem o mesmo.
Sei que não sofres fisicamente pelos que estão doentes de Saudade, mas de
Madrugada; quando exaustos nos sentamos nas praças, Tu estás conosco, eu
sei disso, e te respiramos na brisa.
Quero que venhas compartilhar conosco as orgias da meia-noite, queremos ser
para ti mais do que para o resto do mundo.
Fernando Pessoa, Grande Mestre, em que direção aponta tua loucura esta noite?
Que paisagens são estas?
Quem são estes descabelados com gestos de bailarinos?

Vamos, o subúrbio da cidade espera nossa aventura,
As meninas já abandonaram o sono das famílias,
Adolescentes iletrados nos esperam nos parques.
Vamos com o vento nas folhagens, pelos planetas, cavalgando vaga-lumes cegos até o Infinito.
Nós, tenebrosos vagabundos de São Paulo, te ofertamos em turíbulo para uma
bacanal em espuma e fúria.
Quero violar todas as superfícies e todos os homens da superfície, Vamos viver para além da burguesia triste que domina meu país alegremente
Antropófago.
Todos os desconhecidos se aproximam de nós.
Ah, vamos girar juntos pela cidade, não importa o que faças ou quem sejas, eu te
abraço, vamos!
Alimentar o resto da vida com uma hora de loucura, mandar à merda todos os deveres, chutar os padres quando passarmos por eles nas ruas, amar os
pederastas pelo simples prazer de traí-los depois,
Amar livremente mulheres, adolescentes, desobedecer integralmente uma ordem
por cumprir, numa orgia insaciável e insaciada de todos os propósitos-
Sombra.
Em mim e em Ti todos os ritmos da alma humana, todos os risos, todos os olhares,
todos os passos, os crimes, as fugas, Todos os êxtases sentidos de uma vez,
Todas as vidas vividas num minuto Completo e Eterno,
Eu e Tu, Toda a Vida!
Fernando, vamos ler Kierkegaard e Nietzsche no Jardim Trianon pela manhã,
enquanto as crianças brincam na gangorra ao lado.
Vamos percorrer as vielas do centro aos domingos quando toda a gente decente
dorme, e só adolescentes bêbados e putas encontram-se na noite.
Tu, todas as crianças vivazes e sonolentas,
Carícia obscena que o rapazito de olheiras fez ao companheiro de classe e o
professor não vê;
Tu, o Ampliado, latitude-longitude, Portugal África Brasil Angola Lisboa São
Paulo e o resto do mundo,
Abraçado com Sá-Carneiro pela Rua do Ouro acima, de mãos dadas com Mário de Andrade no Largo do Arouche.
Tu, o rumor dos planaltos, tumulto do tráfego na hora do ¿rush¿, repique dos
sinos de São Bento, hora tristonha do entardecer visto do Viaduto do Chá,
Digo em sussurro teus poemas ao ouvido do Brasil, adolescente moreno empinando papagaios na América.
Vamos ver a luz da Aurora chispando nas janelas dos edifícios, escorrendo pelas
águas do Amazonas, batendo em chapa na caatinga nordestina, debruçando
no Corcovado,
Ouçamos a bossa-nova deitados na palma da mão do Cristo e a batucada vinda
diretamente do coração do morro.
Tu, a selvagem inocência nos beijos dos que se amam,
Tu o desengajado, o repentino, o livre.
Agora, vem comigo ao Bar, e beberemos de tudo nunca passando pela caixa,
Vamos ao Brás beber vinho e comer pizza no Lucas, para depois vomitarmos
tudo de cima da ponte,
Vem comigo, eu te mostrarei tudo: o Largo do Arouche à tarde, o Jardim da Luz
pela manhã, veremos os bondes gingando nos trilhos da Avenida, assaltaremos o Fasano, iremos ver ¿as luzes do Cambuci pelas noites de crime¿,
onde está a menina-moça violada por nós num dia de Chuva e Tédio,
Não te levarei ao Paissandu para não acordarmos o sexo do Mário de Andrade
(ai de nós se ele desperta!),
Mas vamos respirar a Noite do alto da Serra do Mar: quero ver as estrelas refletidas
em teus olhos.
Sobre as crianças que dormem, tuas palavras dormem; eu deles me aproximo e
dou-lhes um beijo familiar na face direita.
Teu canto para mim foi música de redenção,
Para tudo e todos a recíproca atração de Alma e Corpo.
Doce intermediário entre nós e a minha maneira predileta de pecar.
Descartes tomando banho-maria, penso, logo minto, na cidade futura, industrial
e inútil.
Mundo, fruto amadurecido em meus braços arqueados de te embalar,
Resumirei para Ti a minha história:
Venho aos trambolhões pelos séculos,
Encarno todos os fora da lei e todos os desajustados,
Não existe um gangster juvenil preso por roubo e nenhum louco sexual que eu
não acompanhe para ser julgado e condenado;
Desconheço exame de consciência, nunca tive remorsos, sou como um lobo
dissonante nas lonjuras de Deus.
Os que me amam dançam nas sepulturas.
Da vidraça aberta olho as estrelas disseminadas no céu; onde estás, Mestre Fernando?
Foste levar a desobediência aos aplicados meninos do Jardim América?
Dás um lírio para quem fugir de casa?
Grande indisciplinador, é verdade?

