A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

21 de dezembro de 2015

Sarau do Escritório

VozeRio

 

Desde 2010, integrantes de um grupo de teatro sem sede marcavam suas reuniões nas mesas do Bar da Cachaça, tradicional ponto de encontro de artistas e produtores no bairro da Lapa, região central do Rio de Janeiro. Das conversas no escritório, como o pequeno botequim é conhecido, viram pipocar movimentos como a Primavera Árabe, o 15M, e o Occupy Wall Street, que só estimulavam suas inquietudes.

Vindos de diferentes regiões como Nilópolis, Leblon, Tijuca, Olaria, Senador Camará, Vidigal, São João de Meriti e Glória, pulavam os muros de dois Cieps em Bangu para ensaiar, em meio a usuários de crack, e crianças que surgiam para acompanhar as encenações. Apresentavam espetáculos em praças da Favela Jardim Batan, e criavam metodologias na Cidade das Crianças, no Aterro do Flamengo. Entretanto, ainda faltava uma ocupação definitiva.

Logo após as Jornadas de Junho, decidiram que não poderiam mais viver da mesma forma, reclamando do poder público, do sistema, ou da ausência de espaços para trabalhar com arte, e resolveram arregaçar as mangas.

Surgia assim, em novembro de 2013, o Sarau do Escritório, um espaço de experimentação artística na Praça João Pessoa – a esquina do Bar da Cachaça -, que abre caminho para o encontro de atores e agentes culturais de vários territórios.

Em dois anos de atividades, o evento já recebeu mais de 800 artistas. Gente das artes visuais, da música, poesia, cinema, circo, teatro, intervenção e performance. De um chinês cantando folk em mandarim, a um músico de Recife que faz um som com influências latinas, passando por uma moradora do Centro portadora do Mal de Alzheimer, e que não recitava suas poesias em público há 50 anos. Tudo cabe no maior espaço de co-working artístico do Rio.

O projeto idealizado pelo Coletivo Peneira, é realizado pela Mufa Produções, um coletivo de jovens artistas-produtores que trabalham com pouco ou nenhum recurso financeiro, investindo do próprio bolso, e apostando em lógicas co-produtivas para transformar seus sonhos em realidade.

