A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

25 de abril de 2012

Tudo já foi dito

Todos os livros falam de outros livros, todos os sons de outros sons e todos os sons de outros livros, cores e cheiros. Não se pode dizer hoje sinto saudades sem evocar – mesmo sem conhecer – a saudade que Casimiro sentiu da aurora da sua vida ou tudo aquilo que fica daquilo que não ficou ou o ronco barulhento do meu carro e os erros do meu português ruim. Há em toda saudade traços indeléveis da saudade de Ronsard, de Cecília, de Roberto, de Caio, de Cole, de Gonçalves, de Florbela e de cada um que já cantou sua saudade em altos brados. Este texto mesmo está permeado de outros textos e tentar descobrir o que o permeia é cair numa cilada pois o que o permeia foi permeado por textos já antes permeados e se seguirmos adiante nessa genealogia textual descobriremos que ela é viciosa pois eu também estou a influenciar os textos que cito pois eles passarão a ser para você leitor um texto por mim citado. Assim, mesmo sendo posterior a eles, influencio meus predecessores – Borges principalmente, que já disse tudo isso muito melhor, e antes, do que eu. E pode ser que já o tivessem dito antes dele. Pois tudo já foi dito. Inclusive que tudo já foi dito* .
 
* Posteriormente à escrita deste texto descobri que o trecho “Tudo já foi dito. Inclusive que tudo já foi dito.” também já foi dito, mas não lembro por quem.
 
Gregório Duvivier
 

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