A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

17 de outubro de 2013

Poema atravessado pelo manifesto sampler


POEMA ATRAVESSADO PELO MANIFESTO SAMPLER from Ramones on Vimeo.


I

invadir o corpo do mundo
aceitar
o
caos
atuar no esvaziamento das certezas

não copie e cole
se aproprie e recrie a realidade
use seu imaginário
carta de alforria para um primeiro
ato

nem todo início é um prólogo


II

acredite
você não é original
certo
apenas a pureza de um
mito

a pressão não
é
simples
pratique
sequestro saque captura
de palavras

não comunique aos pais
toda palavra é
órfã

não
existem palavras
finais
toda palavra
é
começo

pirata capitão buquineiro
promessa de geração
00
remix de ideias
souvenirs
alô wally
ah se você ainda estivesse por aqui

não escrever sobre
não descrever ou reproduzir
o mestre
produzir escrever produzir

eu
estou menino
em suas palavras
não chame meu nome em vão
salte a pedra
no caminho



III

seja atravessado pelos poetas que lê
aniquile as referências
um coletivo de enumerações

faça
literatura sem agradecer a raduan
ou adalgisa
faça
você seu retrato
enquanto jovem

encontre suas ideias
a partir de
apesar de
(lembra dela?)
apesar
de

invasor
ao combate
quais os limites
do texto?
autores originais
não mais

viva de uma forma política
crie assim
invada a cidade

invente
coloque tudo para dentro
para depois respirar
sentir e notar

você
eu estou colocando
pra dentro
o chocolate
de tanto olhar
ler



IV

propriedade coletiva
eu sou vocês
sou eu nos
reconhecemos nas palavras
lidas e não ditas e não lidas
também
percebe
posse-criação

os mentirosos
são dignos
do amor

deus
em latim é fingidor
da via
criação
escreva tudo
com essa mão nervosa
escreva escreva
as vozes que habitam
em ti

no papel
selvagem caótico
esse texto não é
seu nem meu
esse texto pertence
apenas

ataque
perigo ritmo
sem receio da autocrítica
se aproprie dos rótulos
para destruí-los

plagiador sabotador
coroe sua intimidade
perturbe
seus pares
não os deixem


presos


no século passado
o aprendizado
as vanguardas e a tradição
modos de usar
sua língua

esqueça os ismos
a divisão didática
atravesse
seja tático


V

cale
a boca de quem
não se posiciona
no espaço
torne seu o que é
do outro
provoque todas
as encenações institucionais
modo de fazer
aprender fazendo
seu trabalho
diário

manipule a história
alheia escreva a nossa

invente
seja autor inventor
o leitor
deve reconhecer seus passos
caminho percorrido
está
tudo no passado

o futuro se tropeça
com ele

a poesia se esfrega nas coisas
percebe?
ao acordar veja as coisas
como
as coisas todas

espalhadas livros jornais
mesquinhez de sua relação
amorosa

você pode abrir sulcos na escrita
fluxos
corpo é texto
é corpo

emancipe sua escrita
deixem falar mal
amanhã
estão todos lambendo seu rabo

discuta apenas sua
existência
na palavra

leia
escreva
como quem atravessa
o leitor
subverta


transforme o meio com a palavra
transtextual
células trans
transexual
exu contemporâneo se aloja no outro
passado tomando o presente
de cavalo



VI
ultrapasse
a si mesmo
não trapaceie é fatal

amadureça
a experiência
seja através
dos outros

a verdadeira história da literatura
uma história de ladrões

experiência
número infinito
o homem forte vive
lembre dos outros

entenda
as relações de força
você ouviu de um artista de plástico
vale tudo só não vale
qualquer
coisa

as coisas negras são
tão bonitas
menos o cavalo

beba
ice tea light
com limão e gelo
lipton com muita cafeína
no cafeína
não imite
escreva a partir
de

dobre a linha da folha
dobre-se
você sabe que o papel
só pode ser dobrado
sete vezes
hum
modo de
de experimentar
os espaços
nascemos com os mortos
sempre


o fim é o meio
novo desvio
novidade sem novidade
caminho literário cercado de música
ouça
não é preciso citar
não é

faça
teses para corrompê-las
o texto tem sentidos
não
sentido
fazer ao ler
a linguagem não indica sentido
mas possibilidades
as palavras
penetram em você
ou não

use todos os guardanapos
do café
com leite e biscoito de maisena
(compensando os 10% de mal atendimento)
ganhar força com as ideias


pense no tempo
em nosso tempo
tempo
tempo
tempo
tempo

silêncios
incorporados na escrita
esquecimento como aprendizado da escritura
invasão pela leitura

esse poema não tem
fim
é o meio


Ramon Mello

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