A saga de quem faz cultura nas ruas do Rio



Realizamos todo mês o Sarau do Escritório com produção de guerrilha: sem patrocínio, sem financiamento, sem nada. E com muita burocracia: precisamos passar por 11 fases e perder várias vidas até chegar ao chefão — o Cartório da Prefeitura — e zerar o jogo, conseguindo o Alvará Transitório.
Realizar um evento cultural em espaço público no Rio é dureza!
Antes de tudo, é preciso ter paciência de Jó, perseverança, engolir vários sapos, ter disponibilidade de tempo e grana.
Desde novembro de 2013, realizamos o Sarau do Escritório na pracinha João Pessoa, aquela da esquina do Bar da Cachaça, na Lapa. O sarau é um espaço de experimentação artística pelo qual já passaram mais de mil artistas. Gente das artes visuais, da música, poesia, cinema, circo, teatro, intervenção e performance. De um chinês cantando folk em mandarim a um músico de Recife que faz um som com influências latinas, passando por uma moradora do Centro portadora de Alzheimer que não recitava suas poesias em público há cinquenta anos.
Tudo isso é feito com uma produção de guerrilha. Sem patrocínio, sem financiamento, sem nada. E com muita burocracia: precisamos passar por 11 fases e perder várias vidas até chegar ao chefão — o Cartório da Prefeitura — e zerar o jogo, conseguindo o Alvará Transitório.
A peregrinação começa um mês antes da realização do evento, que, no nosso caso é mensal — o sarau ocorre na última quinta-feira do mês.
1ª fase: Subprefeitura do Centro e Centro Histórico (rua da Constituição, 34). Lugar onde damos entrada na Consulta Prévia de Eventos. Em tese, vencer essa etapa levaria três dias úteis. Em tese... Porque na real o lance é bem diferente, e esse trâmite (um carimbo e uma assinatura) pode levar mais de vinte dias.
Mas, se fosse só isso, estava suave. Muitas vezes, somos desrespeitados por servidores públicos. Já ouvimos de funcionários as seguintes barbaridades:
  • “Conseguir essa autorização em dez dias é a mesma coisa que querer tirar leite dos meus peitos. Impossível! Não vai rolar.”
  • "Você não está me vendo aqui, eu sou um holograma, e estou de férias!"
  • "Tá achando o atendimento ruim? Mande um e-mail para o subprefeito e reclame!" — sendo que a responsável pelo tal e-mail é a mesma pessoa que sugeriu a queixa.
O mais comum, contudo, tem sido a seguinte frase (e suas variantes): “Ainda não está assinado, volte amanhã.”
Aí você volta amanhã, e pedem para retornar na semana seguinte. Na semana seguinte você volta, e informam que só com o Fulano de Tal, mas o Fulano está na rua. Você aguarda, e ele não volta... E por aí vai.
2ª fase: Com o formulário carimbado, partimos para a Fundação Parques e Jardins (Campo de Santana). O prazo também é de até três dias úteis para a entrega do “nada a opor”. Geralmente eles cumprem o prazo.
3ª fase: Na 5ª DP (Gomes Freire), solicitamos o “nada a opor” do Lapa Presente, aquela polícia “especial” do bairro. Isso leva uns cinco dias.
4ª fase: Não podemos esquecer a Policia Militar, então temos de ir até o 5° Batalhão (Praça da Harmonia) para dar entrada em mais um documento. O prazo também é de cinco dias, mas às vezes demora quinze.
5ª fase: Depois de passar pelas autoridades policiais, vamos até o Corpo de Bombeiros (rua do Senado, 122, 2º pavimento, Centro). Eles levam uma semana para entregar a autorização, mas para isso solicitam uma série de documentos (os mesmos pedidos para grandes eventos):
  • Dois jogos de plantas com “layout” do evento, em escala ou cotada, no padrão ABNT, devidamente assinada por engenheiro ou arquiteto habilitado, para análise e aplicação de medidas de segurança contra incêndio;
  • Pagamento do emolumento DAEM (R$60) em uma agência da rede Itaú;
  • Duas cópias do emolumento DAEM pago;
  • Formulário de requerimento padrão, devidamente preenchido;
  • Xerox da identidade do responsável pelo evento;
  • Xerox do comprovante de residência do responsável pelo evento;
  • Questionário padrão para eventos (a ser retirado na SST/4º GBM), devidamente respondido e assinado pelo responsável;
  • ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) do serviço de elétrica assinado por um engenheiro responsável;
  • Cópia da carteira do CREA/RJ do responsável pela emissão das ARTs que compõem o processo;
  • Certidão de registro emitida pelo CREA/RJ certificando que o profissional encontra-se registrado e com as contribuições junto a CREA/RJ em dia;
  • Nota fiscal de compra ou aluguel de extintores.
Para atender a essas exigências, temos de pagar um engenheiro responsável e alugar os extintores.
6ª fase: Não, ainda não acabou! Ainda falta o “nada a opor” da Secretaria de Ordem Pública (SEOP), que fica no Piranhão (o Centro Administrativo da Prefeitura, na avenida Presidente Vargas).
7ª fase: Solicitamos o ponto de luz à Rioluz (rua Voluntários da Pátria, em Botafogo). Para tal, pagamos uma taxa de instalação de R$ 100 (por ponto), juntamente com a apresentação do ART do engenheiro elétrico.
8ª fase: Pagamos a taxa de consumo de luz na Light (Centro). Geralmente algo em torno de R$ 30.
9ª fase: Para deixar a Pracinha João Pessoa limpa (já que só há duas papeleiras em quatro esquinas) vamos à Comlurb (munidos de uma cartinha + Consulta Prévia), em São Cristóvão, e solicitamos algumas caçambas de lixo e garis para o final do evento.
10ª fase: Inspetoria, um departamento da Prefeitura (Praça Pio X, na Candelária) completamente sujo, empoeirado, com computadores que não funcionam — todas as máquinas da recepção tem um papel colado há mais de seis meses que informa “em manutenção” —, e funcionários que não estão dispostos a trabalhar. Lá, entregamos uma cacetada de papéis, e somos encaminhados para outro lugar...
11ª fase: Vamos ao Cartório da Prefeitura (de novo no Centro Administrativo, o Piranhão), e depois à Inspetoria novamente, que (enfim!) libera o Alvará Transitório, ou o grande prêmio do jogo da produção cultural.
Com pompa e promessas de “desburocratização”, a Prefeitura do Rio lançou em outubro deste ano um aditivo no site carioca.rio.rj.gov.br, o “Carioca Digital”.
É a compilação de todos, ou quase todos (1ª fase, 2ª fase, 6ª fase, 10ª fase e 11ª fase) os pedidos de “nada a opor” em um sistema virtual.
Logo descobrimos que, diferentemente do Rio Poupa Tempo, do estado, os órgãos de outras esferas não estão integrados, assim como a Rioluz e a Comlurb, pertencentes ao município.
Ainda assim, o sistema digital seria um avanço, uma luz no fim do túnel, e um alívio nos bolsos cansados de gastar passagens para lá e para cá, em busca de um alvará. Seria, não fossem dois motivos simples:
- Quem diz se o nosso evento de rua pode ou não acontecer é a Secretaria de Ordem Pública (SEOP), que, por sua vez, é comandada por um capitão da Polícia Militar, e não pela Secretaria de Cultura (????).
- Ainda há o fato de a liberação do Alvará Provisório estar demorando mais de dois meses. Sim, mais de dois meses. Um tempo superior ao sistema antigo, analógico, de papel.
Nós, por exemplo, estamos com dois pedidos de Consulta Prévia (um para dezembro e o outro para janeiro) atravancados no sistema desde outubro. A justificativa:
“Somos dois funcionários para avaliar mais de três mil pedidos de toda a cidade. Estamos trabalhando depois do expediente, durante a madrugada, aos finais de semana... Tudo isso para tentar dar conta, mas está complexo”, desabafou um dos funcionários do setor da SEOP/Carioca Digital.
Vale ressaltar que, enquanto o Alvará Transitório não é liberado, não podemos dar entrada na Polícia Civil, Polícia Militar, Bombeiros, Rioluz e Comlurb, já que não existe mais papel. É a desburocratização prestando um desserviço.
Ah: com isso, ganhamos também mais uma taxa obrigatória. A TUAP (Taxa de Uso de Área Pública), no valor de R$ 13,60.
Após a “análise dos técnicos” e com o Alvará Provisório deferido, temos que passar no Piranhão para pegar esse documento (pois o sistema ainda não permite imprimir em casa com a assinatura digital) e, em seguida, percorrer toda aquela peregrinação: 3ª fase, 4ª fase, 5ª fase, 7ª fase, 8ª fase e 9ª fase.
Um pequeno detalhe: Mesmo durante o processo on-line –- antes da liberação do Alvará Transitório e do pagamento da TUAP —, já tivemos que passar na SEOP algumas vezes, pois o sistema estava bugado. Como o telefone está sempre ocupado, só conseguimos resolver o problema presencialmente.
A real é que nós do Sarau do Escritório — e a grande maioria dos projetos de rua que acontecem no Rio de maneira independente –- estamos num limbo entre os eventos de pequeno porte (aqueles contemplados pela Lei do Artista de Rua) e os megaeventos milionários.
Não existe meio-termo. É um não-lugar. Um não-lugar que nos leva ao cumprimento das mesmas exigências que um Rock in Rio, ou de um Réveillon de Copacabana para dois milhões de pessoas.
Eis um resumo dos gastos que temos com burocracias para cada Sarau do Escritório:
  • Transporte (entre idas e vindas ao longo de um mês em diversos órgãos públicos) - R$80,00
  • Xerox (de todas as autorizações, documentos, certificados etc.) - R$15
  • Bombeiros (DAEM) R$60
  • Engenheiro (para preparar a planta baixa da praça, acompanhar e se responsabilizar por todos os trâmites relacionados à manutenção elétrica do evento) - R$300,00
  • Aluguel de três extintores de incêndio - R$150,00
  • Rioluz (instalação do ponto de luz) - R$100,00
  • Light (consumo de energia por edição) - R$30,00
  • TUAP (Taxa de Uso de Área Pública) - R$13,60
TOTAL: R$ 748,60
Esses são apenas os custos burocráticos. Some a isso o aluguel de equipamento de som, impressão de material para as exposições, divulgação, transporte de objetos do cenário y muchas cositas más...
A publicidade da Prefeitura alardeia: "A cidade que queremos ser não é feita daqueles velhos cartões postais, mas por quem ocupa as suas praças.” Então, alguma coisa está fora da ordem.
Enquanto isso, a vida segue, para quem persiste em fazer produção cultural nas ruas do Rio. No nosso caso, sem patrocínio.