Vamos ao norte amar as coisas divinamente rudes.
Vamos lá, Fernando, dançar maxixe na Bahia e beber cerveja até cair com um
baque surdo no centro da Cidade Baixa.
Sabes que há mais vida num beco da Bahia ou num morro carioca do que em
toda São Paulo?
São Paulo, cidade minha, até quando serás o convento do Brasil?
Até teus comunistas são mais puritanos do que padres.
Pardos burocratas de São Paulo, vamos fugir para as praias?
Ó cidade das sempiternas mesmices, quando te racharás ao meio?
Quero cuspir no olho do teu Governador e queimar os troncos medrosos da floresta
humana.
Ó Faculdade de Direito, antro de cavalgaduras eloqüentes da masturbação transferida!
Ó mocidade sufocada nas Igrejas, vamos ao ar puro das manhãs de setembro!
Ó maior parque industrial do Brasil, quando limparei minha bunda em ti?
Fornalha do meu Tédio transbordando até o Espasmo.
Horda de bugres galopando a minha raiva!
Sei que não há horizontes para a minha inquietação sem nexo,
Não me limitem, mercadores!
Quero estar livre no meio do Dilúvio!
Quero beber todos os delírios e todas as loucuras, mais profundamente que
qualquer Deus!
Põe-te daqui para fora, policiamento familiar da alma dos fortes: eu quero ser
como um raio para vós!
Violência sincopada de todos os "boxeurs"!
Brasileira do Chiado em dias de porre de absinto.
Arcabouço de todas as náuseas da vida levada em carícias de Infinito.
Tudo dói na tua alma, Nando, tudo te penetra, e eu sinto contigo o íntimo tédio
de tudo.
Realizarei todos os teus poemas, imaginando como eu seria feliz se pudesse estar
contigo e ser tua Sombra.

Roberto Piva (1962)

11 de novembro de 2012

Jet - Lagged/ Vapor Barato



"Viajar, para que e para onde,
se a gente se torna mais infeliz
quanto retorna? Infeliz
e vazio, situações e lugares
desaparecidos no ralo,
ruas e rios confundidos (...)

Mas ficar, para que e para onde,
se não há remédio, xarope ou elixir,
se o pé não encontra chão onde pousar,
(...)
se viajar é a única forma de ser feliz
e pleno?"

Wally Salmoão

9 de novembro de 2012

Sorry!


Exterior

Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada, 
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
- carpe diem! - 
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?
Me segura q’eu vou dar um troço
(Wally Sailormoon*)

4 de novembro de 2012

Poema Estatístico




Tem uma esquina prenha de um latido.
Trechos de pássaros que permanecem
nos muros que ficam. E vice-versa.
Um e-mail anotado às pressas no canhoto do tintureiro.
A cirrose portátil. A síndrome do pânico.
O enroladinho de presunto e queijo.

