Como me espanta o espanto
do homem que senta ao meu lado
Veste terno de engenheiro
E pânico de funcionário
- Eu não leio O Marinheiro
poema quase dramático
José Carlos Capinan
Como me espanta o espanto
do homem que senta ao meu lado
Veste terno de engenheiro
E pânico de funcionário
- Eu não leio O Marinheiro
poema quase dramático
José Carlos Capinan
O café tomado na esquina
- meio de lado
no balcão
a ponto de observar
a manhã que reproduz
e se mistura
em pernas rápidas
(decomposição do movimento)
O café pago no caixa
-troco. obrigado, cigarro na boca
de mais uma manhã
mais uma manhã
trocando olhares
medindo gestos
(somos todos estrangeiros
nesta cidade
neste corpo que acorda)
e não me misturo
- com essa gente,
não me misturo
Heitor Ferraz
" Singing in silent spring: Birds respond to a half-century soundscape reversion during the COVID-19 shutdown "
Science, setembro de 2020
No livro Vida: Efeito-V
Carlito Azevedo
“Há sempre um copo de mar
para um homem navegar”
Jorge de Lima
Nesta grandíssima manhã
de primavera,
as portas
da minha casa
estão abertas
para a visita
fluida da beleza.
Altair é a susana da minha poesia
e da minha vida.
A solidão habitava o feiume
dos meus gestos e
querençoso eu esperava
o tempo.
Hoje caminho tardo
pelo vento oeste.
Meu coração vagueia
no mapa das ruínas
e infesto o campo dos
silêncios.
Cada ruído pressentido,
diz da alma.
Cada rastro revelado,
diz da vidência, essa
alegria
a se eternizar.
Mancham os céus de um cinza cruel
e morrem
os oceanos
em mim.
Eu que sempre
fui água,
mansidão
de peixes
e de siris.
Ser líquido
na chuva,
rio no mar naufragado.
Eu que sempre
fui água,
a escorrer
pelo sangue das marés.
Ó manhã
devastada no belo!
Assim é a ceia farta
dos maremotos
escondidos!
Queda,
quebra,
estrondo
elegia da natureza
encantada,
sou água!
Diego Mendes Souza
Não adianta tentar se destinguir
raça, riqueza, nação, deuses,
hábitos ordinários e ancestrais
quando a água invadir
todos terão que nadar.
Pedro Lago
escrever é ser assaltado
e manter o sangue frio
ou fazê-lo ferver, borbulhar e correr
nas frias treliças metálicas
do concreto armado
escrever um poema é costurar
gotas
de suor ou lágrimas
tecer uma longa colcha de ondas
sobre sonhos profundos
ou subir na espiral dos sons
de uma escada cujos degraus
são as notar de uma canção oca
e ascender
através das nuvens evaporadas
rumo ao sol
ao céu
ao nada
Lucas Nicolato