A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010
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28 de março de 2014

Raul Seixas e a ditadura militar


Raul Seixas e a ditadura militar
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed791_raul_seixas_e_a_ditadura_militar
Por Vitor Cei em 25/03/2014 na edição 791

O ano de 2013 evoca não apenas os 50 anos do golpe militar de 1964, aniversário que alguns brasileiros comemorarão em 1º de abril, dia da mentira, como também os 25 anos da morte do cantor e compositor Raul Seixas, cujas canções tocam em pontos nevrálgicos dos problemas políticos, sociais e culturais do Brasil das décadas de 1970 e 1980, contribuindo para a construção de uma memória contra o esquecimento da ditadura civil-militar de 1964-1985.

As canções de Raul Seixas revelam uma memória das tensões que ocorriam no Brasil dos anos de chumbo, além de abordar uma discussão premente e indispensável sobre as causas e os efeitos do golpe militar e do processo de redemocratização, com a nova forma de capitalismo que então surgia.

Nos anos 1970, a discografia do artista foi marcada por composições utópicas e afirmativas, cantando em nome de liberdade, mudança e emancipação. Diante do autoritarismo, o maluco beleza se apropriou da ideia de Novo Aeon apresentada pelo ocultista inglês Aleister Crowley para formular o seu próprio projeto de uma Sociedade Alternativa.

A década de 1980 jogou para escanteio a insatisfação radical que existia por trás do desejo utópico presente nas sociedades capitalistas durante as décadas de 1960 e 70. Nesse contexto, a obra de Raul Seixas passou a apresentar um caráter melancólico, de certo modo resignado, marcando o aspecto traumático das suas experiências. Ele passou a abordar temas como frustração, internação, doença e alcoolismo. Entre o tom melancólico e o irônico, a obra do compositor produzida nos anos 1980, apesar de manter acesa a quase apagada chama da utopia, projeta um mundo dilacerado e de valores degradados, manifestando instabilidades, como tudo que é reprimido ou contestado.

Sofrendo com o caos vigente e frente a um mundo esvaziado de sentidos, Raul Seixas foi impelido a recriar novos mecanismos de significação, sonhando com outra ordem, vislumbrando horizontes onde aparecem novas possibilidades – no caso, a utopia de uma Sociedade Alternativa inserida em novos valores socioculturais.

***Vitor Cei é doutorando em Estudos Literários pela UFMG, autor do livro Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo

4 de maio de 2012

O dia em que a terra parou

Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou
Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu saiu de casa, ninguém
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar
No dia em que a Terra parou (Êêê)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou
E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Uuu)
No dia em que a Terra parou
O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar
No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Foi tudo)
No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou
Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei
No dia em que a Terra parou (Oh Yeeeah)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)
No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêêêêêêêê...)
No dia em que a Terra parou (No dia em que a terra parou)

Raul Seixas