Tem a Mulher mais Linda da Cidade.
Groupies de cabelo rosa. Poodles
da solidariedade. Alguém chorando lágrimas
de tubaína. Penélopes Charmosas.
Dick Vigaristas. Um cara que já sai desviando
do cinema del arte, evitando ser atingido
por alguma conversa perdida.

Tem a mulher da vídeo-locadora
que não conhece o filme que estou procurando.
Um amigo que diz que escreve só para colocar epígrafes.
Taxistas infláveis. Manicures em chamas.
Um casal que desce a rua na banguela
prolongando a gasolina daquilo tudo
que um dia fora. Eu ando apaixonado
pela mulher da vídeo-locadora.
Lendo revistas na sala de espera
do consultório dentário. Tem uma
que venta. E um que desiste.
De arranhar os vidros do aquário.


Marcelo Montenegro

a mulher que falava coisas

O filme conta a história de Stela, que por 30 anos viveu em instituições psiquiátricas. O documentário experimental é um mergulho no universo poético dessa mulher e traduz suas falas inquietantes, com uma linguagem extremamente plástica e visual. "Stela do patrocínio, a mulher que falava coisas" foi dirigido por Marcio de Andrade.

23 de outubro de 2012

o nome das palavras

Procurava meus encalços
Olhava em baixo das palavras
Buscava a infância
sob as pedras

Lá estavam as COISAS

Como elas são:

SEM NOMES

Ausentes de metafísica

As coisas não esperavam nomes para serem o que eram

Palavra se enfeitava de rumores para esperar pela poesia

Eu calava (a tua espera)
Sou ateu para gramáticas ou certezas

Perco na palavra o que me cala

Raimundo Beato

Janela de Marinetti

1
cidade dura e arreganhada para o sol
como uma posta de carne curtida ao sal -
onde na rua do maracujá adolesci
e, louco, sorvia a vida a talagadas de cachaça
de alambique.
graveto-do-cão pitu luar do sertão.
uma ponte corta um rio de fazer contas.
arco e flecha de Sultão das Maltas
mira certeira as ventas do dragão lá na lua.
uma seta e um nome tupi de cidade em uma placa
- é, é, jequi, cesto oblongo de cipó pra pegar peixe
n'água, é, é. -
e a rua de paralelepípedo e a rua de chão batido
e a outra rua metade paralelepípedo metade chão batido
lembra jurema pé de joá cacto mandacaru.

fruta de palma perde os espinhos
mergulhada dentro da bacia cheia de areia.
bolo de puba umburana flor de sisal.
cidade dura e arreganhada para o sol
como uma posta de carne curtida no sal,
meu museu do inconsciente
é um prédio mais duro de roer
mais arreganhado para o sol
mais curtido nas salinas do canal lacrimal.

2
o anúncio ditava:
..."a farmácia estreita da rua larga"...
abro
minha caixa de amor e ódio
abuso
da enumeração evocativa,
desando a disparar:
rua alves pereira...
rua apolinário peleteiro...
rua do cochicho...
distingo bem o caroço duro de umbu chupado
da bostica, da bostiquinha redondinha
que nem biscoito de goma
que a cabra da caatinga fabrica.
de pouco vale agora essa sabença.
o chão e tudo é só paisagem calcinada
e tela deserta e miragem e cena envidraçada.
janela de marinetti
sem vista panorâmica
me lixo pro louvre da vitória de samotrácia
apois aposto na corrida futurista da preá
pego carona na rasante de um urubu
diviso lajedo molhado espelhando umbuzeiro gravatá.

um aleijada esmola e merca rolete de cana
três ararsa dois micos uma jibóia enrondilhada.
uma velha choraminga e mói dez tostões de erva
mais cinco mil-réis de sementes de uruncum.
jegues carregados de panacuns.
pau-ferro rolimã curral dos bois.