12 de dezembro de 2015

Working class hero



As soon as you're born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

They hurt you at home and they hit you at school
They hate you if you're clever and they despise a fool
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

When they've tortured and scared you for twenty odd years
Then they expect you to pick a career
When you can't really function, you're so full of fear
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

Keep you doped with religion and sex and TV
And you think you're so clever and classless and free
But you're still fucking peasants as far as I can see
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like the folks on the hill
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

If you want to be a hero, well just follow me
If you want to be a hero, well just follow me

Pedalada


Imprensa Livre


Ocupa


Odyr

#KiyiyaVuranInsanlik (humanidade levada com as águas, em turco)



27 de novembro de 2015

c:/polivox.doc


“Para mim tudo se desintegrava em partes, estas partes em outras partes; nada mais seria abarcado por uma idéia só. Palavras isoladas flutuavam à minha volta; elas se solidificavam em olhos que me encaravam e dentro dos quais eu era forçado a olhar de volta-redemoinhos que me davam vertigem e, girando incessantemente, me levavam para dentro do vácuo”
     
                                                                   Hugo von Hofmannsthal
                                                                    
                       “corte as linhas de palavras”              
                                                                   William S. Burroughs
 “Um pouco de ruído, o menor elemento do acaso, transforma um sistema ou ordem em outro”
                                    
