A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

16 de setembro de 2010

Tejo



Sou,
sem ter sido
Estou,
sem ter ficado
Voltei,
sem ter chegado

Nestas idas sem voltas
Reviravoltas das palavras
Que dizem o que não foi
Mas que mesmo não sendo,
foram acontecendo

Um Tejo
Que apesar de rio
é mar
E mesmo sendo
Não é

Não é Tejo na aldeia em que nasceu
Chega sem ter partido
Pois outro nome o leva onde chega

É o Tejo o meu rio pois não é
Tão somente é lembrança
Como a língua (das palavras que não falo)
Não é minha
Este rio também não

É herança que não chega
Sempre falta
Não me basta
Esta língua
Das palavras que não calam
Só carrega mais lembrança
Da saudade que só há
Nesta fala lusitana
Que de lusa não se dá

Na herança que não tenho
É meu rio este Tejo?
Sou eu este que invejo
Esta gente d`além mar?

Vem de longe
Desde antes
Tão mais antes
Que nem sei
Se desde sempre
Ou quem sabe
Desde nunca
Vem de terra
Vem de vela
Atravessa denso mar

Mas não chega

Esta gente
Esta fala
Este rio (que não é)
É linguagem
Nada é tudo
Tudo passa
Tudo é nada

Ele passa
Mas não chega
Não me canso de lembrar
Ele passa
Tudo passa
Mas não cansa
Não se cansa de passar
Ele passa
Ele passa
Outro rio

Eu não passo
Não me canso de pensar

Ele passa
Outro rio
Não meu Rio
Como a língua
Mais lembrança
Que verdade
Mais herança
Que palavra
Não alcança
Sempre falta

Nunca chega este rio
Da palavra que não há

Outro rio d´outro povo
Ele passa mas não passa
É distância

Neste rio que me leva
Outro nome me carrega
Ao rio que não sou

Raimundo Beato

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