A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
Quem acumula muita informação perde o condão de
adivinhar: divinare.
Os sabiás divinam.
Manoel de Barros
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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1 de outubro de 2015
13 de novembro de 2014
A maior riqueza do homem é sua incompletude.
A maior riqueza do homem é sua incompletude
Nesse ponto sou abastado
Palavras que me aceitam como sou - eu não
aceito
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas,que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas preciso ser Outros.
Eu penso em renovar o homem usando borboletas.
Manoel de Barros
Nesse ponto sou abastado
Palavras que me aceitam como sou - eu não
aceito
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas,que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas preciso ser Outros.
Eu penso em renovar o homem usando borboletas.
Manoel de Barros
4 de fevereiro de 2014
Entrevista Manoel de Barros
Com os 96 anos que se completam este mês, o
viver muito e lúcido é uma dádiva ou em alguma circunstância chega a
ser um tormento?
Não tenho explicações para os 96. Se a gente faz só o que gosta, ajuda. Mas isso é ‘um privilégio’. Só faço inutilezas.
Então, sua opinião de outrora, de que havia certa inutilidade na poesia, continua a ser a mesma?
Continua. A ave é uma inocência inútil.
Mas ela te ajuda a entender melhor o tempo, não?
A poesia não ajuda em nada. Ela é de graça.
Nem te ensinou a viver?
Não me ensinou nada – só me envolveu.
E é possível, afinal de contas, definir o que é poesia?
É o mel das palavras.
Pelo menos aprendemos a entende-la ou continua sendo uma vertente literária misteriosa?
Há de ser misteriosa. Eu também não a entendo. Mistério é mistério.
Seu nome é associado cronologicamente à Geração de 45 e também, devido ao conteúdo, ao Modernismo brasileiro. Como você observa a herança deixada por estes movimentos na literatura atual?
Peço perdão, mas não acho nada. Eu já escrevi: Se o nada desaparecer, a poesia acaba.
A internet parece deixar os novos escritores em processos mais isolados em vez de pertencerem a determinados grupos. Isso é bom ou não em sua opinião?
Toda vez que entra internet – eu acato.
Nesse sentido, a produção literária está cada vez mais individualista ou sempre foi desse jeito?
Sempre. Às vezes, o poeta ouve a harmonia das palavras – outras vezes, só ouve o “batecum gererê”.
Você já declarou algumas vezes sobre o prazer de ter sido criado de forma tranquila no Pantanal. De que maneira essa criação definiu sua produção poética?
Fui criado num lugar onde só tinha água, árvore e bicho. Minhas palavras são raiz. Meu avô abastecia a solidão do lugar.
Mas acredita que infância é uma faixa de idade ou um sentimento de espírito?
Eu moro na raiz das palavras. Eu acho que infância é a raiz das palavras. Minhas palavras há de aparecer misturadas ao tronco, às folhas e às flores. A infância seria então minhas raízes.
Aliás, o quanto que o habitat influencia um escritor e o quanto em anda importa o local onde ele vive?
Acho que tudo importa: ave, água, árvore, brisas.
Outra substância que não a feliz pode preencher a poesia?
Seria assim: depois que os passarinhos recebem as carícias da manhã, eles desvoam livres sobre a tarde.
Você continua escrevendo à lápis. Como encara a modernidade?
Através da linguagem do poeta, reconheço a idade.
Voce pensa na posteridade? Gostaria que daqui a cem anos continuasse sendo um dos nomes mais reconhecidos da literatura brasileira?
Sinceramente penso. Mas tenho todas as dúvidas.
A sua fama de ser recluso é, de alguma maneira, aversão ao “estrelato”?
Sou tímido. Só isso. Um gole de vinho me tira a timidez.
Existe a sua frase famosa: “Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”. A proporção ainda é a mesma?
Acho que sou uma só mentira. Falo do poeta. Sou linguagem.
Dos poetas e romancistas com os quais você conviveu, qual te traz mais lembranças?
Rimbaud é meu mestre. Aqui no Brasil, Guimarães Rosa, Padre Vieira.
O paralelo entre sua poesia e a prosa de Guimarães Rosa está além do neologismo?
Acho que a linguagem do Rosa modifica o mundo. A minha linguagem apenas quer transver a natureza.
E como você analisa a safra atual de escritores nacionais?
Há dez anos eu só releio.
É possível apontar quais são os seus livros publicados que mais lhe agradam?
Eu não releio meus livros, porque tenho tédio. Mas acho que todos são o que alcancei fazer. Quando terminava um, eu ficava feliz. Mas agora, relê-los me dá tédio!
Mas você está trabalhando em algum livro de poesia, não?
Estou tentanto, com pouca força, outro livro de prosa poética.
Existe algum ritual especial para você escrever? Ou a poesia flui sem barreiras?
Poesia é trabalho com palavras.
Aliás, você acredita que o mistério nos completa? Quem é Deus, pelo menos para a poesia?
Deus é verbo. O que faz. O que abastece o meu mistério.
E o que é ser poeta?
