A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

7 de outubro de 2016

anotações

tentar lembrar dos versos que sonhei
devolver os livros pra biblioteca
pagar as contas
regar as flores ressecadas
tirar o lixo
recarregar o celular
olhar o céu nas noites quentes
desligar a TV antes de dormir
observar os vizinhos vendo TV ao fechar as cortinas
contar as luzes que se apagam após a meia noite
sentir o vento soprar no meu rosto
trocar a senha do cartão
cortar as unhas do pé
terminar de ler aquele livro que falava sobre os bonecos de barro
pagar o analista
andar por entre os dias sem ter pressa
tomar uma média numa birosca do centro
postergar o início da jornada
esquecer meu nome
olhar para cidade como um turista
(olhar virgem de palavras; palavra virgem de dizeres)
me perder nas ruas
me perguntar de onde vieram todas estas pessoas
(quais serão seus nomes e seus sonhos?)
deixar meus passos seguirem seus próprios passos
ficar largado nas esquinas
ser o mendigo que estica a mão esperando pelas moedas velhas
anotar as coisas que esqueço
esquecer as coisas que anoto
apostar na loto
jogar fora os bilhetes que não foram premiados
beber mais água
comer menos besteiras
caminhar mais perto do infinito
caminhar mais certo do incerto

Salvador Passos

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