A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

13 de junho de 2013

Canto para o início da caçada às antas

Voz dos caçadores:

Que lindas as antas!
Que lindas patas!
Que lindos quartos!
Que linda fronte!
Que lindo dorso!
Que lindas unhas!
Que lindo peito!
Que lindos lábios!
Que linda orelha!
Que linda cabeça de anta!

(...)

Viva! Olá, antas, chegamos.
Viva! olá, grande anta, chegamos.
Viva! Olá, dona anta, chegamos.
Viva! Olá, seu anta, chegamos.
Viva! Olá, cria que mama, chegamos.
Viva! Olá, grande anta, chegamos.
Viva! olá, cria a bradar, chegamos.
Viva! olá, antas juntinhas, chegamos.

(...)

Voz das antas:

Sou a anta: meu choro está nas cores do caçador.
Sou a anta: meu choro está no enfeite do caçador.
Sou a anata; meu choro está nas cores vermelhas do caçador.
Sou a anta: meu choro está na branca penugem do caçador.
Sou a anta: meu choro está nas penas do caçador.
Sou a anta: meu choro está no colar do caçador.
Sou a anta: meu choro está na coroa do caçador.
Sou a anta: meu choro está nos cabelos presos do caçador.

As flechas deles são tão belas como um dourado.
As flechas deles são tão belas como como uma flor.
As flechas deles são tão belas como como uma arara.
As flechas deles são tão belas como um gavião.
As flechas deles são tão belas como um gavião.
As flechas deles são tão fatais como como uma cascavel.
As flechas deles são tão belas como um gavião.

(...)

Voz dos caçadores:

Anta, anta, fui eu que te fiz isso.
Anta, grande anta, fui eu que te fiz isso.
Anta, dona anta, fui eu que te fiz isso.
Anta, cria que mama, fui eu que te fiz isso.
Antas, antas juntinhas, sim, fui eu que te fiz.

Anta, anta dona que bela é a tua coroa de gavião!
Anta, anta dona que bela é tua coroa de gavião!
Anta, anta dona que bela é tua coroa de penas!
Anta, anta dona que bela é teu colar de plumas!
Anta, anta dona que bela é tua pintura de barro claro!
Anta, anta dona que bela é teu chocalho na canela!

Mexendo os pés é como voltamos pra casa com nossos arcos.
U-uu
Mexendo nossas coxas é como voltamos para casa com nossos arcos.
U-uu
Mexendo as mãos é como voltamos pra casa com nossos arcos.
U-uu
Mexendo a cabeça é como voltamos para casa com nossos arcos.
U-uu

Cantos Ameríndios (Poesia.br)
Bororo
tradução Sergio Medeiros

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