A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

29 de dezembro de 2011

Isso é um babaca



brincadeira séria retirada de http://brgag.com.br/

9 comentários:

  1. Será que a segunda de cima para baixo é realmente uma família? O que é preciso para se ter uma família? Dois adultos e uma criança? E as outras, que parecem estar tentando "imitar" aquele modelo, são realmente famílias? Acho que estão tão iludidas quanto o babaca do último quadro.

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  2. Coisas da linguagem marqueteira. Creio que a frase teria sido mais feliz se fosse: "Isto aqui pode ser uma família"

    Evidente que há muitos outros arranjos possíveis, e acho super válida a colocação, afinal fica a pergunta: o que faz uma família ser uma família?

    Nós aqui somos uma família?

    Faliz 2012!

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  3. Obrigado pela resposta. Eu quero aproveitar e fazer outra colocação, sobre o blog em geral. Vocês repostam muita coisa. Será que vale a pena contribuir de tal forma com o fluxo já intenso de informações na net? Eu acharia mais interessante se vocês se concentrassem em posts originais.

    Abraços

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  4. Este blog é onde juntamos pedaços para compor um quadro. É onde desistematizamos para fazer a síntese. É onde conectamos para conectar a nós mesmos. É onde dividimos para nos unirmos. É onde a bosta vai pro ventilador, pra cair como a chuva que pressagia o dilúvio.

    "(...) somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui (...)"

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  5. Eu entendi o método, mas reitero o que eu disse. Qual o sentido disso? Isso é pós-modernismo. Eu preferiria não ser banhado por uma chuva de bosta. O excesso de posts apenas torna insignificante qualquer coisa significante que se diga. Não posso crer que a "alma" de vocês se reduziu a pedaços de cultura. Não creio que isso ressignifica o mundo. Ao falar tudo que vem à cabeça, o que resultado não é sinceridade, mas sim a reprodução acrítica de uma cultura internalizada. Esta é minha opinião.

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  6. Acho super pertinente a colocação do Janos. Meu sonho era transformar este lugar numa coisa original, muitas vezes acabo ficando só na intenção, na esperança de algo, à margem de algo.

    Ok, a repostagem às vezes tem um caráter de descoberta, autoconhecimento, compartilhamento, mas ainda assim não é criação, é plágio.

    Tudo bem que a vida é estar eternamente à margem de si mesmo, então que seja à margem de nós mesmos e não na sombra de outros

    Mãos a obra...

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  7. A discussão é pertinente, mas talvez valha expor o ideal (que é intrinsecamente subjetivo, ok, mas vamos lá...).

    De fato o blog é uma reprodução que não ressignifica o mundo por si só. É uma colcha de retalhos de idéias e significantes que em conjunto não têm coerência intrínseca. Mas quem tem essa coerência isolado em si mesmo? Não estamos à sombra dos outros, somos nós mesmos apenas parte das sombras na caverna, que se fundem, se metamorfoseam em formas distintas, compondo um todo que é diferente das partes.

    Faz parte do objetivo da R.A.U.L não ter um método, mas um amétodo consciente. A questão que se coloca é expor o que nos impacta para o receptor ser tocado, para que pense sobre o assunto, para que crie sua própria crítica.

    É uma contraposição explícita à imposição da crítica espetacularmente globalizada, algo próximo a um pós-modernismo mesmo. Ninguém detém um saber adjetivado (puro, melhor, transcendental, verdadeiro,...). É pretencioso e possivelmente surreal crer que isso existe. E é no saber adjetivado que mora a fonte donde cria-se hierarquia, impõe-se o sonho, reprime-se a liberdade.

    Mas tem algo que foge ao receptor "externo" também, e aí não tem muito jeito. É que nós, que escrevemos na caverna, nos encontramos com frequência na vida real para discutir, sintetizar, significar e propor. Seria utópico crer que outras pessoas possam fazer o mesmo? Seja qual for a resposta, este é o objetivo da R.A.U.L..

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Tomás,

    Não quero ser chato, mas tenho que dizer uma coisa chata. A própria civilização propagou a crença de que não existe verdade absoluta, que falar disso é pretensioso demais e só conduz à dominação. Criou a ideia de que a liberdade só pode existir na indefinição de limites, porque ela mesma quer existir para além dos limites. Ela propagou um ideal de liberdade que nada a tem a ver com a liberdade política. Fez isso para atrair mentes rebeldes, e nós caímos direitinho na armadilha. Mas esse caminho não conduz a nenhum lugar exceto o vazio.

    Com base nessas crenças epistemológicas, o que restou para a resistência foram apenas pedaços desconexos que são unimos nas chamadas "colchas de retalhos", conceito que segue o paradigma sistêmico, moldado a partir de uma analogia com as máquinas. Este modelo é um produto da tecnocultura. A ideia era que dentro da ausência de ordem emergiriam padrões sem relações de poder, uma concordância mútua e natural. Essa crença é constantemente afirmada e reafirmada pela psicanálise. Ela está implícita na ideia de que não somos seres que mudam, mas somos a própria mudança. A mudança perdeu seu sentido finalístico e se tornou um fim em si mesma. Eu defendi essas ideias até perceber que eu estava no caminho errado.

    Eu creio que por trás dessa pretensão de não ter um método existe um método bastante impositivo, que foi criado dentro um processo histórico específico. As premissas desse sistema não são questionadas porque não são consideradas como premissas. Toma-se como verdade absoluta que não se pode falar em verdades absolutas, e que isso não é uma contradição, ou se é, então a contradição é inevitável. Isso é sistema de crenças imune a críticas. É para isso que a civilização está caminhando.

    Não basta tocar o receptor se não há uma mensagem relevante. O conteúdo que eu encontro aqui é bom, tal qual encontro em blogs o Macumba Viking ou o Coletiva-Mente. Só acho que poderia tem um pouco mais de critério e criticidade. Não quero desprezar o valor da iniciativa, e não tenho nada contra vocês, pessoalmente. Nem os conheço. Eu vejo que isso que vocês se propuseram a fazer pode levar a um problema, e não é porque algo foge, mas porque aquilo que se acentua é uma crença de que se diferentes pessoas se unem e colocam para fora tudo o que elas sentem e pensam, ainda que "inconscientemente", por meio da arte ou outras formas de expressão do "inconsciente", vão partilhar suas "almas", e então, mesmo que sejam coisas aparentemente sem relação, vai surgir algo significativo, um mosaico capaz de nos revelar algo importante sobre nós mesmos ou sobre o mundo. Mas a cultura de morte em que vivemos já penetrou no nosso inconsciente, naquilo que vocês chamam de "alma". E ao partilhar isso acriticamente podemos estar partilhando novas formas da cultura que criticamos. Algum sentido pode ser encontrado mesmo na sequência mais aleatória de pensamentos. Nós tendemos a crer que a poesia nos salvará, mas não é a forma poética que importa, e sim o conteúdo.

    Por fim, o maior truque da civilização é propagar símbolos de oposição aos elementos "duros" da dominação. Essa oposição se torna complementar e necessária ao funcionamento da máquina, porque flexibiliza a dominação e a torna mais aceitável. Leiam isso como uma sugestão de um leitor.

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