3
uma ponte corta um rio de fazer contas.
pego as contas dos olhos e as enfio
nas platibandas das casas coloridas.
rua das pedrinhas... borda dam mata...
guito guitó... bolha de mijo de potó...
a profa. teresinha fialho
e a família inteira de doutor fialho
no poleiro das galinhas verdes de plínio salgado.
verdes, verdes. e o amarelo aceso do enxofre
no fundo da talha d''agua-de-beber.
que não escutei "queto!", ouvir não ouço "coitado!".

urubuservar a vida besta do alto do urubuservatório.

por amor de quando fera e peixe e planta e pedra e ave
e besouro e estrela e estrume e grão de areia.
cada qual de per si,
e os jeitos e as qaulidades
das palavras
das quimeras
dos seres,
separados ou em uníssonos
silibavam oráculos...
a ti confesso, janela de marinetti:
comparacem até o mirante
mínimas brasas inquietas
catulptadas pelas criciúmas
dos rios pretos enchidos dos cafundós-do-judas
(minúcias de azinhavres,
línguas de trapos e de caroços,
de troncos e tocos,
hemorragias de baronesas e molambos);

4
na porta da casa facista
o audaz tenor bambino torregrossa assassina lua e luar.

a acha de lenha do passado figura fósforo queimado
carvão apagado
tição perdido e achado aceso
(no meio-dia calcinado carvão forja diamante)
que crepita confundido com as paredes
internas
externas
do porão da bexiga
que crepita fundido no fole refenfem
fem fem
femfem
no resfôlego da tripa que toca gaita,
a tripa gaiteira da folia dos magos reis do boi janeiro.
quem foi que disse que janeiro não saía
boi janeiro tá na rua com prazer e alegria.

essa alegria, motor que me move.
nascido com o auxílio das mãos da parteira mãe jove.

para todo sempre confino
o registro da palavra rotina
com o vento e a chuva
com o plúvio e o pneuma
machetados no registro
da palavra enigma.

5
Cidade-Sol.
Heliópolis,
Baalbeck
da minha infância desterrada.


Wally Salomão
in Algaravias, Editora 34

4 de outubro de 2012

La democracia en España 2


La democracia en España


Tentativa de criminalizar mobilizações populares na Espanha




El juez de la Audiencia Nacional Santiago Pedraz ha citado a declarar para el próximo jueves 4 de octubre a ocho organizadores de la protesta que el próximo 25 de septiembre llama a rodear el Congreso, imputados por un delito contra Altos Organismos de la Nación por promover una manifestación ante la Cámara Baja.
Twitter

Según fuentes judiciales, las citaciones se han producido después de que agentes de Policía identificaran el pasado domingo en el parque de El Retiro de Madrid a estas ocho personas como organizadores de la protesta, cuyo lema es 'Rodea el Congreso'.

El magistrado cuenta además con una investigación judicial llevada a cabo en los últimos días sobre el despliegue de la protesta en la que se han recabado detalles sobre la convocatoria que circulan en distintas redes sociales.

Los ocho están imputados como responsables del delito tipificado en el artículo 494 del Código Penal, que estable pena de prisión de seis meses a un año o multa de doce a veinticuatro meses a "los que promuevan, dirijan o presidan manifestaciones u otra clase de reuniones" ante el Congreso, cuando este esté reunido, "alterando su normal funcionamiento".

Insisten en que es una acción "no violenta"

Desde la Coordinadora 25-S, encargada de organizar la protesta, insisten en que se trata de una acción "no violenta" y que no quieren impedir el acceso de los diputados. "Se llegará hasta donde lo permita la barrera policial", señalan.

Es evidente que intentan construir un escenario lo más crispado posibleDe cara a las próximas reuniones organizativas que tendrán lugar en El Retiro este fin de semana, la Coordinadora 25-S advierte del "posible riesgo que se deriva de la asistencia a las mismas", al tiempo que insisten en que sus actuaciones "no son ilegales".

