A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

1 de dezembro de 2011

passatempos e matatempos

passatempos e matatempos eu mentoscuro pervago por este minuscoleante instante de minutos instando alguém e instado além para contecontear uma estória scherezada minha fada quantos fados há em cada nada nuga meada noves fora fada scherezada scherezada uma estória milnoitescontada então o miniminino adentrou turlumbando a noitrévia forresta e um drago dragoneou-lhe a turgimano com setifauces furnávidas e grotando cavurnoso meumenino quer-saber o desfi o da formesta o desvio da furnesta só dragão dragoneante sabe a chave da festa e o dragão dorme a sesta entãoquão meuminino começou sua gesta ciradejo no bosque deu com a bela endormida belabela me diga uma estória de vida mas a bela endormida de silêncio endormia e ninguém lhe contava essa estória se havia meuminino disparte para um reino entrefosco que o rei morto era posto e o rei posto era morto mas niguém lhe contava essa estória desvinda meuminino é soposto a uma prova de fogo devadear pelo bosque forestear pelo rio trás da testa-de-osso que há no fundo do poço no fundo catafundo catafalco desse poço uma testade-morto meuminino transfunda adeus no calcabouço mas a testa não conta a estória do seu poço se houve ou se não se não houve se foi moça ou foi moço um cisne de outravez lhe aparece no sonho e pro cisnepaís o leva num revôo meuminino pergunta ao cisne pelo conto este canta seu canto de cisne e cisnecanta-se dona sol no-que-espera sua chuva de ouro deslumbra meuminino fechada em sua torre dânae princesa incuba coroada de garoa me conta esse teu conto pluvial de como o ouro num flúvio de poeira irrigou teu tesouro mas a de ouro princesa fechou-se auriconfusa e o menino seguiu no empós do contoconto seguiu de ceca a meca e de musa a medusa todo de ponto em branco todo de branco em ponto scherezada minha fada isto não leva a nada princesaminha-princesa que estória malecontrada quanto veio quanta volta quanta voluta volada me busque este verossímil que faz o vero da fala e em fado transforma a fada este símil sibilino bicho-azougue serpilino machofêmea do destino e em fala transforma o fado esse bicho malinmaligno vermicego paixepalava onde o canto conta o canto onde o porquê não diz como onde o ovo busca no ovo o seu oval rebrilhoso onde o fogo virou água a água um corpo gazoso onde o nu desfaz seu nó e a noz se neva de nada uma fada conta um conto que é seu canto de fi nada mas ninguém nem nunca umzinho pode saber de tal fada seu conto onde começa nesse mesmo onde acaba sua alma não tem palma sua palma é uma água encantada vai minino meuminino desmaginar essa maga é um trabalho fatigoso uma pena celerada você cava milhas adentro e sai no poço onde cava você trabalha trezentos e recolhe um trecentavo troca diamantes milheiros por um carvão mascavado quem sabe nesse carvão esteja o pó-diamantário a madre-dos-diamantes morgana do lapidário e o menino foi e a lenda não conta do seu fadário se voltou ou não voltou se desse ir não se volta a lenda fechada em copas não-diz desdiz só dá voltas

Trecho do Livro Galáxias de Haroldo de Campos

Leituras de Galáxias:

http://www.ubu.com/sound/decampos_haroldo.html

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