A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

7 de outubro de 2011

são só meus sonhos assim sonhados

Na manhã
ainda morna
do frio da noite morta
Tomo como ausente
mais um café
pois eu não quero
chegar mais pronto

ainda sonho
com a noite escura
que já não há

em minha mente
as mil lembranças
da noite ausente
que não mais há

o sonhar sonhos
que não recordo
sonhar aquilo que já não é
sonhar aquilo que não será
e assim mesmo
parado eu e vejo
aquilo que não mais é
aquilo que nunca foi
aquilo que não será
eu paro e bebo o meu café
que não é só mais um café
mas sim os sonhos
que paro e bebo
eu sorvo ausente
o amargo gosto
da noite escura

são tantos sonhos
que já não lembro

há mesmo um sonho a ser sonhado?
há mesmo um ponto a ser pensado?

mas eu só penso o impensável
se paro e bebo
o meu café
pois se não bebo
eu logo chego
e assim chegando
eu logo findo
o que eu sou é já não ser
é estar ausente em meu café

a noite é finda
mas não termina
pois ainda bebo o meu café

só quero o tempo
do meu café
um tempo só
um tempo meu
um tempo nulo
de nada ser
de nada ter

apenas sonhos
sonhandos sonhos
assim sonhados

Salvador Passos

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