A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

19 de abril de 2012

Clareza

Esta noite tão silenciosa
Tão escura na sua solidão
E tão clara na minha história

Há uma paz
Um calor que vêm da certeza
Um frio que vêm do não saber
Há um vento sem voz
Uma calma sem motivo
Presente somente na angústia
Há um eu tão presente
Tão nítido de mim mesmo
Há uma noção de que a história acontece agora
Neste exato instante
Enquanto penso se sou mesmo
Enquanto me pergunto o porquê do agora
O motivo de estar

Seria este o ser?

Estar aqui e se dar conta de tudo!
Quase como numa percepção extracorpórea

Aqui estou!

Escrevo agora sobre aquela noite que sequer sei se realmente houve
Se falo dela, não seria motivo para que ela tivesse havido?
Falo em metáforas

Palavras...
É o que nos cabe nesta vida
É o que nos transmite
Somos palavras
Palavras vazias
Cabe a cada ato dar um sentido as palavras que nós somos

Sou palavras
Tudo é palavra
O agora
O depois
O jamais
Somos tudo simultaneamente numa única palavra
Este Deus eterno de nós mesmos
Esta calma
Esta paz
Esta noite somos tudo isso
Eu e você num mesmo instante
Ainda que estejamos sós,
Há uma espécie de nó que nos une
E ainda assim morreremos sem jamais nos conhecermos
Haverá alguém do nosso lado
Um estranho
Um outro
que nos acompanha com admiração e ódio
que acompanha atônito a nós mesmos
Alheio, mas com uma clareza nociva de Cassandra

Salvador Passos

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