"Es evidente que intentan construir un escenario lo más crispado posible, que la Delegación del Gobierno pretende criminalizar nuestras reivindicaciones y el creciente apoyo a la movilización, pero cada intento de hacerlo suma miles de personas para rodear el Congreso el próximo 25 de septiembre", añaden.

http://www.20minutos.es/noticia/1595240/0/audiencia-nacional/25-s/delito/

3 de outubro de 2012

Paradise

o rock ronca a roca deste tempo, a morte morta, perdida nos emblemas de outrora, ginsberg com seus lisérgicos dizeres, os seus uivos loucos, poetas perdidos na noite, keorouac com seus passos ligeiros pelo mundo em um tempo que não volta, sal paradise, dean moriarty, nas estradas em busca da sombra de um pai, a busca pelo pai, pelo paraiso, a estrada perdida, um paraiso perdido que está em sí mesmo, os devaneios de se buscar por ai, nos outros, em tudo, no espaço, a terra livre de tudo e de todos, livre da vida, livre das regras, do trabalho, da propriedade, este sonho que mesmo morto não acaba,dentro destes peitos a primavera que persiste, cada um dizendo outras coisas, em outro tempo, mas todos querendo ser livres, o ronco dos motores easy rider mesmo quando a gente can´t get much higher...

Salvador Passos

Cultura

O girino é o peixinho do sapo.
O silêncio é o começo do papo.

O bigode é a antena do gato
O cavalo é o pasto do carrapato

O cabrito é o cordeiro da cabra
O pescoço é a barriga da cobra

O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo

O desejo é o começo do corpo
Engordar é tarefa do porco

A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso

O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva

O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede

O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua

Papagaio é um dragão miniatura
Bactéria num meio é cultura

Arnaldo Antunes

1 de outubro de 2012

Consagração da vida

Às vezes penso quão desgastante pode ser a vida
e entendo quando as coisas saem do controle
e queremos jogar tudo pro alto, armas e dedos em riste.
E aí me lembro quão importante é o olhar interior.

Mas quando conseguimos olhar as aflições do próximo
sentir suas chagas como se no nosso corpo estivesse, e mais
estar preocupado com o bem estar do outro a ponto de agir
então é nestes momentos que a vida se mostra mais sagrada.

É por isto que o voluntariado é virtuoso
que a maternidade tem a sua santidade
que a docência merece ser venerada
e que as poesias merecem ser escritas.

Socialism has failed. Now capitalism is bankrupt. So what comes next?


Socialism has failed. Now capitalism is bankrupt. So what comes next?

Whatever ideological logo we adopt, the shift from free market to public action needs to be bigger than politicians grasp

Eric Hobsbawm

The Guardian, Friday 10 April 2009

The 20th century is well behind us, but we have not yet learned to live in the 21st, or at least to think in a way that fits it. That should not be as difficult as it seems, because the basic idea that dominated economics and politics in the last century has patently disappeared down the plughole of history. This was the way of thinking about modern industrial economies, or for that matter any economies, in terms of two mutually exclusive opposites: capitalism or socialism.

We have lived through two practical attempts to realise these in their pure form: the centrally state-planned economies of the Soviet type and the totally unrestricted and uncontrolled free-market capitalist economy. The first broke down in the 1980s, and the European communist political systems with it. The second is breaking down before our eyes in the greatest crisis of global capitalism since the 1930s. In some ways it is a greater crisis than in the 1930s, because the globalisation of the economy was not then as far advanced as it is today, and the crisis did not affect the planned economy of the Soviet Union. We don't yet know how grave and lasting the consequences of the present world crisis will be, but they certainly mark the end of the sort of free-market capitalism that captured the world and its governments in the years since Margaret Thatcher and President Reagan.

Impotence therefore faces both those who believe in what amounts to a pure, stateless, market capitalism, a sort of international bourgeois anarchism, and those who believe in a planned socialism uncontaminated by private profit-seeking. Both are bankrupt. The future, like the present and the past, belongs to mixed economies in which public and private are braided together in one way or another. But how? That is the problem for everybody today, but especially for people on the left.