Fôssemos talvez merecidos de água, de rãs, de árvores, de pedras, de brisa, de garças. A gente dementava as palavras – porque sempre tínhamos visões. Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas de manhã. Tínhamos desapetite para copiar. Gostávamos de transver a natureza. A gente não gostava de informar, mas só cantar. As palavras não tinham comportamento. Nossa palavra era raiz – vinha de nossas raízes. E moravam na infância sem comportamento. Quem nasce poeta tem que se conformar que é meio parvo, meio tonto e meio cego. Sempre usávamos visões como esta. Eu vi um prego primaveril! Temos de estudar ignorãnças para saber o formato do silêncio e a cor dos arrebóis. A infância sendo a raiz de nossas palavras tem que trazer a inocência com ela. E a palavra incente há de vir enrolada em seus caracóis. Então o poeta poderá cometer todos os erros de linguagem, por que está amparado na liberdade de ser ainda raiz. Temos de desver a natureza para inventar outra. Assim, hoje eu vi uma garça com olhar de oceano. Por tudo isso e por isso que o poeta tem que se conformar que é um tonto ou um parvo! Por fim: o que forma a imagem poética não é O ver, mas o transver.
6 de dezembro de 2012
antíteses
Sei que fazer o inconexo aclara as loucuras.
Sou formado em desencontros.
A sensatez me absura.
Os delírios verbais me terapeutam.
Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso
porque não encontrava um título para os seus poemas.
Um título que hamonizasse os seus conflitos. Até que
apareceu Flores do Mal. A beleza e a dor. Essa antítese o
acalmou.)
As antíteses congraçam.
Manoel de Barros
Sou formado em desencontros.
A sensatez me absura.
Os delírios verbais me terapeutam.
Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso
porque não encontrava um título para os seus poemas.
Um título que hamonizasse os seus conflitos. Até que
apareceu Flores do Mal. A beleza e a dor. Essa antítese o
acalmou.)
As antíteses congraçam.
Manoel de Barros
1 de agosto de 2012
Nossa realidade se desmorona
Li
em Chestov que a partir de Dostoievsky os escritores começam a luta por
destruir a realidade. Agora a nossa realidade se desmorona.
Despencam-se deuses,valores,paredes...Estamos entre ruínas. A nós
,poetas destes tempos,cabe falar dos morcegos que voam por dentro
dessas ruínas.Dos restos humanos fazendo discursos sozinhos nas ruas. A
nós cabe falar do lixo sobrado e dos rios podres que correm por dentro
de nós e das casas. Aos poetas do futuro caberá a reconstrução- se
houver reconstrução. Porém a nós, a nós, sem dúvida-resta falar dos
fragmentos,do homem fragmentado que, perdendo suas crenças, perdeu sua
unidade interior. É dever dos poetas de hoje falar de tudo que sobrou
das ruínas- e está cego. Cego e torto e nutrido de cinzas(...)
Manoel de Barros
25 de julho de 2012
DESEJAR SER
Sei que fazer o inconexo aclara as loucuras. Sou formado em desencontros.A sensatez me absurda.Os delírios verbais me terapeutam.Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso porque não encontrava um título para os seus poemas.Um título que harmonizasse os seus conflitos. Até que apareceu Flores do mal. A beleza e a dor.Essa antítese o acalmou.)As antíteses congraçam.
Manoel de Barros
23 de julho de 2012
Quanto as funções da poesia
Quanto as funções da poesia...Creio que a principal é a de promover o arejamento das palavras, inventando para ela novos relacionamentos, para que os idiomas não morram a morte por fórmulas, por lugares comuns. Os governos mais sábios deveriam contratar os poetas para esse trabalho de restituir a virgindade a certas palavras ou expressões, que estão morrendo cariadas, corroídas pelo uso em clichês. Só os poetas podem salvar o idioma da esclerose. Além disso a poesia tem a função de pregar a prática da infância entre os homens. A prática do desnecessário e da cambalhota, desenvolvendo em cada um de nós o senso do lúdico. Se a poesia desaparecesse do mundo, todos os homens se transformariam em máquinas, monstros, robôs.
Manoel de Barros
1 de junho de 2012
Incompletude
A maior riqueza
do homem é a sua incompletude
Nesse ponto sou
abastado.
Palavras que me
acertam como sou – eu não aceito.
Não agüento
ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis, que vê
a uva, etc, etc.
Perdoai.
Mas eu preciso
ser Outros
Eu penso
renovar o mundo usando borboletas.
Manoel de
Barros
24 de maio de 2012
Assim é que elas foram feitas
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) -
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas -
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas -
passaram essa tarefa para os poetas.
Prefácio – Manoel de Barros
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
dependimentos demais
e tarefas muitas -
os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas -
passaram essa tarefa para os poetas.
Prefácio – Manoel de Barros
27 de março de 2012
9 de fevereiro de 2012
#OcupaRio - Poesia de Manoel de Barros
#OcupaRio - Poesia de Manoel de Barros from Rodrigo Maia on Vimeo.
A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei
Meu fado é o de não saber quase tudo
Sobre o nada eu tenho profundidades
Não tenho conexões com a realidade
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias ( do mundo e as nossas )
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil
Fiquei emocionado e chorei
Sou fraco pra elogios
Manoel de Barros
14 de abril de 2011
Assim é que elas foram feitas
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) –
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
Dependimentos demais
E tarefas muitas –
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
Que as moscas não davam conta de iluminar o
Silêncio das coisas anônimas –
Passaram essa tarefa para os poetas.
Manoel de Barros
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
Dependimentos demais
E tarefas muitas –
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
Que as moscas não davam conta de iluminar o
Silêncio das coisas anônimas –
Passaram essa tarefa para os poetas.
Manoel de Barros
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