A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

15 de julho de 2011

Moby Dick




Cap. 36 - O Tombadilho


(...) “Vingança sobre uma besta que não fala!’, gritou Starbuck, ‘que te atacou simplesmente por um instinto cego! Loucura! Sentir ódio de uma criatura muda, capitão Ahab, me parece uma blasfêmia."


"Escute aqui mais uma vez – uma palavra um pouco mais profunda. Todos os objetos visíveis, homem, não passam de máscaras de papelão. Mas em todos os eventos – na ação viva, na façanha incontestável – revela-se alguma coisa desconhecida, mas racional, por detrás dessa máscara irracional. Se um homem quer atacar, que ataque através da máscara! Como pode um prisioneiro escapar a não ser atravessando o muro à força? Para mim, a baleia branca é o muro, que foi empurrado para perto de mim. Às vezes penso que não existe nada além. Mas basta. Ela é meu dever; ela é meu fardo; eu a vejo em sua força descomunal, fortalecida por uma malícia inescrutável. Essa coisa inescrutável é o que mais odeio; seja a baleia branca o agente, seja a baleia branca o principal, descarregarei meu ódio sobre ela. Não me fales de blasfêmias, homem; eu lutaria contra o sol, se ele me insultasse. Porque, se o sol pode fazer uma coisa, eu posso fazer outra, visto que sempre há uma espécie de jogo lícito, e há o zelo reinando sobre todas as criações. Mas esse jogo lícito não me domina, homem. Quem está acima de mim? A verdade não tem limites. Deixa de olhar pra mim! Mais intolerável que o olhar do demônio é o de um idiota! Ora, ora, enrubesceste e empalideceste; minha fúria se fundiu com tua cólera.” (...)


Herman Melville, Moby Dick (1951)




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