Nobody seriously thinks of returning to the socialist systems of the Soviet type - not only because of their political faults, but also because of the increasing sluggishness and inefficiency of their economies - though this should not lead us to underestimate their impressive social and educational achievements. On the other hand, until the global free market imploded last year, even the social-democratic or other moderate left parties in the rich countries of northern capitalism and Australasia had committed themselves more and more to the success of free-market capitalism. Indeed, between the fall of the USSR and now I can think of no such party or leader denouncing capitalism as unacceptable. None were more committed to it than New Labour. In their economic policies both Tony Blair and (until October 2008) Gordon Brown could be described without real exaggeration as Thatcher in trousers. The same is true of the Democratic party in the US.

The basic Labour idea since the 1950s was that socialism was unnecessary, because a capitalist system could be relied on to flourish and to generate more wealth than any other. All socialists had to do was to ensure its equitable distribution. But since the 1970s the accelerating surge of globalisation made it more and more difficult and fatally undermined the traditional basis of the Labour party's, and indeed any social-democratic party's, support and policies. Many in the 1980s agreed that if the ship of Labour was not to founder, which was a real possibility at the time, it would have to be refitted.

But it was not refitted. Under the impact of what it saw as the Thatcherite economic revival, New Labour since 1997 swallowed the ideology, or rather the theology, of global free-market fundamentalism whole. Britain deregulated its markets, sold its industries to the highest bidder, stopped making things to export (unlike Germany, France and Switzerland) and put its money on becoming the global centre of financial services and therefore a paradise for zillionaire money-launderers. That is why the impact of the world crisis on the pound and the British economy today is likely to be more catastrophic than on any other major western economy - and full recovery may well be harder.

You may say that's all over now. We're free to return to the mixed economy. The old toolbox of Labour is available again - everything up to nationalisation - so let's just go and use the tools once again, which Labour should never have put away. But that suggests we know what to do with them. We don't. For one thing, we don't know how to overcome the present crisis. None of the world's governments, central banks or international financial institutions know: they are all like a blind man trying to get out of a maze by tapping the walls with different kinds of sticks in the hope of finding the way out. For another, we underestimate how addicted governments and decision-makers still are to the free-market snorts that have made them feel so good for decades. Have we really got away from the assumption that private profit-making enterprise is always a better, because more efficient, way of doing things? That business organisation and accountancy should be the model even for public service, education and research? That the growing chasm between the super-rich and the rest doesn't matter that much, so long as everybody else (except the minority of the poor) is getting a bit better off? That what a country needs is under all circumstances maximum economic growth and commercial competitiveness? I don't think so.

But a progressive policy needs more than just a bigger break with the economic and moral assumptions of the past 30 years. It needs a return to the conviction that economic growth and the affluence it brings is a means and not an end. The end is what it does to the lives, life-chances and hopes of people. Look at London. Of course it matters to all of us that London's economy flourishes. But the test of the enormous wealth generated in patches of the capital is not that it contributed 20%-30% to Britain's GDP but how it affects the lives of the millions who live and work there. What kind of lives are available to them? Can they afford to live there? If they can't, it is not compensation that London is also a paradise for the ultra-rich. Can they get decently paid jobs or jobs at all? If they can't, don't brag about all those Michelin-starred restaurants and their self-dramatising chefs. Or schooling for children? Inadequate schools are not offset by the fact that London universities could field a football team of Nobel prize winners.

The test of a progressive policy is not private but public, not just rising income and consumption for individuals, but widening the opportunities and what Amartya Sen calls the "capabilities" of all through collective action. But that means, it must mean, public non-profit initiative, even if only in redistributing private accumulation. Public decisions aimed at collective social improvement from which all human lives should gain. That is the basis of progressive policy - not maximising economic growth and personal incomes. Nowhere will this be more important than in tackling the greatest problem facing us this century, the environmental crisis. Whatever ideological logo we choose for it, it will mean a major shift away from the free market and towards public action, a bigger shift than the British government has yet envisaged. And, given the acuteness of the economic crisis, probably a fairly rapid shift. Time is not on our side.

