A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

23 de outubro de 2013

Os limites do neodesenvolvimentismo



Primeiro, como salientamos nos últimos artigos, partimos da hipótese de que neodesenvolvimetismo não é neoliberalismo. Na verdade, neodesenvolvimentismo diz respeito a outro padrão de desenvolvimento capitalista no interior da temporalidade histórica do capitalismo global ou bloco histórico do mercado mundial sob o regime de acumulação flexível predominantemente financeirizado. Na verdade, o neodesenvolvimentismo no Brasil nasce da crise do modo de desenvolvimento neoliberal no Brasil nos primórdios da década de 2000, embora ele próprio – o neodesenvolvimentismo – não consiga romper o bloco histórico do capitalismo neoliberal que deu origem a nova forma de Estado politico do capital (Estado neoliberal), desenvolvida nos últimos trinta anos, tanto no centro quanto na periferia capitalista desenvolvida. Nesse caso, o neodesenvolvimentismo no Brasil é uma variante do desenvolvimento capitalista possível na periferia capitalista inserida na macroestrutura do sistema do capital no plano mundial.

No Brasil, na década de 1990, a frente politica do neoliberalismo vitoriosa nas eleições de 1989 (com Fernando Collor de Mello) e depois, em 1993 (com Fernando Henrique Cardoso), adequou o capitalismo brasileiro à nova ordem burguesa global, constituindo os pilares do Estado neoliberal no Brasil, o Estado politico do capital adequado à nova temporalidade histórica do capitalismo global ou bloco histórico da acumulação flexível de cariz predominantemente financerizado (a frente política do neodesenvolvimentismo ao assumir o governo em 2003, incapaz de alterar a forma do Estado neoliberal, organizou seu plano de governo no interior da nova forma estatal construída na década anterior).

Na década neoliberal no Brasil, ocorreu um terremoto social que alterou não apenas a morfologia social do trabalho no Brasil, mas também o perfil da grande burguesia brasileira. Nesse período, no bojo da adequação à ordem burguesa global, consolidou-se um novo bloco de poder no capitalismo brasileiro, a partir do qual se articulou inicialmente a frente politica do neoliberalismo, com os partidos PSDB-PFL, que durante quase dez anos, governaram o Brasil (1994-2002).

É importante esclarecer que bloco de poder não se confunde com frente politica tendo em vista que frente politica é a articulação de classes, camadas, frações e categorias sociais de classe, que apoiam, por exemplo, um governo e sua estratégia politica.

Por exemplo, o bloco de poder neoliberal é o bloco das classes dominantes (com suas camadas, frações e categorias sociais) que mantém o poder do capital nas condições do capitalismo global. A espinha dorsal do novo bloco de poder no Brasil constituído na década neoliberal é constituída pelo capital financeiro que possui vínculos orgânicos, por exemplo, com o agronegócio, empreiteiras, grandes corporações industriais, grandes empresas de distribuição e serviços de telecomunicações, inclusive fundos de pensões sob gestão estatal. Deste modo, o bloco de poder neoliberal constitui uma “oligarquia financeira” que encontra no aparato do Estado neoliberal, um veículo privilegiado de articulação sistêmica (a frente política do neodesenvolvimentismo, que é governo, não conseguiu romper com o poder dos grandes grupos financeiros).


Para mais:http://blogdaboitempo.com.br/2013/10/22/os-limites-do-neodesenvolvimentismo/

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