      Michel Serres

On-line.  Psiu: “Épico é poema


contendo história”.  Demais.
“E se um Plano de Saúde
Pudesse expressar
sua
Individualidade?
Você não é como todo mundo.
Sua individualidade é algo que gostamos
e entendemos. Também sabemos que
seu seguro tem que ser
importante para você. Ele também
é importante para nós.      Enquanto
isto,                   flores
falsas, carniça, neve
negra. “Eu não procuro o que eu acho”.
Linguagem escapa:
- Desde quando oceano
É Céu? Acesso negado. 
PARA MUITOS, TEMPESTADES ALÉM DA COMPREENSÃO /“...viram tornados
jogarem seus carros como brinquedos e vacas voando nos quintais…”. Este, o Sonho Americano. Pétalas de chuva, postal estranho,
bilhete em esperanto
obscuro -  do Além: Cézanne: “A
paisagem pensa a si mesma
através de mim. Eu sou sua consciência”. Livros mudos, o vermelho das
árvores se alastra em frases falsas, e o deserto devora o tempo.
Shift.
O que faz de Dell
a escolha ideal? Dell
sempre almeja lhe oferecer
a perfeita combinação de potência, performance,
e preço. QuANto MAis pERtO o-
LhAMos PaRa UMa pAlAvRra
mAioR a DiStâNciA cOm QuE ElA
nOs eNCara. Todos os direitos reservados @
Deixe sua mensagens após o bip.
Cerejas amargas: antes, flores.
“Se um leão pudesse falar
ele não entenderia o que rugimos”.
Ideologia é linguagem vestida de transparência.
Megaugnil : devagar eu te direi quem és. Remédio ou veneno.
O homem não é contemporâneo de sua origem.
Aumentemos o volume da linguagem.
Esta página está em construção. Zip! Ninguém escuta pensamentos como aqui. Agora
você não precisa mais de mim, agora forma
é uma extensão do conteúdo. Bapel.
Nadar
nesta espuma, virgem verso, pampa nevado com paredes negras.
“Poesia é a suprema realidade virtual, menina”.
Mundo. Mudo. No qual entramos des-
nudos.
Assim termina o mundo
não com um tiro
mas sem um sentido.
A resistência dos materiais. “Isto
vai doer mais em mim do que em você”.
A frase está fora de foco.
“Ao dissecar, a matamos”.
“Dor é impossível de se descrever”
A dança do duende entre a floresta de signos.
“Se sempre escrevessemos a não ser
o que já foi entendido
o campo do conhecimento
nunca seria extendido”. O tempo virou, esta
página-(de pangere, prender, fixar, ligar)-manhã. Mesmo porque,
 “uma dúvida que duvidasse de tudo não seria mais
uma dúvida”. E
o que muda depois de tudo. Muda,
depois de tudo. A dança do duende
entre a floresta de signos. Madame Yahoo,
não há nada épico em acender um cigarro:
ou talvez sim, como o gesto heróico de
abrir a porta e retirar o lixo. “O difícil é conseguir
saltar o muro”. Esta linha de mentira.
O hímem está testando a memória extendida.
Um banho quente é a conquista do Egito.
Quem disse isso?  Fui
teu amuleto no meio do tumulto:
te protegi da guerra, deusa -
Eu era a lâmina afiada na mão de Thoth
no meio do tumulto.
A queda da caneta no carpê é uma aurora de outono.
Céus de cristal líquido.
Limalhas de ferro formam uma rosa imantada.
Restos de conversas são nossas profecias.
Um  beijo é a conquista do Egito.
A cada manhã, é preciso remexer o cascalho para alcançar,
debaixo dele, de repente,
a semente viva e quente.
Vox, Vak, vácuo. Vai  ver, o homem
não é contemporâneo de sua origem.
A miragem não é contemporânea de sua imagem.
Aumentemos o volume da linguagem.
Nas matinês americanas nos ensinam a assistir um filme
no velho estilo: em silêncio.
Com tempo, nos tornamos
Invisíveis:
Sub verborum tegmine vera laten, ou
por trás do véu das palavras, a verdade. Vozes nas sala da Mente? Mas acordamos ao mesmo tempo para nós e para as coisas.
“A trilha árdua da aparência”.
O OLHO SE ABRE.        O OLHO SE ABRE  E SE DIVIDE.
Ar, articular,
 como um bicho saindo de seu ninho.
O cinema grotesco nos ensinou
a configurar uma ação, instante negro, não reflexo
de realidade.
Uma maçã flutua na luz: este seu sentido
(“aceitamos cartões de crédito”)
que se movimenta como quem respira, imediato,
enquantO mira espirais de tempOs, arOs de fumaça.
Não há como escapar.

Rodrigo Garcia Lopes