Cap. 36 - O Tombadilho
(...) “Vingança sobre uma besta que não fala!’, gritou Starbuck, ‘que te atacou simplesmente por um instinto cego! Loucura! Sentir ódio de uma criatura muda, capitão Ahab, me parece uma blasfêmia."
"Escute aqui mais uma vez – uma palavra um pouco mais profunda. Todos os objetos visíveis, homem, não passam de máscaras de papelão. Mas em todos os eventos – na ação viva, na façanha incontestável – revela-se alguma coisa desconhecida, mas racional, por detrás dessa máscara irracional. Se um homem quer atacar, que ataque através da máscara! Como pode um prisioneiro escapar a não ser atravessando o muro à força? Para mim, a baleia branca é o muro, que foi empurrado para perto de mim. Às vezes penso que não existe nada além. Mas basta. Ela é meu dever; ela é meu fardo; eu a vejo em sua força descomunal, fortalecida por uma malícia inescrutável. Essa coisa inescrutável é o que mais odeio; seja a baleia branca o agente, seja a baleia branca o principal, descarregarei meu ódio sobre ela. Não me fales de blasfêmias, homem; eu lutaria contra o sol, se ele me insultasse. Porque, se o sol pode fazer uma coisa, eu posso fazer outra, visto que sempre há uma espécie de jogo lícito, e há o zelo reinando sobre todas as criações. Mas esse jogo lícito não me domina, homem. Quem está acima de mim? A verdade não tem limites. Deixa de olhar pra mim! Mais intolerável que o olhar do demônio é o de um idiota! Ora, ora, enrubesceste e empalideceste; minha fúria se fundiu com tua cólera.” (...)
Herman Melville, Moby Dick (1951)
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