Pai nosso de cada dia que estais longe
Santificado seja o vosso sonho
Venha à sós sem vosso reino
Venha vós não vossos donos
Aqui agora como depois
e só agora sem não mas pois
O refrão nosso de cada santo
não mais hoje
alimenta as nossas descrenças
o chão nosso de cada dia
nos dai hoje
Pai nosso de cada dia
e o pão nosso de cada depois?
não dais hoje?
o pão nosso de cada dia
alimenta àqueles que nos tem oprimido
assim na guerra como na paz
o amém nosso de cada hora
nos traí hoje
perdoai à quem nos tem esquecido
Assim agora como depois
Pai nosso de cada dia
Mãe nossa de cada noite
usaram teus nomes com todo desdém
usaram teus nomes como ninguém
Assim agora como depois
Pai nosso de cada dia
Mãe nossa de cada dia
Mãe nossa de cada pai
com o pão vosso de cada depois
alimentaram os ódios de cada agora
oh pai nosso, que estais fora
vem agora
pai nosso de cada dia
porque choras?
não te culpes
não te culpo
nos roubaram
o pai nosso que está no céu
pai nosso que está no céu
nos roubaram
agora e na hora de nossa morte
o além
pai nosso de cada dia
pai nosso de cada pai
dia nosso de cada pai
mãe nossa de cada pai
mãe nossa de cada mãe
perdoaí aqueles que os têm denegrido
amém
agora e na hora da liberdade
agora e na hora de toda a verdade
agora e na hora de toda morte
um nascer
nascer nosso de cada dia
o abrir nosso de cada olho
o olho por olho de cada olho
não mais fure
o amor nosso de cada noite
o beijo nosso de cada madrugada
pai nosso que estás no céu
são tantos filhos de um só pai
tantos filhos pra um só pai?
os pais são muitos
as mães são muitas
os homens tantos
e o amor um só
amor nosso de cada pai
não nos deixais cair sem liberdade
amor nosso de cada mãe
a verdade é teu mais belo mandamento
o lutar nosso de cada dia
o pão nosso de cada utopia
é nosso amém
é nosso além
aquém nosso de cada além
não nos deixai acreditar em qualquer nome
agora e na hora de nossa morte
amém
Raimundo Beato
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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