A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

19 de outubro de 2017

Os partidos

Os partidos
brota flores en mitad de la noche
en mitad de la página
sobre la panza de la muerte
la orfandad lleva un blanco en la frente
E L P O E M A S E A B R E
esa es tu fuerza
(Escrito con um nictógrafo, Arturo Carrera)
Companheira, o poema não pode
desarquivar os prédios telepáticos
em que a mudez fez ninho
a noite infiltra a mecânica do cuco
pela mão intrusa do relojoeiro
gafanhotos moram cartas sem escrita
amarelam os instantâneos
o poema não prova
dos inocentes o olho da lei
a orelha de van Gogh o corpo integral
nós somos os partidos
as solitárias portáteis os fios
que sondam os lábios
contra os aparelhos as células
os partidos
nós somos os partidos
os inocentes são um e o mesmo
a bandeira passando ao pescoço
seus dois substantivos abstratos
sequer havia porões mas limpos rituais
marchinhas tão sebastianas
o hino dos inocentes
o futebol
os inocentes
não perdem a esportiva
companheira, o poema não diz
de quando você caiu por visitar a família
carregando em joelhos frouxos
seu quinhão de guimbas e reuniões
já sem cachos e nome e dentes capazes
de versos e do contrário –
eram suaves nossos dedos
roçando as cordas
antes dos porões
a céu aberto o poema se abre
entre nós
seu enigma e nossos mortos
cantam e cantamos
para não morrer muito
pelo contrário.

Guilherme Gonçalves

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