A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

26 de maio de 2019

Flagrado em atitude poética

atesto através de tanto
para o foro geral
do estado do Rio de Janeiro
que na data do dia 02/04/2016
sábado
pela manhã
eu
brasileiro
natural do rio de janeiro
solteiro
sem filhos
desprovido de documentos que comprovem a veracidade dos meus relatos
caminhava
em trajeto aleatório
na região comercial conhecida como Saara
à deriva de qualquer trajeto competente
(ato impertinente)
com motivação incerta
de cumprir proposta metodológica/pedagógica
cuja finalidade
configurava tentativa experimental de poesia

no decorrer de tal conduta
deparei-me com flagrante infração
ao pé de inscrições
de abandonada edificação urbana
que proclamavam em letras irregulares
"guerreiros não morrem"
notei dois homens que dormiam no passeio público

pude ao fim
e ao cabo concluir
o ato experimental a mim outorgado
unindo a frase
(que de acordo com o código penal danificava o patrimônio urbano)
com os homens que dormiam
(sob a indiferença homologada pelos fóruns (in)competentes)

Sem mais recursos cabíveis
emito meu veredito:

"guerreiros não morrem"
eles dormem na calçada!

Salvador Passos

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