Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
BATUQUE NA CALADA batuque na calada ela sai descalçada nem pára na esquina que me esqueceu de chamar pra batucar com ela camela na calada daquela esquina do ano passado no carnaval que era aquela época era caramela purpurina serpentina minha mina agora sai descalçada batuque na calada esquininha mamulenga caçarola girafuda batuque na calada batucada lavada em chão de botequim não falou nada pra mim passou que nem moitola submarina metrôla sambando arrastando confete pra cima dos outros escaldada na madruga dzi croquete que drag rapá (fred mercuri)
batuque na calada descalçada suada sebosa saída da tuba jocasta gostosa batuque na calada tem estudo metida a estandarte eu bamba no poste me olhou de quina fez fantasma nem quis competir a fantasia ela de nu, eu de gnu ela de nu, eu de gnu ela de nu, eu de gnu ela de nu, eu de gnu e ia supimpa no pé agredia minha nostalgia arredia vadia e eu na esquininha do carnaval passado pingando franga espiando minha boa bundiando com outro pileque batuque na calada fedorenta descalçada pra nem carinho eu queria mesmo é ser cavaquinho e tocar porco espinho acorda moinho cavalo mansinho aquaman vem a feira e vou a forra nada me importa agora eu sou de última aurora
que poema é esse que pasma? que ostra é essa que come crosta? que escafandro é esse que sobe fundo? que lontra é essa que alucina? que cume é esse que me cabe? que ilha é essa que navalha? que caule é esse que me colhe? que hora é essa que jorra água? que caça é essa que chega no canto? que manto é esse que amassa o mal?
Quando numa noite chuvosa da rua do Catete Um sobrado lacrimejar secreto cinema com você Salve Leon Hirszman ! Jogue fora a sentinela dos bons costumes E abra uma gota de ridículo no aquário dos teus olhos Deixe de lado o lado das coisas e siga em frente Ou mude o rumo e mande bem Abrace a bomba sem medo Músculos pra quem te quebra
Um corpo de lágrima larga meu gesto Um resto de fibra no rosto rompe O poema trama na língua Busca uma brecha Mas o corpo não se fenda O poema trina O corpo tranca Masca o poema Que luta, quer ser corpo que habita Mesmo este corpo charco Que teme poema dentro
mas e as árvores lá fora, o vento das folhas? a buzina, o assalto, as pernas das putas? vício retificado em cada birosca, em cada esquina? gentileza bufando, o windows 2007, o banco 24 horas? vapor de gasolina, greenpeace? pão de açúcar, dois irmãos, ipanema e copacabana clamando contra os holofotes? a noite rosa tentando escurecer? meu filho detido na porta da vida? meu pai sumido, meu avô morto, o elo perdido? chupa cabra, amigos de circunstâncias, trabalho mal feito? sol poluído, críticas implacáveis? surdez?
A minha água eu carrego comigo. mas e a mágoa do mundo?