• Eric Hobsbawm's most recent publication is On Empire: America, War, and Global Supremacy


30 de setembro de 2012

Manifestações de 15 de setembro em Portugal contra as políticas de austeridade









Manifestações (15 de setembro 2012)em Portugal contra as políticas de austeridade

Proposições Revolucionárias




1. Um revolução envolve uma mudança na estrutura; uma mudança no estilo não é uma revolução

2. Uma revolução na poesia, na pintura ou na música faz parte de um plano revolucionário total. A arte (moderna) é fundamentalmente subversiva. Sua investida é em uma direção a uma revoluçãO ilimitada (contínua)

3. "Toda forma, qualquer que seja ela, pelo simples fato de que existe como tal & resiste, necessariamente perde vigor & se torna desgastada; para recuperar o vigor, ela deve ser reabsorvida no amorfo, ao menos por um momento; ela deve ser restabelecida à unidade primordial da qual descendeu; em outras palavras, deve voltar ao 'caos' (no plano cósmico), à 'orgia'(no plano social), à 'escuridão' (como semente), à 'água' (batismo no plano humano), Atlântida no plano da história, e assim por diante)."
M. Elide

4." A árvore da liberdade deve, de tempos em tempos, ser reanimada com o sangue de patriotas & tiranos. É seu adubo natural." T. Jefferson. "Sem contrários não há progressão. Atração & Repulsão, Razão & Energia, Amor & Ódio são necessários à Existência Humana. " W. Blake

5. É possível racionalizar a história da poesia ou da arte moderna, mascarar seu caráter subversivo; mas mesmo como mania & moda são passageiras, a poesia continua a subverter,a destruir os construtos de uma antiga ordem à medida que edifica os construtos-esboços de uma nova ordem.

6. "O desenvolvimento dos cinco sentidos é obra de toda a história do mundo até o presente."K. Marx

7. Um mudança na visão é uma mudança na forma. Uma mudança na forma é uma mudança de realidade.

8. "A função do poeta é espalhar dúvida & criar ilusão" N. Calas

(Segunda Série)

1. As revoluções são precedidas & acompnhadas por um colapso na comunicação.

2. Sociedades duradouras, mesmo que estabelecidas na injustiça social, sobreviverão enquanto grupos que deveriam estar em conflito compartilharem uma linguagem comum - i.e., um sistema comum de valores & de significado prescrito, uma religião comum, uma mitologia, etc.

3. Onde a mudança (mobilidade) surge tão rápido a ponto de tornar impossível à "linguagem" mudar comensuravelmente, esta linguagem comum começa a entrar em colapso & grupos de homens, ao usarem as mesmas palavras, já não entendem uns aos outros.

4. Este colapso na comunicação é articulado primeiro por um poeta & levado adiante por outros poetas.

5. não-poetas adaptam livremente a linguagem dos poetas, mesmo one não conseguem entend6e-la, para proporcionar a si mesmos uma forma revolucionária de comunicação. eles logo passam a considerá-la sua própria invenção.
Nota: Esta é a história do cristianismo & das revoluçoes francesa & russa.

6. O poeta vê o colapso na comunicação como uma condição de sanidade, como uma revelação do mundo fechado da antiga ordem. ele leva a cabo a revolução da linguagem & da forma na nova sociedade dos revolucionários políticos.

7. o revolucionário político vê o colapso na comunicação como evidência adicional do mal-estar da antiga ordem & se dedica ao restabelecimento de um sistema fechado que ele (ou aqueles a quem ele representa) possa controlar. A demanda por fechamento se estende a obra do poeta.

8. O confronto entre poeta & revolucionário político se move para uma luta final que o poeta parece predestinado a perder. Mas a união duradoura entre eles sinalizaria uma virada da história & a reconstituição do homem no Éden.

Nota: O sinal do Paraíso Comunal será que todas as linguagens agora faladas pelo Homem terão se tornado obsoletas. Esta é a profecia de Apollinaire.

janeiro-fevereiro de 1969

Jerome Rothenberg