A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

5 de outubro de 2022

Paradoxos

o que escrevo


não são poemas políticos

de protestos panfletos partidos

ou coisa do tipo


não escrevo cartilhas nem

desvendo armadilhas de um mundo

impossível


não faço do poema uma folha em

branco sendo escrita nas normas da

abnt


não introduzo nem desenvolvo

até porque…


quem muito lattes não morde

você sabe disso


quando escrevo sou reboliço

escrevo a vida assim como ela se

faz a hipérbole é eufemismo

paradoxo quebras grama ti

…………………………………………cais


quando escrevo

poema

escrevo como quem

abre um animal

passando a faca

afiada fazendo linha

vertical


eu

quando escrevo o

poema sou o próprio

animal oferecendo o

que há de dentro

pra uma festa

ancestral


escrevo como quem

trabalha e ama e

dança e corre

e tropeça e come e

bebe e bêbado

e emprego e

desemprego


escrevo com quem

salário como quem

noite

como quem vende

como quem o próprio

corpo


escrevo como quem é

cego e enxerga pelos

ouvidos


como quem tem rimas

terceirizadas e todo

dia bate o ponto


final.


como um filho

da puta que rala na

tentativa de também

ser gente

como quem vem de

longe sendo estrada

consequentemente


escrevo

como quem atravessa

a rua na diagonal

na pressa de viver de

se poder chegar mais

longe.


Pedro Bomba


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