E sempre que vier a dor do ser
revirá o último cuspe, sabor de osso
a remoer o sonho
sempre que souber de quem lutara
nas guelras de mal dormidas batalhas
e no rilhar dos dentes se afogara
em meio a poentas e estúpidas mortalhas,
desse modo, e sempre que houver palavra
a ser cuspida por entre tanta ausência
e pelo humano pó de uma qualquer estrada
onde mortos se enovelam pelas selvas
de sementes e feras apagadas,
este estampido cego, o absurdo oco
de que me valho para que, pouco
a pouco, o poema se esvazie do carretel
de fúrias e no tempo perfaça. ovo
ainda mais vazio no vazar da espuma,
bile diária de quem perdeu o sonho.
inútil luz de sol sotoposto, último
agosto de um violino a arder o oculto rosto
Pois sempre inodora a flama que desdenha
de uma aurora que não mais desempenha
Afonso Henriques Neto
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