A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

3 de setembro de 2013

letras minúsculas silêncios maiúsculos

seria o peso da noite o teu silêncio?
ou a noite é a influência de teus lábios mortos em meu peito aberto?
seria neruda mais uma prova de que fiz tudo errado
ou leminski que estava certo quando disse: distraídos venceremos?
quem traiu ou distraiu?
vagando nos paralelepipedos perplexos de todas madrugadas
sinto o peso das ruas em meu peito
sinto este mundo todo em mim
e um vazio que me deixa vazando pelas altas horas desta longa madrugada

um sentido de eixo perplexo
perdido nas ladeiras
enquanto um cão sem dono dorme um sonho ou dois em seu silêncio

sinto muito tudo isto que não sinto

o silêncio dos sonhos na noite é ensurdecedor
e a solidão da lua na esquina é minha companhia.

Raimundo Beato

Nenhum comentário:

Postar um comentário